Crítica ao Crítico: Semana de Cinema discute a crítica cinematográfica

21/10/2011 17:54

A última mesa de discussão da 5ª Semana de Cinema da UFSC, que tinha como tema “As transformações da crítica cinematográfica brasileira”, ocorreu na tarde desta sexta-feira (21/10) no auditório Henrique Fontes do Centro de Comunicação e Expressão (CCE). Os convidados André Zacchi, Francis Vogner e José Geraldo Couto expuseram as mudanças do modelo de crítica aos filmes e discutiram a relação intrínseca entre crítico, filme e leitor. A mesa foi mediada pelo professor do curso de Cinema, Jair Tadeu da Fonseca.

André Zacchi é aluno do último ano do curso de cinema da UFSC e editor da revista eletrônica Punctum. André fez a leitura do ensaio em que dialoga com alguns textos de Clarice Lispector sobre a relação de pertencimento ao filme e ao crítico. “O crítico é um leitor saltito, distraído”, ressaltou. “O filme faz o crítico. A crítica não consegue ser o filme, mas chega perto”, completou. Para ele, o crítico chega a um pequeno instante do filme, mas não o consegue traduzi-lo, e é esse instante que é levado ao leitor.

O crítico de cinema e co-fundador da extinta revista Cine Imperfeito, Francis Vogner, confessa que o seu primeiro contato com a crítica ao cinema não foi por inquietação intelectual, mas por necessidade de organizar em palavras a experiência de ver um filme. Segundo ele, “A crítica precisa ser livre por natureza, ter uma relação selvagem, sem mediação”. Francis problematiza a sistematização para fazer a crítica. “A crítica não tem que ser um relatório do filme”. Ilustra, ainda: “o gesto crítico é trabalhar o pensamento com rigor”.

José Geraldo Couto, jornalista – colaborador da revista Bravo! e Carta Capital – e crítico de cinema, destacou a modificação da crítica nos jornais e revistas ao longo da sua carreira. Segundo ele, a crítica era mais hegemônica nos órgãos de imprensa. “(Hoje) é muito menos importante para o leitor as críticas que o jornal faz.” Para José Geraldo, o principal motivo dessa desqualificação é o rebaixamento do nível de análise dos filmes pelo pressuposto de angariar maior público leitor para os jornais. Para ele, a substituição do modelo de crítica utilizado é mera indicação de filmes e orientação de entretenimento. “Não é necessário e nem eficaz para os grandes órgãos de imprensa.” Enfatizou. José Geraldo concluiu que o leitor que compra jornal quer ter o desafio de pensar o filme e ser provocado pelo crítico.

Logo após as exposições, os participantes responderam a perguntas do público. Hoje (21/10) foi o último dia da Semana de Cinema da UFSC. Para encerrar a semana, está marcado para as 18h30 um bate-papo com o cineasta Eduardo Coutinho e o documentarista e jornalista João Moreira Salles.

Mais informações: www.semanadecinema.ufsc.br

Por Ricardo Pessetti / Bolsista de Jornalismo da Agecom

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