Virgínia Fontes aborda luta de classe e capital-imperialismo em aula magna na UFSC

26/04/2017 13:32

Virgínia Fontes iniciou a aula magna do Instituto de Estudos Latino-Americanos (Iela) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no dia 24 de abril, com a proposta de fazer um bate-papo sobre alguns elementos da crise contemporânea. O capital-imperialismo, objeto de sua pesquisa mais recente, foi a tônica do momento. A palestrante também abordou o contexto político brasileiro e a importância de uma estratégia para a superação do capitalismo. A palestra foi realizada no auditório da Reitoria, após a troca de local devido à grande procura. Ainda assim, o lugar ficou lotado e muitas pessoas permaneceram sentadas no chão para assistir à aula.

Aula Inaugural da APG - Foto Henrique Almeida-9

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Virgínia Fontes é historiadora, com mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutorado em Filosofia na Université de Paris X, Nanterre. Em seu último livro publicado, “O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e história” (2010), ancora-se em um referencial marxista para analisar a luta de classes do Brasil contemporâneo. A expressão capital-imperialismo é usada para designar a expansão do capitalismo e aprofundamento do imperialismo após a Segunda Guerra Mundial.

Na mesa também estavam presentes o professor e presidente do Iela, Nildo Ouriques, e o diretor do Centro Socioeconômico (CSE), Irineu Manoel de Souza. Ouriques introduziu a aula e disse que “a classe dominante decretou uma guerra contra a classe trabalhadora”. E foi enfático ao falar da necessidade de a universidade se tornar um ambiente político, trazendo a realidade para dentro da sala de aula e superando o caráter escolástico da educação.

Sobre o contexto político no Brasil, Virgínia Fontes relacionou o desmonte dos direitos dos trabalhadores com o que chamou de um “golpe cheio de contradições”, sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff, mas com uma direção clara: a rapinagem dos recursos públicos. E no que se refere aos ajustes econômicos que estão sendo colocados em prática no país, contextualizou que há 20 anos situações são empurradas com o pretexto de ser um momento de urgência. E enfatizou que não vale a pena entrar na luta para conseguir apenas ajustes menores.

Em sua crítica ao sistema capitalista, afirmou que essa forma de organização social só existe desgastando a natureza, na eterna busca pela expansão do capital. E observou que a classe trabalhadora, cada vez mais extensa e heterogênea, precisa ter claro um norte estratégico para a luta, que, segundo ela, não se dará na negociação com a burguesia, “a conquista da democracia não se faz pelo negociamento com o capital, mas no enfrentamento do capital”.

Entre os motivos da condição socioeconômica do país, Virgínia apontou a displicência das universidades e o “hiperativismo” empresarial, sobre o qual dá exemplos: a formulação da política de educação por grandes empresas e o financiamento de ONG’s. Segundo ela, o ativismo burguês obtém adesão popular ao capital e abre campo para movimentos de extrema direita.

A historiadora observa que em uma sociedade capitalista o desenvolvimento é entendido como a expansão do capital, questionando: queremos mais PIB ou mais qualidade de vida? E reitera: “expansão do capital não é expansão da vida boa”. Finalizou a aula posicionando-se a favor da democracia dentro de uma sociedade socialista, e não uma democracia que a inclua em uma sociedade capitalista. Na sequência, foi oportunizado ao público um espaço para perguntas.

O vídeo da aula magna está disponível aqui.

Lavínia Beyer Kaucz/Estagiária de Jornalismo da Agecom/UFSC

Tags: aula magnaBrasil contemporâneoIELAluta de classesUFFUFSCVirgínia Fontes