Prêmio Destaque Pesquisador homenageia um samurai da ciência brasileira

06/07/2011 13:08

Fotos: Francisca Nery / Bolsista de Jornalismo na Agecom

Filho mais velho de agricultores japoneses que migraram para São Paulo, ele foi estimulado a fazer curso superior. Os pais queriam que tivesse uma vida melhor, que fosse médico. Ingressou na antiga Escola Paulista de Medicina, atualmente Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mas ao final da graduação em Ciências Biomédicas, ao invés de optar pela clínica, seguiu a vocação pela pesquisa.

O mestrado em Psicobiologia, também na Universidade Federal de São Paulo, o doutorado em Psicologia, na La Trobe University (Austrália), e o pós-doc na Universidade de Bordeaux (França) consolidaram a carreira de cientista do professor do Departamento de Farmacologia da UFSC Reinaldo Naoto Takahashi. Ele é o escolhido pelo Centro de Ciências Biológicas para receber o Prêmio Destaque Pesquisador UFSC-2011, direcionado a homenagear e a divulgar o trabalho de docentes que desenvolvem importantes estudos e contribuem com a formação de recursos humanos.

Pioneiro na farmacologia
Reinaldo Naoto Takahashi veio para a UFSC em 1975, convidado pelo professor e psiquiatra Ari Sell, um dos pioneiros da pesquisa em psicofarmacologia no estado de Santa Catarina. Na década de 90, ajudou a implantar e a consolidar a Pós-Graduação em Farmacologia, curso que conquistou recentemente o conceito 7, nível máximo de excelência na avaliação da Capes.

Professor titular da UFSC, Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq Nível 1B (segundo nível mais alto da bolsa que distingue o pesquisador com significativa produção), autor de mais de uma centena de artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, revisor de 17 revistas científicas internacionais, ele é referência quando o assunto é neurobiologia de dependência às drogas, psicofarmacologia em modelos de déficit de atenção e doenças neurodegenerativas.

Traduzindo, grande parte do seu esforço científico é voltado ao estudo do funcionamento do cérebro e dos efeitos que diferentes substâncias têm sobre o sistema nervoso central e o comportamento humano. Usando modelos animais, estuda, por exemplo, a relação entre canabinóides (componentes da maconha) e alcoolismo; pesquisa fatores farmacológicos e comportamentais envolvidos na relação entre alcoolismo e distúrbios emocionais.

Bioquímica cerebral
A busca de um melhor entendimento sobre doenças como Parkinson, Alzheimer e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), e de substâncias farmacológicas que possam no futuro colaborar com seu tratamento, também é marca em sua trajetória. “É uma tarefa complicadíssima, relacionada à bioquímica cerebral e à tentativa de corrigir desequilíbrios”, explica o professor que trabalha com ciência básica, um universo que avança a passos lentos.

Em junho, ele participou de um congresso com o tema Cérebro, Comportamento e Emoções. Abordou o potencial da Cannabis sativa no controle da dor crônica. Complexa, polêmica e com grande potencial farmacêutico, essa planta estimula seus estudos desde o mestrado. Em 2008, a pesquisa nesse campo resultou em um artigo publicado na revista European Neuropsychopharmacology sobre o potencial do canabidiol (um dos constituintes da cannabis sativa) no alívio de sintomas de ansiedade relacionados à recordação de eventos traumáticos. É apenas um exemplo entre os importantes resultados alcançados em suas pesquisas experimentais.

No caso da cannabis, em função de seu conhecimento científico, é convidado para diversos eventos voltados a especialistas ligados às áreas da saúde e da biologia. Também para encontros com públicos variados, muitas vezes formados por jovens. Nesses momentos, em linguagem acessível, cumpre sua missão de mostrar como a ciência busca entender o funcionamento do cérebro e tirar proveito do potencial farmacológico dessa planta que tem uso milenar.

“O que procuramos com a pesquisa é aproveitar o que é bom do ponto de vista farmacológico, evitando características negativas da Cannabis, como a dependência”, explica o professor, lembrando que em outros países princípios ativos da maconha já são aproveitados em medicamentos que ajudam pacientes com câncer a controlar náuseas provocadas pela quimioterapia, ou que estimulam o apetite em doentes de AIDS.

Pai científico
Responsável por sete orientações de teses de doutorado já concluídas, 19 de dissertações, duas supervisões de pós-doutorado e 19 de projetos de iniciação científica, Reinaldo Takahashi é considerado pai científico por ex-alunos. “O que mais impressiona no professor Reinaldo é seu senso científico apuradíssimo. Sempre temos o maior crítico de nossas pesquisas dentro do próprio laboratório e raramente os trabalhos revisados pelo professor Reinaldo são rejeitados na avaliação pelos pares em revistas internacionais”, destaca o colega do Departamento de Farmacologia, professor Rui Daniel S. Prediger, orientando de Reinaldo Takahashi desde a iniciação científica até o pós-doutorado.

O depoimento mostra a importância de Reinaldo Takahashi na formação, assim como para ele foi uma referência o professor da Unifesp Elisaldo Luiz de Araújo Carlini, seu orientador no mestrado, cientista brasileiro reconhecido por contribuições à farmacologia e epidemiologia, incentivador da divulgação da ciência fora dos laboratórios.

Imerso na pesquisa básica, o trabalho de Reinaldo Takahashi tem força social, mas não tem resultados nem reconhecimento imediato. “Muitas vezes a pesquisa não dá em nada. Não tenho a ilusão de que vamos encontrar a cura para as doenças, mas vamos colaborando com alguns tijolinhos na construção do conhecimento”, diz modesto e tranquilo o professor.

O Prêmio Destaque Pesquisador UFSC-2011 vai homenagear seu trabalho, mas outros já reconhecem sua trajetória. Entre eles, o Prêmio Juarez Aranha, concedido em 2009 pela Federação de Sociedades de Biologia Experimental, e o Prêmio Pesquisador-Sênior, da Rede de Pesquisa sobre Drogas e Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad).

Mais informações: takahashi@farmaco.ufsc.br / Telefone: (48) 3721-9764 Ramal: 227

Por Arley Reis / Jornalista da Agecom
Fotos: Francisca Nery / Bolsista de Jornalismo na Agecom

Saiba Mais:

Supervisões e orientações concluídas

7 teses de doutorado
19 dissertações
2 supervisões de pós-doutorado
19 projetos de iniciação científica

Orientações em andamento:
3 dissertações
3 teses
1 iniciação científica

Prêmios

2011 – Melhor trabalho, (Pandolfo et al.,), Prêmio Lundbeck de incentivo à pesquisa básica, 7° Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções, Gramado, RS.

2010 – Melhor trabalho (Pamplona et al.,), Premio Lundbeck de incentivo à pesquisa básica, 6º Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções, CBCCE, Gramado, RS.

2009 – Melhor Trabalho em Neurociências (Bitencourt RM et al.), Simpósio PG em Neurociências da UFMG; e na XXIV Reunião anual da FeSBE.

2009 – Prêmio Juarez Aranha, segundo lugar ( Pamplona et al.,), XXIV Reunião anual da FeSBE.

2009 – Prêmio Pesquisador-Sênior, Rede de Pesquisa sobre Drogas e Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad)

2007 – Jovem Pesquisador de Doutorado (Orientando P. Pandolfo), Senad-Gabinete Institucional da Presidência, Brasília.

2006 e anos anteriores – Várias Menções Honrosas no Setor Psicofarmacologia, Reuniões Anuais da Federação de Sociedades de Biologia Experimental ( FeSBE).


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