Seminário sobre as Ações Afirmativas na UFSC discute a cultura acadêmica
A primeira parte do Seminário Ações Afirmativas na UFSC, quarta-feira dia 26 de outubro, no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, reuniu uma variedade de representantes para discutir a política de cotas na universidade e no sistema de educação brasileiro. Presentes na mesa de abertura a Pró-reitora de Pós Graduação Maria Lúcia de Barros Camargo, o representante da Pró-reitoria de Ensino de Graduação Carlos José de Carvalho Pinto, a Diretora de Educação Superior da Secretaria do Estado de Educação (SED) Mariléia Gastaldi, do Núcleo de Estudos Negros Joana Célia dos Passos, do Movimento Negro Unificado Maria de Lurdes Mina, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) a representante da Coordenadoria no estado Taís Garone, da Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (Coppir) Ana Paula Cardoso, e o Representante da Comissão de Ações Afirmativas da UFSC Marcelo Romano. Na mediação da mesa a professora Ilza Scherer-Warren.
A mediadora iniciou a mesa explicando que as Ações Afirmativas iniciaram-se na UFSC em 1997, e que em 2012 terminará o prazo estipulado para vigência dessa política de inclusão, por isso o seminário representa um momento de reflexão para todos sobre esse tema. Mariléia Gastaldi, da SED, foi a primeira a discursar. Ela disse que a secretaria quer se apresentar como parceira da UFSC, e que espera que essas políticas possam reduzir as grandes diferenças no país. “Temos que dar conta dessas injustiças sociais, pois o tempo em que vivemos, a pós-modernidade, exige isso”, completou.
Joana Célia dos Passos, do Núcleo de Estudos Negros, foi a próxima a pedir palavra, ressaltando que as Ações Afirmativas mexem na cultura acadêmica. “As salas de aula e o campus da universidade não são mais os mesmos, e a política de igualdade faz parte de um projeto diferenciado de uma nação”, finalizou.
A pró-reitora de Pós Graduação da UFSC, Maria Lúcia de Barros Camargo, ratificou que a universidade mudou com a política de Ações Afirmativas, mas é preciso ressaltar que não só o acesso, mas a permanência e as condições dadas também mudaram. “Nós temos que criar condições para acesso qualificado à universidade, para que possamos transformar essa condição diferenciada. O desafio não é só acesso e sim criar condições de formação qualitativa”. A pró-reitora complementou dizendo que as políticas de Ações Afirmativas são o resgate de uma dívida social para com as comunidades menos assistidas.
Por José Fontenelle/bolsista de Jornalismo na Agecom
Candidatos à reitoria da UFSC apoiam a manutenção das Ações Afirmativas
A programação do “Seminário: Ações Afirmativas na UFSC” contou ainda com um debate sobre o sistema de cotas entre os cinco candidatos à reitoria da Universidade. A pergunta feita a todos foi “qual a sua posição, avaliação e proposta de manutenção das Ações Afirmativas caso seja eleito ou eleita”, e os cinco participantes responderam serem favoráveis ao programa. Cada um teve 15 minutos para defender a questão por ordem de fala definida através de sorteio. A UFSC adotou as cotas para alunos de instituições públicas de ensino, negros e indígenas em 2007, e vai discutir o futuro do programa em 2012.
O primeiro a discursar foi Dilvo Ristoff, que citou alguns dados sobre o ensino e os percentuais de negros e brancos no Brasil. Dilvo disse que as pessoas costumam pensar que a “Universidade reflete a sociedade”, mas afirmou que “dados mostram que os cursos de graduação hipertrofiam as desigualdades da sociedade brasileira”. Segundo o candidato, o campus distorce significativamente os percentuais da população do país. Ainda acrescentou que as políticas de expansão e a democratização do acesso e permanência no ensino superior podem mudar a situação nas universidades. Com isso, Dilvo acredita que é necessário “adotar uma política muito mais agressiva” para realmente refletir os dados da sociedade brasileira.
Em seguida, Carlos Alberto Justo da Silva (Paraná) começou sua fala avaliando a gestão do atual reitor, Alvaro Prata, e expôs sua plataforma de gestão. As propostas apresentadas pelo candidato foram: ampliação da parceira com a Comissão Permanente do Vestibular (Coperve) para maior divulgação das cotas; financiamento de projetos de pesquisa sobre as Ações Afirmativas para posterior discussão e maior aprofundamento do tema; intenção de aumentar o número e o valor das bolsas permanência; reestruturação do programa de apoio psicossocial aos alunos cotistas; e criação de eventos para discutir e divulgar as Ações Afirmativas na UFSC.
A palavra foi passada para Irineu Manoel de Souza. Para ele, a universidade é elitista e a sociedade não sabe o que é produzido dentro dela. O candidato afirmou que sua proposta de gestão vai além da dimensão administrativa, sendo dividida em mais três grupos: acadêmico, humano e político-social. Na administração, Irineu propõe flexibilizar a estrutura universitária para incluir a sociedade; no campo acadêmico, analisar o Reuni para ampliar as vagas da universidade; no aspecto humano, valorizar as ações das pessoas, pois “sem pessoas não há inclusão”; e, por fim, na área da política social, defende a ampliação das cotas, a institucionalização da Coperve e a implantação do vestibular gratuito.
A candidata Roselane Neckel criticou a falta de gestão administrativa interna em relação às Ações Afirmativas: “quando tivermos oportunidade de apresentar os dados das nossas pesquisas e discutir os resultados, aí sim, poderemos alcançar um ganho realmente significativo”. Para Roselane, as universidades devem ter uma abertura ainda maior, oferecendo vagas exclusivas para negros e indígenas, sem considerar a avaliação socioeconômica. Em sua proposta, defende a ampliação das políticas de permanência e assume o compromisso de otimizar os recursos da universidade para fortalecer e ampliar as políticas afirmativas.
Por último, falou Fernando Kinoshita, que ressaltou a discriminação dentro da própria UFSC, entre os alunos de diferentes cursos de graduação. Ele defende as Ações Afirmativas, mas acredita que o programa não deve ser permanente, e sim, circunstancial, devido à vulnerabilidade que os povos beneficiados sofreram no passado. Sua plataforma de gestão inclui campanhas de divulgação das Ações Afirmativas para que todos tenham acesso a elas. Além disso, propõe a implantação da interdisciplinaridade na UFSC como existe em vários países – para que estudantes e pesquisadores possam validar seus diplomas na volta de intercâmbios -. O candidato finalizou afirmando que é necessário promover uma reflexão profunda dentro da universidade, pois “hoje tudo está muito material, capitalista demais”.
Por Nayara Batschke/Bolsista em Jornalismo na Agecom