Professores norte-americanos falam de letramento em evento de mídia-educação

04/09/2012 11:51

James Paul Glee fala e Gilka Girardello traduz

O professor  norte-americano James Paul Gee, da Arizona State University, disse na manhã desta terça-feira, 4 de setembro, na UFSC que a oferta de condições tecnológicas, em países desenvolvidos, está levando pessoas sem letramento a criar soluções que nem os cientistas conseguem obter. Em simulações e jogos de videogame tem sido possível mostrar que a inteligência coletiva alcança resultados surpreendentes, por exemplo, na pesquisa sobre proteínas que interferem no tratamento de doenças. James Gee fez a primeira palestra do IV Seminário de Pesquisa em Mídia-Educação e do I Seminário UCABASC, promovidos pelo Centro de Ciências da Educação da UFSC.

No auditório do CED, o professor citou o que chama de “movimento dos fazedores”, fenômeno que permite que um garoto de 12 anos faça um anúncio melhor do que os produzidos por agências profissionais de propaganda. Desde que munido de instrumentos para isso, e mesmo sem uma cultura letrada ou acadêmica, ele também pode produzir um software revolucionário ou criar um filme digno de Steven Spielberg. “Paulo Freire ficaria encantado com essas possibilidades”, afirmou Gee ao ressaltar a importância de colocar os meios digitais nas mãos de todas as pessoas.

O professor também citou a importância do uso de ferramentas inteligentes – como o videogame – para resolver problemas de diferentes níveis de complexidade. “Mesmo pessoas comuns que nunca conseguiram progressos a partir da escrita podem obter sucessos surpreendentes em suas áreas”. O risco de permitir o acesso a essas ferramentas de produção apenas a estudantes ricos é um papel que cabe aos educadores. “As mídias digitais são uma nova forma de letramento”, garante. “Elas dão às pessoas não apenas a capacidade de consumir, mas de produzir conteúdo”.

Reescrever o mundo – Presente no evento, a professora americana Elisabeth Hayes disse que adquirir letramento é mais do que aprender a ler e que experiências realizadas em comunidades dos Estados Unidos mostraram avanços na autoestima e na independência intelectual e financeira das pessoas que investem no aprendizado. Em relação às mulheres, especialmente, “se letrar muda a forma como elas se entendem a elas mesmas e são vistas pelas próprias famílias”. Segundo a professora, além de trazer o mundo para a sala de aula, essa iniciativa pode torná-las capazes de reescrever o mundo, que é sempre mais duro para elas.

Também aqui os jogos são um recurso valioso, embora nas universidades ainda haja um recolhimento, um constrangimento, por parte de mulheres que se sentem intelectualmente inferiores aos homens, sobretudo em áreas como a engenharia e a computação. “Ler e escrever ainda é muito importante, mas é preciso ir além, aprendendo a usar a linguagem para se expressar melhor e ser aceito nas comunidades”, afirmou.

 Paulo Clóvis Schmitz/ Jornalista da Agecom / UFSC
pcquilombo@gmail.com

Fotos:  Henrique Almeida / Agecom / UFSC
henrique.almeida@ufsc.br 

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