Semana do Meio Ambiente UFSC inicia-se com mesa-redonda sobre sustentabilidade em universidades

30/05/2018 15:11

Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC

“Nada é mais potente que uma ideia cujo tempo chegou.” A sentença de Leonardo Secchi sobre a permeabilidade das ideias sustentáveis animou o auditório da reitoria na mesa-redonda sobre sustentabilidade em campi universitários, primeira atividade da Semana do Meio Ambiente da UFSC.

A partir das 9h desta terça, 29 de maio, representantes dos setores responsáveis pela gestão ambiental da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Universidade de São Paulo (USP) apresentaram suas políticas e desafios inerentes à implantação e gerenciamento de medidas dessa natureza ao grande público presente  no auditório da reitoria, no Campus Trindade, em Florianópolis.

Cada membro da mesa apresentou a experiência recente de sua instituição, mediados por representante da UFSC. As conquistas da política de lixo zero da UDESC, cujo impacto tem mudado a universidade e, inclusive, municípios em que a instituição tem campus; a abrangente política de sustentabilidade da UFLA, onde o tratamento de água e esgoto são realizados pela própria universidade; e os desafios que uma das maiores e mais tradicionais instituições de ensino superior do Brasil, a USP, têm enfrentado na institucionalização da política ambiental foram debatidos durante toda a manhã.

Abertura e apresentações

Lucila Campos (UFSC). Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC

A abertura do evento contou com a participação da vice-reitora da UFSC, Alacoque Erdmann. Em sua fala, Alacoque destacou a relevância do evento e em especial do tema abordado na atividade inicial do evento. A vice-reitora deu relevo às mudanças na concepção de meio ambiente das últimas décadas, hoje compreendido, segundo a vice-reitora, como “o locus onde tudo acontece”. Por fim, apontou aos esforços institucionais da UFSC em ser efetivamente uma universidade sustentável a partir do Plano de Gestão Logística Sustentável (PLS).

Rogério Portanova, coordenador da Gestão Ambiental da UFSC, deu sequência ao evento destacando os 30 anos da Constituição Nacional e a necessidade de defesa das conquistas presentes no texto da Carta Magna brasileira, inclusive no que diz respeito ao meio ambiente. Em seguida, Lucila Campos, professora do Departamento de Engenharia de Produção (DEPS) da UFSC e mediadora do encontro, relatou as modificações sofridas na compreensão do tema, apontando à centralidade que a sustentabilidade nas universidades tem atualmente. Ato contínuo, convidou Leonardo Secchi (UDESC), Dyego Freitas (UFLA) e Paulo Santos de Almeida (USP) para explanarem sobre as experiências de suas instituições na busca pela sustentabilidade em seus campi.

UDESC Sustentável e programa Lixo Zero

Leonardo Secchi apresentou o projeto UDESC sustentável, criado com o propósito de incentivar uma cultura de responsabilidade socioambiental no âmbito da instituição. O programa iniciou com o diagnóstico do cenário da UDESC, norteado por parâmetros e conceitos referentes a temas como lixo, água, energia, áreas verdes, mobilidades, compras sustentáveis, construções sustentáveis e educação sustentável. Em seguida, os programas referentes passaram a ser implementados, com alguns deles ainda em fase inicial.

Leonardo Secchi e selo Lixo Zero da UDESC. Foto: Lavínia Kaucz/Secom/Udesc

Leonardo utilizou como exemplo de realização da política de sustentabilidade o programa de Lixo Zero daquela universidade. Em seu relato, o representante da UDESC apresentou que, atualmente a separação de lixo simplificou a lixeira em três formas: rejeito, reciclável e orgânico, mas que, nas universidades, é normal inserir uma destinação específica para papel. Os rejeitos são, então, encaminhados a aterros, o que é prejudicial ao meio ambiente, mas que pode ser minimizado significativamente quando ocorre a correta separação no momento do descarte.

Por isso, o lixo zero não é algo imediato, mas um objetivo que tende a reduzir ao máximo essa porção do lixo, a partir da separação dos resíduos orgânicos, que são destinados a composteiras, e dos resíduos recicláveis, destinados à transformação em matéria-prima, com grande diminuição do rejeito, cuja destinação são os aterros sanitários.

O programa tem levado aos 12 campi situados em nove municípios catarinenses este conceito, a partir da drástica redução de rejeitos, separados dos materiais recicláveis, orgânicos e papéis. Para disseminar essa cultura socioambiental, o programa tem buscado atuar a partir de “lideranças por exemplo”. Nesse sentido, o programa não está sendo implementado por portarias ou normativas, mas pela visita a setores que são “certificados” com um adesivo, que tem a mesma função de um certificado que fica exposto nos setores como exemplo tanto da consciência socioambiental, como do engajamento do setor em adotar uma medida bastante fácil de ser posta em prática.

Todos os campi foram visitados pelo programa, sendo escolhidos setores que têm ajudado a propagar as medidas propostas não somente dentro da UDESC, mas mesmo em municípios em que há campus da universidade, como tem sido no município de Caçador, que também tem adotado medida semelhante.

Segundo Leonardo: “se a instituição tem a sustentabilidade como prioridade número um, esse compromisso tem de ser prioritário, mas sem perder de vista que é preciso criar engajamento legítimo, o que não é tão difícil, posto que o cuidado com o meio ambiente é uma ideia que não tem como alguém ser contra, e não existe nada mais potente do que uma ideia cujo seu tempo chegou. E hoje essa ideia é a sustentabilidade”.

