Cineasta destaca dificuldades da produção independente

06/04/2011 12:31

O cineasta Sérgio Santeiro, professor de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), admitiu na manhã desta quarta-feira, dia 6, em palestra feita durante a sétima edição das Jornadas Bolivarianas, a dificuldade da produção independente brasileira de fazer frente à dominação cultural imposta pelos Estados Unidos. Ele proferiu a palestra “O cinema latino-americano e a indústria cultural” no auditório da reitoria da UFSC, no terceiro dia do evento promovido pelo Instituto de Estudos Latino-americanos (IELA), que prossegue até amanhã, quinta-feira, no mesmo local.

Santeiro confessou que não conhece a fundo a produção cinematográfica de todos os países latino-americanos, mas afirmou que o cinema militante precisa ir além de fazer filmes – é necessário “instituir esses filmes no circuito”. Para ele, “o cinema tem que crescer com a consciência social coletiva em sua área de atuação”. Nascido em 1944, Santeiro já tem mais de 20 filmes, entre documentários, pequenos filmes institucionais e de ficção, a maioria feitos de forma independente.

Na palestra, o cineasta também questionou o conceito corrente de imperialismo, dizendo que “a questão é o capitalismo”, que interfere na autodeterminação dos povos, sobretudo na América Latina, e impõe gostos e padrões culturais dominantes a muitas nações do mundo. Ele admitiu ser difícil trabalhar sem o apoio do Estado, mas pior ainda “é contar com o Estado sem escapar de sua tutela”. No campo do audiovisual, a hegemonia americana e o advento das tecnologias digitais impõem uma série de desafios aos realizadores, especialmente os de vanguarda, como é o seu caso.

Sérgio Santeiro ainda relembrou dos dias do Cinema Novo, quando Glauber Rocha – cineasta militante por excelência – fazia de sua arte um libelo contra a fome e as injustiças sociais. Eram os tempos do cinema de autor, no qual o realizador assume o protagonismo de seu trabalho. “’Terra em transe’, de Glauber, flerta com a noção de América Latina”, diz ele, pois a ação se passa num país imaginário do continente. Santeiro afirma que “cinema não se aprende na escola”, e por isso, em suas aulas na UFF, faz os alunos verem filmes, porque “assistir à produção dos outros melhora a nossa capacidade de intervenção na realidade”.

Por Paulo Clóvis Schmitz/jornalista na Agecom

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