Geração de Orpheu é tema de aula magna e curso intensivo
“A cultura e a literatura portuguesas não seriam a mesma sem a revista Orpheu”, decreta o professor da Universidade Aberta de Portugal, Dionísio Vila Maior. Ele é um dos organizadores do congresso internacional “100Orpheu” e está na UFSC até sexta-feira, 17 de abril, para um curso intensivo e uma aula magna sobre a revista literária lançada em março de 1915 e assinada por autores como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e José de Almada Negreiros
Com apenas dois números (o terceiro foi cancelado por problemas financeiros) e uma “atitude saudável de agressividade”, Orpheu “marcou de forma indelével, pela força de seus textos, não apenas os contemporâneos, mas as gerações que lhes seguiram”, afirma Vila Maior. “(A revista) Permitiu a um conjunto de jovens promissores mexer com o nervo social – e este nervo alimenta muita coisa – e mitificar esses jovens.”

Professor Dionísio Vila Maior, da Universidade Aberta de Portugal. Foto: Henrique Almeida/Fotógrafo da Agecom/DGC/UFSC.
Conforme o professor, o “grande mitificado” foi Fernando Pessoa, “mas não podemos subalternizar os demais. Todos foram importantes na construção de paradigmas. Pessoa, Sá-Carneiro e Almada Negreiros se identificaram com o cânone, tiveram mais visibilidade e mais legados deixaram, com comunidades interpretativas acadêmicas desenvolvendo de forma mais profunda sua produção”.
Figura-chave da cultura contemporânea, Fernando Pessoa escreveu não apenas sua obra, mas também criou autores para ela, heterônimos – Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos são os mais conhecidos – que, ao contrário dos pseudônimos, têm múltiplas personalidades e biografias distintas. “A heteronímia não nasceu de um momento para o outro, já existiram outras formas de alteridade, e a leitura precisa ser fortemente contextualizada. Fernando Pessoa conhecia Freud, a ideia do alter-ego, o outro eu, mas ele era uma pessoa tão lúcida que não podemos nos fixar numa única explicação, seja psicológica, lúdica ou ontológica. Era muito consciente e sabia bem o que estava a fazer”, explica Vila Maior.
A presença de Vila Maior na UFSC veio de um diálogo com o coordenador do curso de Letras-Português e professor do Programa de Pós-Graduação em Literatura, Stélio Furlan. “Gostei muito da receptividade do público e da forma como interpelaram nesta primeira sessão (ocorrida segunda-feira, 13 de abril). A forma como fizeram intervenções revelou a maturidade com a qual encaram o fenômeno literário”, diz Vila Maior. A ideia dos eventos na UFSC é “criar novos públicos de investigadores, linhas de leitura, sistematizações. Vou sugerir uma linha de pesquisa nesta área em colaboração direta com o Clepul (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Queremos dar continuidade a este curso e eventualmente criar outros seminários sobre Modernismo e Literatura Portuguesa”.
O curso intensivo segue nos dias 16 e 17 de abril, quinta e sexta-feira, das 14 às 18h, no auditório Henrique Fontes do Centro de Comunicação e Expressão (CCE). Na quarta-feira, das 10 às 12h, haverá a aula magna do curso Letras/Português, com o tema “Os Modernistas e a demanda da totalidade essencial”, no mesmo local. As inscrições – realizadas no local – são gratuitas, e haverá emissão de certificado de participação.
Programação | Conteúdo | Data | Horário |
Aula magna | “Os Modernistas e a demanda da totalidade essencial” | 15 de abril | 10 às 12h |
Seminário “Fernando Pessoa: a racionalidade estética” | O contexto pós-positivista.Os ismos pessoanos e os ismos do Modernismo português.O processo de criação poética: fundamentos estético-literários.A heteronímia: pluridiscursividade ideológica. | 16 de abril | 14 às 18h |
Seminário “Os heterónimos pessoanos: o discurso no plural” | Alberto Caeiro:Poética e textos essenciais;Uma poética paradoxal;Alberto Caeiro e o Modernismo.Ricardo Reis:Poética e textos essenciais;Ricardo Reis e o Modernismo.Álvaro de Campos:
Poética e textos essenciais; Álvaro de Campos e o Modernismo. |
17 de abril | 14 às 18h |
Mais informações no site do evento.