Semana de Geografia debate a formação econômica catarinense

18/06/2012 15:22

As adaptações que se viram obrigadas a fazer as indústrias catarinenses em função dos problemas cambiais e do aumento da competição externa foram abordadas na manhã desta segunda-feira pelos professores Hoyêdo Nunes Lins, do Departamento de Economia e Relações Internacionais, e Isa de Oliveira Rocha, vinculada à Udesc e lotada na Secretaria de Estado do Planejamento, na primeira etapa da XXXIII Semana de Geografia, promovida pelo Departamento de Geociências do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da Universidade Federal de Santa Catarina.

Professor da UFSC, Hoyêdo Nunes Lins, falou sobre o dinamismo econômico catarinense no contexto brasileiro

Hoyêdo Lins situou o tema da conferência – Visões sobre o Dinamismo Econômico Catarinense – no contexto brasileiro, ressaltando o impacto da abertura comercial gradativa patrocinada pelo governo a partir da gestão do presidente José Sarney, nos anos 80. Os diferentes planos de estabilização que culminaram com a criação do Real, em 1994, tiveram como pano de fundo o fenômeno da globalização, que aprofundou o caráter mundial da atividade econômica e representou uma soma de possibilidades e desafios para a indústria de Santa Catarina.

O Estado sofreu com o aumento das importações, o sucateamento do segmento de autopeças promovido pelas grandes montadoras, as oscilações da integração regional (Mercosul) e a concorrência dos produtos asiáticos. A redução do custo fixo das indústrias (as têxteis, sobretudo), a terceirização da produção, a criação de cooperativas de trabalhadores e, no caso da cerâmica, a incorporação da tecnologia de ponta europeia foram algumas das ações que permitiram adequações pontuais e saltos de qualidade que melhoraram a competitividade das empresas de duas décadas para cá.

“A Hering passou a encomendar produtos na China, enquanto a indústria moveleira de São Bento do Sul e Rio Negrinho encontrou espaços no mercado do Hemisfério Norte”, afirmou o professor. Ao mesmo tempo, a região de Florianópolis passou a investir da produção de softwares, a vitivinicultura e o turismo ganharam fôlego na Serra e, no Extremo-oeste, que já contava com a força das agroindústrias, surgiram propostas inovadoras como o consórcio intermunicipal de fronteira, que consiste no planejamento integrado envolvendo as cidades de Dionísio Cerqueira,em Santa Catarina, Barracão, no Paraná, e Bernardo de Irigoyen, na Argentina.

Para Hoyêdo Nunes Lins, o que falta hoje ao Estado é capacidade de planejamento, retratada na ausência de instituições que, como ocorre em outros Estados, pensem o desenvolvimento local. Eles também questionou a utilidade das Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs), que “foram esvaziadas pela concentração das decisões na Capital”. Essa soma de fatores vem inchando a faixa litorânea, em detrimento das demais regiões, que são fragilizadas em sua capacidade de regular as questões locais.

A professora da UDESC, Isa de Oliveira Rocha, fez um relato histórico da formação econômica catarinense

Sem planejamento – A professora Isa de Oliveira Rocha abriu a programação da manhã fazendo um relato histórico da formação econômica catarinense. Ela começou falando da economia baseada na produção de óleo de baleia que ajudava a abastecer o mercado inglês, citou a comercialização de farinha de mandioca com outros estados e com o Uruguai e ressaltou o forte peso da madeira como matriz econômica, condição que foi mantida por muitas décadas. “Até 1972, cerca de 52% das exportações catarinenses ainda vinham da venda de madeira para fora de nossas fronteiras”, afirmou.

Os ciclos seguintes contemplaram as atividades artesanais, que evoluíram para a criação de uma indústria forte, graças, principalmente, às demandas do mercado europeu no período compreendido pelas duas guerras mundiais, na primeira metade do século XX. Muitas indústrias entraram no ramo das exportações para os países vizinhos e se beneficiaram da política de substituição de importações criado no governo Getúlio Vargas. Artex, Cônsul, Tupy e Weg se tornaram, aos poucos, modelos de inserção no mercado internacional, prenunciando um quadro favorável que mais tarde alcançaria os setores cerâmico e de aves e suínos.

Se o Plano de Metas (Plameg), no governo de Celso Ramos, foi um projeto exemplar, os anos 80 e 90 sofreram com a falta de políticas para o desenvolvimento econômico estadual. As empresas que dependiam fortemente das exportações perderam espaço por causa do câmbio desfavorável, o que contribuiu para o fenômeno da desindustrialização, que também decorre de problemas conjunturais do país. “O governo federal deveria resolver a questão do câmbio, melhorando as condições do país de enfrentar a concorrência da Ásia”, diz ela.

Por Paulo Clóvis Schmitz/jornalista na Agecom

Fotos: Wagner Behr/Agecom

 

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