Fórum Ecoar: aliança comunitária quer transformar territórios por meio da extensão universitária

14/10/2025 16:04

Saneamento precário, mobilidade insuficiente, vulnerabilidade social são alguns dos problemas de Florianópolis que estão mapeados, diagnosticados e documentados em pesquisas acadêmicas. Mas como transformar esses dados em ação? Como fazer a universidade transpor seus muros e devolver à sociedade, em forma de solução, o conhecimento que produz? É nessa ponte entre academia e comunidade que atua o Fórum Ecoar, uma aliança comunitária que reúne Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), e ainda 56 organizações e movimentos sociais para construir respostas coletivas aos desafios dos bairros da capital catarinense.

A parceria tornou-se institucional em 27 de julho de 2024, quando a UFSC e o Fórum Ecoar firmaram o Protocolo de Intenções para a Curricularização da Extensão. O reitor, Irineu Manoel de Souza, e o coordenador do Fórum, Eugênio Luiz Gonçalves, assinaram acordo alinhando a universidade às diretrizes da Resolução CNE/CES nº 7/2018 e consolidando uma estratégia que leva a comunidade universitária aos territórios, transformando-os em laboratórios vivos de aprendizagem, pesquisa e transformação social.

Estande do Fórum Ecoar na Sepex (2023)

O protocolo reconhece que os territórios são espaços onde problemas e potencialidades locais inspiram soluções criativas, sustentáveis e socialmente justas, em sintonia com o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Para a pró-reitora de Extensão da UFSC (Proex), Olga Regina Zigelli Garcia, o regulamento “reconhece que o conhecimento, para ser emancipador, precisa circular, dialogar e se reinventar em contato com as realidades concretas da sociedade”.

Na avaliação de Olga Regina, a parceria “desloca a universidade de uma lógica vertical para uma horizontal e colaborativa, na qual o conhecimento é coproduzido com as comunidades”. Mais do que uma colaboração acadêmica, trata-se de uma aliança pela democracia e pela justiça social, que reconhece a comunidade como coautora do conhecimento e protagonistas da mudança.

Ao estabelecer a parceria, a UFSC reafirma sua vocação pública e cidadã, fortalecendo a extensão como via privilegiada de aproximação entre universidade e sociedade. A iniciativa visa mobilizar estudantes, docentes e técnicos-administrativos das três instituições públicas de ensino superior a atuarem diretamente nos territórios, aprendendo com as comunidades e contribuindo para soluções em educação, cultura, saúde, meio ambiente, habitação e economia solidária.

Da experiência comunitária à articulação institucional

Criado em 2021 e articulado pelo administrador aposentado da UFSC, Eugênio Luiz Gonçalves, o Fórum nasceu da experiência concreta de autogestão comunitária. Morador da Costa de Dentro desde 2010 e voluntário do conselho comunitário local, Eugênio testemunhou como a comunidade gere há 35 anos o abastecimento de água para 199 famílias por meio do CODEN, sem apoio do poder público. Essa vivência, somada à participação em conselhos municipais e em imersões de estudantes da UFSC em projetos de saneamento e resíduos sólidos, sedimentou uma convicção: a universidade precisa estar presente nos territórios, transformar pesquisa em política pública e disponibilizar seu conhecimento à sociedade de forma continuada.

“Os alunos vão ao bairro, fazem pesquisa, a informação morre na sala de aula”, sintetiza Eugênio. Para ele, o abismo entre o discurso de “cidade inteligente” e a realidade dos territórios, com baixa cobertura de saneamento e alta vulnerabilidade, evidencia a urgência de uma mudança de método. O Fórum propõe grupos de trabalho interdisciplinares e permanentes atuando em bairros-piloto por ciclos sucessivos de diagnóstico, ação, avaliação e retorno, garantindo soluções progressivas.

Projetos em ação nos territórios

Projeto Fesinova, no Conselho Comunitário da Costa de Dentro (2024)

Na prática, a curricularização da extensão na UFSC já ganha corpo em projetos que respondem a demandas concretas das comunidades. No segundo semestre de 2024, iniciativas como o Fesinova — Fortalecendo a Economia Solidária no Distrito do Pântano do Sul, e o curso “Empreendedorismo e Projetos Sociais: da Ideia à Transformação Comunitária” aproximaram lideranças locais e acadêmicas.

