Potencial dos biocombustíveis amplia trabalhos da UFSC com microalgas

22/03/2013 11:34

Manter cepas de microalgas de diferentes ambientes e capacitar pessoal para o cultivo são objetivos da equipe. Foto: Claudia Reis.

O desafio de transformar algas em biocombustíveis integra uma série de universidades brasileiras. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) colabora com esse esforço, desenvolvendo trabalhos junto ao Laboratório de Cultivo de Algas, ligado ao Departamento de Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias (CCA).

Há mais de 20 anos o grupo atua na produção de microalgas. O objetivo principal era produzir alimento para espécies cultivadas em outros setores, como o Laboratório de Camarões Marinhos. Um novo foco está voltado ao aproveitamento da biomassa das microalgas para obtenção de biodiesel, usualmente produzido a partir de óleo de soja, mamona, canola, dendê, milho ou gordura animal.

Base da maioria das cadeias alimentares aquáticas, as microalgas se desenvolvem a partir da transformação direta da luz do sol em energia química, da assimilação de nutrientes dissolvidos na água e do dióxido de carbono. Há centenas de milhares de espécies, de água doce e marinha. Ricas em moléculas de gordura, muitas têm potencial significativo para transformação em biocombustíveis.

Determinar condições que maximizem a produção de biomassa com elevado teor de lipídios é uma das metas do trabalho no Laboratório de Cultivo de Algas da UFSC. Manter cepas de microalgas de diferentes ambientes aquáticos do Brasil e treinar pessoal para o desenvolvimento de cultivos em larga escala também são objetivos da equipe.

No laboratório são desenvolvidos cultivos experimentais desde a pequena escala (100 litros) até o cultivo massivo em tanques de 10.000 litros. Para a separação da biomassa,  a parte sólida e seca das microalgas, são testadas e comparadas diferentes técnicas, como floculação e sedimentação, centrifugação e eletrofloculação. O grupo também fornece biomassa para grupos de outras universidades que pesquisam esse material como fonte de biocombustível.

Uma série de fatores motivam os estudos. Entre eles, o fato de que as microalgas têm estruturas simples, se reproduzem e crescem em velocidade muito maior do que outras culturas usadas na produção de biodiesel. Seu cultivo pode ser feito em áreas menores do que a necessária nas outras culturas de oleaginosas − e mesmo impróprias para a agricultura, ao longo de todo o ano e em diversas regiões. Essa alternativa também não entra em conflito com a agricultura (como no caso das demais oleaginosas, que podem deixar de ser produzidas para alimentação para gerar combustível).

As microalgas têm ainda a vantagem de sequestrar eficientemente o dióxido de carbono, contribuindo para a redução dos gases do efeito estufa. Isto qualifica o cultivo de microalgas para a produção de biocombustíveis como um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

Cultivos experimentais partem de pequena escala e chegam a tanques de 10 mil litros. Foto: Cláudia Reis.

Apesar dos benefícios, o emprego das microalgas para a produção de biodiesel em nível industrial ainda tem custo muito elevado e depende de inúmeras de pesquisas. Há necessidade de estudos sobre a diversidade biológica das microalgas, sobre os diferentes fatores que influenciam a produção da biomassa e a acumulação de lipídios. Os métodos de separação da biomassa, as técnicas de extração do óleo e de síntese do biodiesel também são campos que exigem projetos de desenvolvimento científico e tecnológico. É preciso ainda equacionar problemas relacionados à contaminação dos cultivos.

“Do ponto de vista econômico, precisamos produzir em escala maior e com custo menor. Do ponto de vista ambiental, trabalhar com a reutilização e tratamento das águas dos cultivos, além de contemplar aspectos sociais, de geração de emprego e renda”, avalia o professor Roberto Bianchini Derner, que coordena trabalhos com microalgas na UFSC.

Um dos projetos mais recentes tem apoio financeiro da Setec (a Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), sendo gerenciado via Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU).

Mais informações: Roberto Bianchini Derner / Departamento de Aquicultura / UFSC / robertoderner@lcm.ufsc.br / (48) 3721-4107

Material produzido para a Revista da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU) ∕  www.fapeu.br

Jornalista responsável: Arley Reis ∕  arleyreis@gmail.com
Fotos: Cláudia Reis

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