Equipe da UFSC traduz entrevista inédita de criador da Teoria do Big Bang
Um grupo de alunos do curso de Engenharia Aeroespacial, do campus da Universidade Federal de Santa Catarina em Joinville traduziu uma entrevista inédita que foi descoberta recentemente com o criador da Teoria do Big Bang, Padre Georges Lemaître. O trabalho foi orientado pelo professor Alexandre Zabot e está publicado no Youtube e também aqui.
“Ao que me consta, é a primeira tradução para língua portuguesa”, explica o professor Zabot, que supervisionou a tradução de Ana Clara Souza Santos, Maria Eduarda Machado de Oliveira e Guilherme Henrique Pick Costa. O trabalho durou cerca de duas semanas, durante o período de recesso. Segundo Zabot, esta também foi a primeira vez que os estudantes fizeram uma tradução e montagem de legendas.
Originalmente, a entrevista foi feita em francês, mas o processo de tradução dos alunos ocorreu a partir de uma versão em inglês que foi publicada como artigo. “Primeiro fizeram a tradução deste artigo e então montaram um arquivo de legendas, sincronizando com os instantes das falas. Feito isso, foi preparado o vídeo com a introdução e com as legendas na imagem”, contou.
O trabalho é relevante pois esta é a única entrevista televisiva conhecida do Padre Georges Lemaître. Ela foi realizada em 1964, por uma emissora belga, que a divulgou novamente em 2022 por ter encontrado em seus arquivos em uma categoria errada e com o nome de Lemaître grafado incorretamente. “A entrevista aconteceu em 1964, uma época em que a Cosmologia ainda engatinhava em obter resultados observacionais relevantes para os modelos teóricos”, contextualiza Zabot.
Um dos temas sobre os quais o criador da Teoria do Big Bang fala é o Modelo Estacionário de Fred Hoyle, já descartado hoje em dia. “Na época, Fred Hoyle e muitos outros físicos importantes contestavam o modelo de Lemaître e outros físicos de que o Universo estivesse passando por uma expansão”, pontua o professor. Ele conta que nesse mesmo período havia uma discussão sobre o real significado da famosa observação de Edwin Hubble de que as galáxias tinham um desvio espectral para o vermelho.
“Lemaître e muitos outros defendiam que esse desvio deveria ser interpretado como um afastamento sistemático de todos os objetos do universo, causado pela expansão de todo o cosmos. Outros físicos procuravam explicações em efeitos diferentes”, conta. “Então, do ponto de vista científico, chama a atenção a questão histórica, do desenvolvimento da Teoria do Big Bang, que demorou bastante tempo para ser aceita. A entrevista acontece mais de 30 anos depois da proposta inicial do modelo!”
Outro ponto destacado por Zabot é que a entrevista também destaca a visão de Lemaître de que não era possível definir um instante inicial para o começo do Universo. Ele argumentou, com base em fenômenos quânticos, para os instantes iniciais. “É interessante porque muito recentemente Stephen Hawking e outros cosmólogos propuseram ideias muito semelhantes de que talvez o tempo não existisse nos primeiros instantes, ou tivesse um comportamento bem diferente do que observamos hoje”.