Jornalista destaca as mudanças na mídia com as novas tecnologias

14/03/2012 15:54
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Como as novas tecnologias influenciaram e modificaram a comunicação pelo mundo? Este foi o tema principal da aula magna que o professor visitante da UFSC Bernardo Kucinski ministrou na terça, 13/03, ao Mestrado em Jornalismo (PosJor) da Universidade.

 

Com o título “A nova era da comunicação – reflexões sobre a atual revolução tecnológica e seus impactos no jornalismo”, Kucinski levantou pontos de reflexão a pós-graduandos, graduandos, professores e profissionais da área em mesa presidida pelo coordenador do PosJor Rogerio Christofoletti no auditório Henrique da Silva Fontes, no Centro de Comunicação e Expressão (CCE).

 

“A era digital transformou as formas de interação do ser humano – trata-se da maior revolução dos meios de produção, maior até que a escrita, que se deu com o passar dos séculos”, defendeu. O professor destacou que a comunicação virtual tomou para si o locus formativo do ser humano, deixando em segundo e terceiro lugares a família e a escola. “Há a abolição quase completa da vida privada – e a perturbadora constatação é que [esse tipo de comunicação] parece ser mais natural que as anteriores”.

 

O professor traçou panorama desse período de transição: “A comunicação virtual não precisa de florestas, filmes fotográficos nem malotes por avião para envio de material – tudo é produzido, processado, desenvolvido e distribuído virtualmente. A atual revolução tecnológica é oposta à revolução industrial: já foram desmontadas, por exemplo, a indústria fonográfica e a fotográfica”. Em meio a essas transformações, Kucinski aponta o que, para o estudioso, é o ponto de maior destaque. “O importante é que os jornais nunca mais voltarão a ser detentores do monopólio das massas. O jornalismo já não detém sozinho a fala – mesmo os [veículos] digitais são coadjuvantes do processo, e não mais seus protagonistas. As matérias deixaram de ser a palavra final sobre o assunto – agora são o início do debate”.

 

Do sindicato para o twitter – Por esse caminho ganha força o chamado jornalismo-cidadão – feito por quem não sobrevive de atividades relacionadas à comunicação, mas que, por ter acesso a ferramentas como celulares com câmeras fotográficas e de vídeo, além das mídias sociais como blogs e microblogs, dissemina seus próprios conteúdos na rede. “Hoje qualquer pessoa minimamente capacitada pode falar por si sem precisar de jornalista. Condutores de lutas locais são todos e ninguém. Povo organizado não é mais o do sindicato, e sim o do twitter; as palavras de ordem não são mais digitadas e impressas em panfletos, mas enviadas em mensagens por celular”. Alteram-se os processos de produção, modificam-se os de consumo: “ao ser acessada, a informação não é consumida, pelo contrário: se dissemina como a multiplicação dos pães – o leitor passa para sua rede de contatos”, completa.

 

Kucinski permaneceu pessimista quanto ao futuro das mídias tradicionais, comparando-as aos animais em extinção, subsidiadas pelo Estado para que continuem sobrevivendo. “As redações estão se acabando; já se fala que muitos jornais vão circular apenas duas vezes por semana, ou então só no sábado e domingo”. Quanto ao jornalismo em si, no entanto, o professor vê luz no fim do túnel. “A especialização é a que mais resiste ao tsunami, como o jornalismo econômico e científico. Depois que a poeira baixar, a narrativa de interesse público, o confrontamento de fontes, a ética jornalística e as informações apuradas não vão deixar o jornalismo morrer”. Questionado sobre utilização da criatividade como ferramenta de trabalho, Kucinski foi enfático. “Eu não tenho interesse no jornalismo sem criatividade. Como professor, debruçado sobre as questões humanas, me chama a atenção o jornalismo grande, com J maiúsculo”.

 

Assessoria como caminho – Se a especialização e a criatividade podem manter o jornalismo vivo, um outro campo de atuação traz alento, de acordo com o professor, ao aluno do curso. “Hoje, mais da metade, talvez 2/3 dos jovens que se formam em jornalismo vão trabalhar em comunicação pública”. Esses números, para Kucinski, refletem a necessidade crescente que a sociedade tem demandado pelo trabalho dos assessores de imprensa. Tendo trabalhado de 2003 a 2006 junto à assessoria de comunicação do presidente Lula, Kucinski passou então a refletir sobre o papel da comunicação pública e acabou visitando alguns países para analisar como os governos se comunicavam com a população. Sobre sua vinda para a UFSC, o professor prevê que será um período fértil. “Pratiquei o jornalismo por 25 anos, e só depois entrei na academia. Achava que era a mãe de todas as profissões. Saí da universidade antes do tempo, por causa da aposentadoria compulsória. Como professor visitante, tenho a oportunidade de retomar durante um ano aquilo que ficou suspenso – e o contexto humano também faz muita falta. E nas tardes de sábado, posso continuar a escrever minhas ficções”.

 

Por Cláudia Schaun Reis / Jornalista na Agecom
Fotos: Wagner Behr/ Agecom

 

Lançamento: “K.” e “Jornalismo Investigativo e Pesquisa Científica: Fronteiras”

No mesmo dia, às 17h, na Livraria Livros & Livros do Centro de Cultura e Eventos da UFSC, o PosJor promoveu o lançamento do mais novo livro de Kucinski, o romance “K.” (Editora Expressão Popular) e de “Jornalismo Investigativo e Pesquisa Científica: Fronteiras”, organizado pelos professores do Mestrado, Rogério Christofoletti e Francisco José Karam (Editora Insular), com capítulos também, entre outros, de professores do curso e da Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, como Gislene Silva, Mauro César Silveira e Samuel Lima. O livro traz capítulos de profissionais e pesquisadores brasileiros e argentinos sobre a temática e é resultado do Seminário Brasil-Argentina de Pesquisa e Investigação em Jornalismo, promovido pelo Mestrado e pelo Grupo de Pesquisa Observatório da Ética Jornalística da UFSC.

O jornalista, o professor, o escritor

Um dos nomes mais respeitados da pesquisa em Jornalismo no país, Kucinski foi docente na Universidade de São Paulo por mais de 20 anos, aposentando-se como professor titular. Entre 2003 e 2006, foi assessor especial da Secretaria de Comunicação Social (Secom), da Presidência da República. Físico de formação, com doutorado em Comunicação e pós-doutorado na University of London, Kucinski acumula vasta experiência jornalística no Brasil e na Inglaterra, onde viveu nos anos 1970. É autor de 25 livros que tratam de política, economia e jornalismo. Bernardo Kucinski é o primeiro professor visitante do PosJor, e é nesta condição que ele vai ministrar disciplinas e atuar em projetos de pesquisa.

 

Mais informações:  (48) 3721-6610 e posjor@cce.ufsc.br

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