UFSC completa 56 anos e se posiciona em defesa da diversidade

16/12/2016 13:00

Em vários momentos de sua vida, sentiu o preconceito na pele. Nunca se deixou abater pelo inimigo que estava presente no convívio familiar, no meio acadêmico e no profissional. Quando relembra-se dos fatos ainda se emociona, de alguns até consegue achar graça, não costuma guardar mágoa e no geral, perdoa. É muito sensível às histórias alheias. Todos que a conhecem sabem que chora com facilidade e para ela a explicação é muito simples: “se a gente não se importar, com certeza há algo errado”.

Negra, filha de mãe baiana e pai catarinense, irmã mais velha de quatro irmãos, estudante do ensino público, mãe de gêmeos, participa de escola de samba desde a infância, pertence à religião de matriz africana, enfermeira pediátrica, docente, pesquisadora do CNPq, e atualmente responde pelas politicas de ações afirmativas e diversidades da UFSC.

Fez a graduação e o pós-doutorado na UFSC, mestrado em Farmacologia e doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Deu aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Unicamp, Universidade Metodista de Piracicaba, Universidade São Francisco – Braganca Paulista, Faculdades Integradas Einsten Limeira (Fiel) e Universidade Paulista (Unip).

Foi eleita pela gestão da UFSC para retomar o compromisso social da instituição – o de defesa da diversidade humana – seja de orientação sexual, identidade de gênero, étnico-raciais, pessoas com deficiência e outros. Um novo desafio para ela, Francis Solange Vieira Tourinho, e em maio deste ano tornou-se oficial: estava no comando da primeira Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades (Saad) da UFSC.

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Francis, secretária de Ações Afirmativas e Diversidades da UFSC. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

O reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo afirma que a criação de órgão para tratar desses temas tem origem na constatação de que a UFSC mudou, quanto ao perfil de seus estudantes. “A partir do momento em que passamos a receber jovens de diferentes origens, locais, etnias – algo que sempre ocorreu, mas acentuou-se com as cotas, os 50% destinados à escola pública e o ingresso pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada) – foi necessária uma ação institucional mais objetiva sobre esses grupos”. Reforça que as estruturas até então existentes, particularmente a Prae (Pró-Reitoria de Assuntos Educacionais) e a Prograd (Pró-Reitoria de Graduação), davam conta de executar políticas de apoio, mas era fundamental um espaço mais específico, com pessoas ligadas diretamente aos movimentos e com conhecimento de causa. “A equipe da Saad é múltipla, diversa, plural, como são as ações da própria Secretaria. E isso legitima a criação da nova estrutura. Nada mais verdadeiro do que afirmar que aqui na UFSC tem diversidade”, conclui Cancellier.

Francis acredita que “a Universidade é um reflexo da sociedade” e mesmo em tempos modernos e em espaços de circulação do conhecimento, ainda persiste o pensamento conservador e intolerante que, muitas vezes, manifesta-se da maneira mais cruel possível.

A campanha do Vestibular 2017, lançada em setembro deste ano, estampou a frase “Aqui tem diversidades”. Mais uma forma de a UFSC fortalecer e disseminar o seu posicionamento contra qualquer ato de discriminação e despertar a sociedade para o respeito. “Temos diversidades sim, sempre teve e sempre haverá”, reforça Francis. E no momento em que a instituição se afirma diversa no auge de seus 56 anos, alerta aos que desejam ingressar, seja para trabalhar ou estudar, que não aceitará comportamentos de intolerância e desrespeito no ambiente universitário.

Para a secretária, a diversidade deve ser entendida em aspecto mais amplo, global. Explica que na área da Saúde há um conceito – Social Accountability – que é muito mais que responsabilidade social, “na verdade é o quanto a escola ou a universidade forma um aluno com o compromisso social. Então a nossa obrigação é educar pessoas que irão mudar a sociedade”.

Mesmo em pouco tempo, apenas seis meses de Saad, Francis ressalta os avanços alcançados:

– realização na UFSC do 1º Seminário Nacional de Gestão em Ações Afirmativas no Ensino Superior dias 9 a 11 de novembro;

– processo seletivo específico para indígenas e quilombolas;

– vagas para negros e pessoas com deficiência em concurso público;

– elaboração de política contra racismo;

– instauração de processos disciplinares com base em denúncias de grupos de estudantes, coletivos ou denunciantes individuais. (Aluno acusado de fazer apologia ao estupro foi obrigado a comparecer a uma disciplina de igualdade de gênero e ser aprovado.)

E a Saad planeja iniciar a verificação de fraudes para ingresso pelo sistema de cotas.

Ações Afirmativas

Marcelo Henrique Romano Tragtenberg, professor do Departamento de Física, é atualmente diretor Administrativo da Saad, e participa do Programa de Ações Afirmativas (PAA) desde o seu início na UFSC, em 2008. O PAA surgiu para minimizar as desigualdades sociais e oportunizar a grupos o acesso à Educação e a sua permanência.

A UFSC aderiu ao Programa antes mesmo da aprovação da Lei nº 12.711/2012, que tornou obrigatória a reserva de vagas para estudantes de escolas públicas em todas as instituições de ensino federais. Atualmente, mais de 50% das vagas de graduação da Universidade são reservadas para o PAA. E a Lei nº 12.990/2014 reservou aos negros 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos federais.

