Pesquisador questiona postura da diplomacia brasileira no comércio internacional

03/07/2012 14:49

Pesquisador Ivan Tiago Machado Oliveira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)

Embora tenha por práticas priorizar as negociações multilaterais e blindar os setores mais consistentes da economia, o Brasil não sabe muito bem onde quer chegar com sua política comercial externa. A afirmação é do pesquisador Ivan Tiago Machado Oliveira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em palestra ministrada na manhã desta terça-feira no auditório do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da Universidade Federal de Santa Catarina. O evento fez parte do seminário “Os Rumos da Política Externa Brasileira”, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais, que começou ontem na UFSC.

Se a abertura unilateral promovida pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello no início dos anos 90 fez as empresas se internacionalizarem, o Itamaraty manteve a estratégia de dar mais proteção para a indústria do que para agricultura, por exemplo. Mesmo assim, a indústria brasileira é pouco competitiva em nível global. “Ainda somos um país fechado”, constata o pesquisador. Adotar negociações bilaterais implicaria em riscos que o governo não quer correr, pela necessidade de reduzir tarifas e se submeter a um ritmo de adaptação de trocas que é maior do que nas operações com parceiros múltiplos, como ocorre hoje, majoritariamente.

Um exemplo do pouco tato da diplomacia brasileira em alguns temas foram as negociações envolvendo a criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Só dois anos depois do começo das conversações entre os países é que o setor privado acordou para as transformações que estariam em curso. A ALCA não deu certo, mas deixou claro que a política externa do país é uma política pública. Tanto que, mesmo com as discussões que ocorrem no nível dos ministérios ligados ao comércio exterior, é no Itamaraty que as decisões são sempre tomadas. “Nossos acordos são mais políticos do que econômicos”, resumiu o palestrante.

Ivan Machado Oliveira ressaltou que o Brasil e seus vizinhos apostaram no Mercosul, mas, como mostra a crise da União Europeia, a consolidação dos blocos econômicos é um processo lento e de resultados incertos. “O euro prova que a integração não é tão simples assim”, diz ele. Hoje, há novos componentes em jogo, com o fenômeno chinês e o recrudescimento do protecionismo em algumas regiões. Por outro lado, o Brasil, junto com a Índia, a China, a Rússia e a África do Sul, ganhou mais força no tabuleiro decisório do comércio mundial.

Outras informações pelo e-mail ppgri@contato.ufsc.br.

Por Paulo Clóvis Schmitz/Jornalista da Agecom – Foto: Henrique Almeida/fotógrafo da Agecom

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