UFLA: modelo de sustentabilidade

Por anos a UFLA foi a única universidade brasileira certificada internacionalmente por sua gestão ambiental. Pautada em ampla política que abrange desde prevenção de incêndios até o tratamento por esgoto na própria universidade, a UFLA é exemplo de sucesso na área. Em breve apresentação,  Dyego de Freitas, vice-diretor de meio ambiente e coordenador de saneamento da Diretoria de Meio Ambiente (DMA), resgatou o bem-sucedido histórico da universidade.

Dyego Freitas (UFLA). Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC

Os programas ambientais da UFLA datam de muitos anos, mas é a partir da criação da DMA que todos são agrupados em uma estrutura com condições de promover as políticas de forma articulada. Criada em 2012, a diretoria consolidou os programas existentes e criou novos programas, dando início ao Plano Ambiental da instituição.

A estrutura administrativa do setor corresponde às políticas que dão suporte aos programas, com coordenadorias de saneamento (água e esgoto), recursos naturais, resíduos (químicos, biológicos e reciclagem), planejamento e gestão de energia, prevenção de endemias (leishmaniose e doenças transmitidas pelo Aedes aegypti são comuns na região) e prevenção e controle de incêndios de um campus quem tem área rural e área de floresta, muito suscetíveis a incêndios naturais.

Na universidade, todas as coordenadorias possuem atividades bastante estruturadas e assentadas no cotidiano institucional. É de grande relevância o trabalho de saneamento da universidade, que é auto-suficiente em água, com tratamento de água e esgoto realizada na e pela própria UFLA, com estação de tratamento própria e capacidade de 800 m³/dia. Com 15 nascentes, poços artesianos, direcionamento de águas da chuva e uma represa, o consumo de águas é de mais de um milhão de litros por dia. Há ainda segregação de gordura efluente do restaurante universitário, que é utilizada para produção própria de biodiesel a ser utilizado pelos maquinários da instituição.

Recuperação ambiental na UFLA. Foto: divulgação

Merece destaque também o tratamento dado aos resíduos químicos. Atualmente, a UFLA tem padronizada a separação e, mediante pedido dos laboratórios, todo o resíduo químico é recolhido  para tratamento centralizado na própria universidade. O tratamento é feito na DMA, com destilação para recuperação de solventes e reaproveitamento de reagentes, reaproveitamento de metais e tudo que é recuperado retorna à comunidade, após avaliação da qualidade dos solventes. O que não pode ser tratado, tem parceria com empresa para descarte adequado. Para isso, os técnicos (TAEs) de laboratório são treinados para rotulagem e separação e, quanto às pós-graduações, por vezes sem TAEs, todas em que há atividades laboratoriais possuem uma disciplina obrigatória de separação desses resíduos.

Quanto aos resíduos orgânicos e biológicos, há tratamento de ambos, com destinação dos resíduos biológicos a empresas responsáveis pelo recolhimento e compostagem dos resíduos orgânicos para produção e uso de adubo na própria UFLA. O campus possui um bem-sucedido programa de preservação ambiental, com recuperação de ecossistemas e plantio de espécies nativas.

Na instituição há também uma usina fotovoltaica, construída como projeto-piloto para estudo da capacidade e incidência solar para, futuramente, ser elaborado o plano de instalação nos prédios da universidade. Além da usina, há placas de captação de energia solar no eco-bicicletário, integrado às ciclovias e pontos do ônibus interno gratuito que há na UFLA.

USP: aprimoramento e institucionalização de políticas de gestão ambiental

Paulo Santos de Almeida, assessor técnico da Superintendência de Gestão Ambiental da USP, realizou a última exposição de experiências e desafios para os campi sustentáveis. Paulo destacou o histórico de projeto sustentáveis de mais de duas décadas na USP e a articulação e institucionalização desses programas, de modo a política ambiental abranger todos seus 11 campi.

Paulo Santos de Almeida (USP). Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC

“Há, até o momento, uma política geral, que define 12 políticas ambientais aplicáveis aos 11 campi, com biomas e realidades diferentes. Desde 2014 tem sido preparadas estratégias para essa integração, por intermédio de grupos de trabalho. Concomitantemente, foi desenvolvido o Plano Diretor Ambiental a cada um dos 11 campi. A política de gestão ambiental agrupa, assim, os Planos diretores ambientais de cada campus e orienta as ações e programas desenvolvidos em construções sustentáveis, mobilidade, com ciclovias e empréstimo de bicicletas, resíduos sólidos, centros de resíduos químicos e o centro de resíduos eletrônicos, que tem esses materiais em benefício da própria instituição.”

Paulo ressaltou, portanto, que os programas anteriormente existentes são agora incorporados e orientados por uma política geral e um plano diretor local, sob normativa e apoio institucional. Por fim, o assessor técnico apontou que a universidade tem enfrentado o desafio de desenvolver uma política geral, que institucionalizasse, legalizasse e assegurasse a manutenção dos programas já existentes e, uma vez em curso, avançou para a promoção e apoio à submissão de projetos-piloto, como hortas comunitárias, revitalização de vegetação nos campi e projeto de redução de consumo de água e energia.

Intervenção da plateia e continuidade do evento

Ao fim das exposições, a plateia interviu com questionamento e pedidos de esclarecimentos. A política ambiental da UFSC também foi questionada, o que permitiu o intercâmbio de experiências, com a participação de Rogério Portanova, coordenador da Gestão Ambiental da UFSC.

A mesa-redonda marcou a abertura da Semana do Meio Ambiente da UFSC, cuja programação completa está disponível aqui.

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