“As pessoas precisam de oportunidade e por isso acredito nas ações afirmativas”, diz Francis. O desempenho dos estudantes também tem trazido resultados importantes. “E o aluno de cotas é o que menos se evade”, acrescenta. O PAA trouxe à Universidade um maior número de estudantes negros, indígenas, quilombolas, e de baixa renda, o que provocou mudanças significativas no pensamento e na convivência universitária. “Ainda temos muito que avançar, mas este é o caminho”.

Denuncie!

Machismo, racismo e homofobia são os tipos de violência mais frequentes na UFSC. Após anos de indiferença, a instituição precisava assumir efetivamente o enfrentamento destas questões. A Saad foi o primeiro passo dessa transição e propõe ações de cuidado e acolhimento das pessoas da comunidade universitária, propiciando sua convivência saudável, integrada e inclusiva.

Servidores e alunos, vítimas do preconceito, podem e devem denunciar aos órgãos da UFSC qualquer tipo de agressão sofrida dentro da sua estrutura, e até mesmo pelas redes sociais. A Universidade irá apurar os fatos e, quando necessário, aplicará as medidas cabíveis a cada caso.

A Secretaria de Segurança Institucional (SSI) da UFSC faz o primeiro atendimento e encaminha os casos para os órgãos responsáveis.

Os denunciantes, por hábito e desconhecimento, recorrem à Ouvidoria, porém as denúncias referentes às discriminações podem ser entregues diretamente na Saad.

Não está sozinha

“Desenvolver ações institucionais, pedagógicas e acadêmicas direcionadas às ações afirmativas e de valorização das diversidades na Universidade, referentes à educação básica, graduação, pós-graduação, pesquisa, extensão, contratação de pessoal e gestão institucional”. A Saad não está sozinha em sua missão, articula-se, frequentemente, com as demais estruturas universitárias, entre elas: Ouvidoria, Segurança do Campus, Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas (Prodegesp). Possui cinco coordenadorias e 51 envolvidos entre técnicos-administrativos, professores e estagiários.

Francis também considera que as coordenadorias da Saad, que formam os eixos de sua atuação, são conquistas e explica um pouco do que cada uma faz:

Coordenadoria de Inclusão Digital

Responsável: Sergio Sena

Localiza-se ao lado da Biblioteca (BU), antigo LabUFSC, e possui 200 computadores; 176 são para uso comum dos alunos e, servidores. Também disponibiliza um espaço familiar, onde pais e mães da UFSC podem acessar a internet e fazer seus trabalhos enquanto seus filhos desenham, brincam e descansam.

Para alunos que utilizam cadeira de rodas foram adaptadas quatro bancadas e dois computadores com software Ledor.

Coordenadoria de Acessibilidade Educacional

Responsável: Bianca Costa Silva de Souza

Pedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos e assistentes sociais fazem parte da CAE, que coordena o desenvolvimento de ações pedagógicas e institucionais voltadas à remoção de barreiras físicas, informacionais, educacionais, comunicacionais, linguísticas, programáticas e atitudinais existentes na UFSC que impedem a participação plena e o acesso ao conhecimento por parte de estudantes com deficiência, servidores docentes e técnicos e comunidade em geral.

Atualmente atende 200 alunos com deficiência visual, auditiva, física, e transtorno do espectro do Autismo. Abrange todos os cursos, para que o tema de aula seja acessível ao aluno.

Coordenadoria de Diversidade Sexual e Enfrentamento da Violência de Gênero

Responsável: Rodrigo Otávio Moretti Pires

Trabalha, em toda a estrutura universitária, as políticas voltadas às ações para a mulher e o público LGBTT, como as de enfrentamento à fobia de gênero e de violências contra mulher. Coordena programas, projetos e atividades, visando ao respeito à dignidade da população LGBTT, independente da orientação sexual e da identidade de gênero, buscando a garantia dos direitos humanos.

Coordenadoria de Relações Étnico-Raciais

Responsável: Joana Célia dos Passos

Assessora na articulação e transversalização das questões étnico-raciais no ensino, pesquisa e extensão, por meio da formulação de estratégias para acolhimento e inserção dos estudantes indígenas, negros e quilombolas, constituindo um canal de apoio entre estes e os demais órgãos, promovendo ações de conscientização contra o racismo no meio acadêmico e orientando em casos de crimes raciais.

Coordenadoria de Ações de Equidade

Responsável: Simone Valentini

Voltada ao acompanhamento dos estudantes ingressantes pela Política de Ações Afirmativas auxiliando no planejamentoe na organização do processo de matrícula e validação da autodeclaração de renda. Também auxilia na divulgação das formas de ingresso da graduação buscando fortalecer a comunicação entre a Universidade e a comunidade.

 

Mais informações: http://saad.ufsc.br/

Saad – localiza-se no andar térreo do prédio da Reitoria

http://seguranca.ufsc.br/

SSI – localiza-se no antigo prédio do Departamento de Administração Escolar (DAE), na esquina da rótula de acesso pelo bairro Trindade

Plantão/Emergência:

Fones: (48) 3721-9555 e 3721-5050 / ramais internos: 9555 ou 5050

 

Leia mais: UFSC explica: Ações Afirmativas

 

Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC

 

 

 

 

 

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