Professores analisam impacto da descoberta do bóson de Higgs

04/07/2012 14:28

 

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A imagem demonstra a colisão de prótons que daria origem ao bóson de Higgs - Foto: AFP / Fabrice Coffrini

A professora Débora Peres Menezes, do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina, disse que a descoberta do bóson de Higgs, partícula subatômica cuja detecção era perseguida há décadas pelos cientistas, corrobora o que já se esperava, ou seja, a evidência de algo responsável pela existência de um campo que permeia todo o universo. A novidade foi anunciada nesta terça-feira, em Genebra, pelos físicos do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), maior acelerador de partículas do mundo, localizado num túnel subterrâneo de 27 quilômetros de extensão entre a Suíça e a França.

 

O bóson de Higgs é a única partícula prevista pelas teorias da física que ainda não havia sido detectada pelos laboratórios. Batizado, para horror dos cientistas, de “partícula de Deus” (nome dado pelo físico Leon Lederman, ganhador do Nobel de 1988), ele teria sido o responsável pelo surgimento da massa das partículas e, portanto, do próprio universo. Mesmo assim, a professora diz que ainda falta confirmar se a descoberta é mesmo a partícula buscada pela Ciência, o que pode ocorrer no final de julho, quando o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares deverá divulgar, após minuciosas análises, dados mais completos sobre o assunto.

 

No Grande Colisor de Hádrons os cientistas provocam a colisão de prótons, quebrando-os em partículas ainda menores a partir de um processo que libera grande quantidade de energia. Para detectar o bóson de Higgs, eles precisaram literalmente “olhar” para dentro dos átomos, onde há partículas de alta, pouca ou nenhuma massa. Ali, segundo especialistas, se dá o encontro da cosmologia com a física quântica – união ancestral ocorrida frações de segundo após o Big Bang que engendrou uma “sopa” de partículas que esfriou, se expandiu e deu origem a tudo o que existe hoje.

 

Apesar da importância da descoberta anunciada ontem, professores da UFSC são céticos quanto ao impacto do bóson de Higgs. Para começar, ainda não se tem convicção absoluta de que a partícula descoberta confere com as expectativas dos pesquisadores. “Tudo está relativamente bem determinado, mas novas experiências é que darão a certeza que os cientistas procuram”, diz o professor Celso de Camargo Barros Jr., também do Departamento de Física. “O efeito seria maior se a partícula não fosse encontrada, porque então o Modelo Padrão teria que ser revisto”, reforça Débora Menezes. O Modelo Padrão e o conjunto de teorias explicam, em síntese, do que é constituída a matéria.

 

Débora também descarta a possibilidade de aproveitamento da descoberta para gerar tecnologias e produtos de uso cotidiano, como ocorreu com a web e o GPS. “A ciência básica nunca se presta a isso”, afirma. Ela cita a demora de quase um século na utilização do efeito fotoelétrico, descoberto em 1905, sobre o uso dos coletores solares, que ainda hoje têm pouca aplicação prática. É mais provável que outras descobertas proporcionadas pelo LHC tenham efeito maior que o da partícula recém-detectada pelos cientistas.

 

Mais informações com o professor Celso de Camargo Barros Jr., também do Departamento de Física, pelo telefone 3721-9234. A professora Débora Peres Menezes entra em férias nesta quinta-feira.

Por Paulo Clóvis Schmitz/ Jornalista na Agecom
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