Projetos como “Regenera Lagoa”, que promove a regeneração do Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição, e o guia de Turismo na Comunidade do Pântano do Sul evidenciam a integração entre conservação ambiental, inclusão produtiva e planejamento territorial. A salvaguarda do patrimônio material e imaterial da pesca artesanal na Barra do Sul, as ações de inclusão digital de idosos (Conexões Costa de Dentro), a Escola Sustentável com foco em Lixo Zero e a criação da Feira da Costa para pequenos empreendedores ilustram um leque de ações orientadas ao bem comum e à geração de renda com base comunitária.

A “Escola de Extensão da UFSC” ampliou esse alcance ao ofertar capacitações diretamente ligadas às necessidades dos bairros: formação para gestores comunitários e associações de moradores, captação de recursos para projetos locais, cursos práticos para cuidadoras e familiares de idosos com Parkinson e demência, educação alimentar e energética, orientação sobre imposto de renda, horta comunitária e compostagem urbana, programação e desenvolvimento de sistemas, design aplicado à gestão comunitária, entre outros.

Governança participativa e plataforma digital

Reunião no IFSC (2023)

O Fórum funciona com governança compartilhada, participativa e democrática. De um lado, reúne conselhos e associações de moradores, movimentos sociais e lideranças comunitárias articulados em redes; de outro, mobiliza as três instituições – UFSC, Udesc e IFSC -, para executar ações de extensão articuladas a ensino e pesquisa aplicada, com impacto direto nos bairros.

Eugênio informa que a aliança é suprapartidária. “Política pública, não política partidária”, afirma. Para ele, a ciência é o elo capaz de unir frentes distintas em torno de problemas comuns.

A plataforma digital do Ecoar (ecoar.ufsc.br) funciona como ferramenta de gestão e ponte entre demandas comunitárias e oferta universitária. Neste site, qualquer pessoa pode registrar e acompanhar o status das demandas.

Perspectivas futuras

No horizonte próximo, o Ecoar se alinha ao projeto Unicom (Universidade-Comunidade), concebido à semelhança do Projeto Rondon, mas aplicado bairro a bairro, com base no diagnóstico já produzido. A ideia é organizar frentes integradas de extensão, pesquisa e ensino para enfrentar problemas como saneamento, mobilidade e vulnerabilidade social, com metodologias de imersão e acompanhamento contínuo.

Projeto Unicom (2025)

Eugênio também propõe a criação de uma incubadora social interinstitucional, voltada à economia solidária, criativa e gastronomia, para apoiar quem já empreende por necessidade nas periferias. “O nosso maior recurso é a inteligência”, diz, criticando a concentração de esforços apenas na interface universidade–indústria e defendendo que a mesma potência se volte aos bairros.

O chamado é direto: com cerca de 100 mil pessoas circulando entre UFSC, Udesc e IFSC, há capital humano para transformar realidades locais. O Fórum oferece a ponte, a governança e a plataforma.

Convite à participação

O Fórum Ecoar reforça o convite à participação de estudantes, docentes e técnicos das três IFES a integrarem uma aliança comunitária que conecta a universidade às demandas reais dos bairros. A proposta é fazer da cidade um laboratório vivo, onde saberes acadêmicos, técnicos e populares se encontram para construir soluções coletivas orientadas pelo bem comum, sustentabilidade e justiça social.

Para a comunidade universitária, o Ecoar representa uma oportunidade concreta de colocar a extensão no centro da formação e da vida acadêmica: estudantes podem cumprir a curricularização com projetos de impacto real; docentes podem articular disciplinas e pesquisas às necessidades dos territórios; técnicos podem aportar conhecimento aplicado à gestão pública e comunitária.

A efetividade do protocolo depende do engajamento ativo da comunidade universitária. É necessário construir uma cultura institucional de participação, sensibilizar para o valor pedagógico, social e político da extensão, criar condições para a atuação nos territórios e reconhecer, institucionalmente, o mérito desse engajamento. “O êxito será medido pelas vidas tocadas, vínculos criados e saberes compartilhados — não por documentos assinados”, concluiu a pró-reitora.

Organizações comunitárias e coletivos podem formalizar a entrada na rede pelo Formulário de Adesão.

Moradores, lideranças e grupos podem encaminhar necessidades do bairro pelo Formulário de Demandas.

Grupos de extensão, laboratórios e disciplinas podem identificar demandas “em aberto” no site ecoar.ufsc.br e propor a adoção, iniciando o ciclo de trabalho conjunto.

Mais informações:

Site: ecoar.ufsc.br
WhatsApp: (48) 99164-1958 (Eugênio Gonçalves)
Instagram: @fgecosocial

 

Rosiani Bion de Almeida | Divisão de Imprensa do GR
imprensa.gr@contato.ufsc.br

 

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