Desafios do jornalismo no “front” de batalha
O correspondente de guerra ganha fama e visibilidade profissional. No entanto, a rotina é dura e os perigos são diários. Em entrevista dada aos alunos do 10º Curso de Informação sobre Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência oferecido pela OBORÉ, o repórter Samy Adghirni, da Folha de S. Paulo, disse que faltam investimentos e profissionais qualificados que atuem em zona de conflito. Conviver cercado diariamente pelo perigo em meio às bombas, tiros, tanks e cadáveres não é fácil. Ele é repórter da editoria Mundo e Especialista em assuntos de Oriente Médio e política externa, e passou parte deste ano cobrindo a Primavera Árabe. “Não são todos que estão dispostos ou têm estomago para cobrir um conflito”, avisa.
Segundo Samy, a mídia brasileira ainda está atrás dos grandes canais de televisão como a CNN que possui grandes recursos para manter os profissionais por um longo tempo em outro país. “Os investimentos brasileiros são pequenos comparados aos de outros meios de comunicação de países estrangeiros”, afirmou. Para ele, muitas vezes os jornalistas devem ter em mente que as dificuldades a serem enfrentadas são enormes fisicamente e emocionalmente devem estar preparados para um ambiente insalubre, convivendo inclusive com racionamento de água e comida.
Samy Adghirni foi enfático: jornalistas em zonas de conflito devem se desdobrar rapidamente para apreender a realidade de modo imparcial a realidade em que estão inseridos, jamais devem se deixar envolver com a realidade dos habitantes locais. “Trabalhar em zonas de guerras para mostrar ao mundo as atrocidades de um conflito armado é uma das atividades mais difíceis de ser encarada pelo profissional”, arrematou.
Para cobrir um conflito as emissoras brasileiras se utilizam em grande parte imagens e informações distribuídas pelas grandes agências de notícias estrangeiras, poucas têm repórteres em zonas de batalha. Muitas vezes esses baixos investimentos se dão pelo pouco interesse da sociedade brasileira com as noticias internacionais que fazem o noticiário despencar quando apresentadas. O leitor, ouvinte ou telespectador, antes de tudo, encontra grande dificuldade em compreender por que os homens estão lutando.
Hoje os conflitos estão mais organizados, os repórteres estão protegidos por leis internacionais. O Direito Internacional é claro em seu Artigo 79 do Protocolo Adicional I, garantindo aos jornalistas todos os direitos assegurados aos civis durante conflitos armados internacionais ou não. Portanto, violações contra esses direitos constituem em graves violações às Convenções de Genebra e ao Protocolo Adicional I.
Diferenças entre correspondente de guerra e jornalista em guerra
Em um conflito armado, um profissional, seja ele correspondente de guerra ou jornalista, corre um grande risco de vida ao serem capturados ou presos arbitrariamente. Essa distinção é muito importante quando o que se está em jogo é a vida do profissional que está cobrindo um conflito. Ambos são reconhecidos como civis, mas apenas os correspondentes de guerra têm direito ao status de prisioneiro de guerra.
Os correspondentes de guerra são aqueles formalmente autorizados a acompanhar as forças armadas em patrulha pelo campo inimigo. Para o Direito Internacional Humanitário, é obrigatório o correspondente de guerra ter uma credencial oficial expedida pelas forças armadas. Só então lhe é concedido o mesmo status jurídico dos membros das forças armadas.
O irlandês William Howard Russell foi primeiro repórter civil a cobrir um conflito armado pelo jornal The Times, de Londres. Russell cobriu a Guerra da Criméia de 1853 a 1856, conflito que envolveu a Rússia e uma Aliança composta pelo Reino Unido, França, Sardenha (Itália) e Império Turco-Otomano (atual Turquia).
Só nos cinco primeiros meses deste ano, 27 jornalistas foram mortos de forma violenta por razões ligadas ao exercício da profissão. Os dados são do INSI (International News Safety Institute). Segundo a BBC-Brasil e o Watson Institute, da Brown University, o número de jornalistas mortos nos recentes conflitos do Iraque, Afeganistão e Paquistão chegam a 255 desde o inicio dos conflitos.
Damião Costa de Oliveira
Especial para a Agecom/UFSC