Convênio oferece oportunidades para estrangeiros cursarem graduação no Brasil
O Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. Desenvolvido pelos ministérios das Relações Exteriores e da Educação, em parceria com universidades públicas e particulares, o PEC-G seleciona estrangeiros entre 18 e 23 anos, com ensino médio completo, para realizar estudos de graduação no País. Ao longo da última década, foram mais de 6 mil selecionados e só na UFSC já se formaram 254 profissionais.
No momento, a Universidade está recebendo 87 alunos, em sua maioria vindos da África ou América Latina, que cursam gratuitamente a graduação. São selecionadas, preferencialmente, pessoas inseridas em programas de desenvolvimento socioeconômico acordados entre o Brasil e seus países de origem. Além de aprender ou aperfeiçoar o português, os alunos têm o compromisso de regressar a sua nação e contribuir com a área na qual se graduaram.
Cada estudante estrangeiro vem de realidades distintas e culturas diferentes, mas o ponto em comum entre eles é a vontade de conquistar o diploma de nível superior em uma instituição de qualidade.
Para o paraguaio Derlis Dário, a paixão pelo samba só fez crescer a vontade de morar e estudar no Brasil. O estudante, que está concluindo a graduação em Jornalismo na UFSC, conheceu o ritmo brasileiro aos 12 anos. Com a música, aprendeu sobre a cultura brasileira e ganhou um incentivo para aprender o português.
Ele veio morar em Florianópolis em 2010. “Não me sentia um estrangeiro, já vim pra cá com a cultura brasileira dentro de mim”, garante. Outro motivo para o paraguaio buscar o Brasil foi o valor das mensalidades nas universidades de seu país que, de acordo com ele, eram muito altas.
Apesar de ter passado por momentos difíceis enquanto participava do Programa – sua irmã faleceu de câncer de mama no final de 2011 –, Derlis diz que só tem a agradecer pela oportunidade. Agora, planeja seu TCC, que será sobre os brasileiros que moram no Paraguai.
No Timor Leste, o Programa funciona de forma diferente. O Governo realiza um concurso no qual são concedidas bolsas para os cidadãos estudarem no Brasil ou em Portugal. Para receber o auxílio, os timorenses acordam que, dependendo do tempo que ficarem estudando fora do país, ficarão o dobro do tempo trabalhando em algum órgão público. Por exemplo, quem estuda quatro anos em outro país, na volta, trabalha oito anos em algum órgão governamental.
Os timorenses Mário Menezes e Azita Valente também foram cativados pela ideia de cursar gratuitamente a graduação. Mário estudava Engenharia de Petróleo em sua terra natal, mas teve que parar devido ao valor das mensalidades. Aqui no Brasil, o estudante escolheu estudar Arquivologia, pois, em seu país, há uma organização do Estado que arquiva documentos antigos, mas existem poucos profissionais dessa área. Azita Valente está cursando Engenharia Química e explica que o curso ainda não existe em seu país. Há apenas o curso de Química, sendo que só três pessoas têm mestrado na área. “Quando voltar, quero implementar algo de bom, que traga vantagens para meu país, minha família e minha vida”, diz Azita.
Os estudantes explicam que esta foi a forma que o Governo encontrou de incentivar o aprendizado do português, língua oficial do país, mas que a maioria da população não fala. Cada estudante recebe uma bolsa de cerca de R$ 1.500 por mês para se manter no país estrangeiro. Além dos dois timorenses da Graduação, a UFSC está recebendo doze alunos de Pós-Graduação, pelo Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG).
Tosin Ayodeji Ayodele é mais um estudante que conseguiu realizar o sonho da Graduação pelo PEC-G. O nigeriano sempre sonhou em ser médico. Se encantou com a profissão vendo o tio, que é psiquiatra, atender os pacientes no hospital de sua cidade. Aos 17 anos, Tosin conseguiu ser aprovado no teste para o curso de medicina de uma universidade na Nigéria, mas, devido a uma lei que impede menores de 18 anos de ingressarem na universidade, não pode frequentar o curso.
Depois disso, não conseguiu mais passar no vestibular de medicina em seu país. Veio morar no Brasil, onde iniciou o curso de Fisioterapia em uma universidade particular. “Mas não era isso que eu queria”, explica. Foi quando ouviu falar do PEC-G. Realizou o teste de proficiência em português e foi aprovado na seleção do Programa. Agora, Tosin cursa medicina na UFSC e acredita que o fato de conhecer uma cultura diferente trará um diferencial para sua formação. “Em minha futura profissão vou precisar saber lidar e me relacionar com pessoas de personalidades distintas”, comenta o nigeriano. “O PEC-G está me proporcionando uma oportunidade que eu não tive no meu país”, diz.
Gabriela Dequech Machado/Estagiária na Assessoria de Imprensa do Gabinete da Reitoria /UFSC
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