Fórum da UFSC promove audiência pública sobre política institucional de formação docente

24/09/2025 16:12

Fórum das Licenciaturas UFSC promove audiência pública para discutir a política institucional de formação docente. Fotos: Gustavo Diehl/Agecom

No segundo dia do Fórum das Licenciaturas UFSC, em 23 de setembro, uma audiência pública foi promovida no período da tarde para discutir a proposta de política institucional de formação inicial e continuada de professoras/es da Universidade. O evento, mais uma vez com auditório lotado, reuniu docentes, técnicos, estudantes de licenciatura e outros membros da comunidade acadêmica com o objetivo de debater as diretrizes e o texto-base da política, que permanece em consulta pública até o dia 10 de outubro.

A audiência foi conduzida pelos especialistas Carolina Cherfem, Jocemara Triches, Maria Helena Michels e Ivandro Carlos Valdameri. A abertura feita pela professora Jocemara sublinhou a relevância do tema para a universidade e para a formação docente: “é uma alegria ver este auditório cheio para discutir um tema tão essencial. Estamos aqui para construir coletivamente uma política institucional que fortaleça a formação docente em nossa instituição”.

Durante o debate, integrantes do Fórum das Licenciaturas relataram o histórico de construção do documento e os desafios enfrentados ao longo do processo. O servidor Ivandro enfatizou as dificuldades vividas durante a pandemia de Covid-19 e o impacto das resoluções federais na configuração dos cursos de licenciatura. Ele ressaltou que, nesse contexto, instituições que já tinham políticas institucionais consolidadas conseguiram lidar melhor com as pressões externas. “As universidades que tinham uma política de formação docente consolidada conseguiram se posicionar frente às mudanças impostas pelo governo federal e pelo mercado. Foi isso que nos motivou a construir algo sólido aqui na UFSC”.

A professora Carolina detalhou as etapas de elaboração do texto da política, destacando o esforço coletivo das comissões envolvidas. Ela ressaltou que o documento passou por revisões criteriosas, incluindo análises comparativas das resoluções de 2015, 2019 e 2024. “Analisamos cada detalhe dessas normas para garantir que a nossa política seja representativa e adequada às necessidades da nossa universidade, sem perder de vista os princípios fundamentais da educação pública”, lembrou.

Entre os temas mais discutidos, a organização curricular dos cursos de licenciatura foi um dos destaques. A proposta prevê uma divisão em quatro núcleos principais: formação específica, formação pedagógica, estágio e extensão. Segundo Carolina, a intenção é promover uma formação integrada, que relacione teoria e prática de maneira coerente. Ela também defendeu a manutenção das práticas como componente curricular (PCCs), mesmo diante das mudanças estabelecidas pelas diretrizes nacionais. “As resoluções mais recentes tendem a separar teoria e prática, mas acreditamos que os PCCs são essenciais para garantir uma formação mais completa e articulada”, explicou.

O estágio, por sua vez, foi outro ponto sensível do debate. A comissão propôs que as 400 horas de estágio dos cursos de licenciatura comecem a partir da terceira ou quarta fase, em oposição à ideia de iniciar desde a primeira, como sugere a resolução nacional de 2024. Ivandro argumentou que antecipar o estágio pode comprometer a formação dos estudantes, que ainda não teriam uma base teórica consolidada para refletir sobre a prática docente. “Precisamos garantir que os estágios sejam momentos de reflexão e prática fundamentada, e não apenas uma resposta a exigências pragmáticas”, enfatizou.

A professora Jocemara também chamou atenção para a inclusão de disciplinas obrigatórias voltadas à educação especial e à educação para diversidade, como relações étnico-raciais, gênero e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Segundo ela, essas disciplinas são fundamentais para preencher lacunas na formação dos futuros professores. “É inadmissível que nossos estudantes concluam os cursos de licenciatura sem uma discussão aprofundada sobre educação especial e interseccionalidade. Essas questões precisam estar presentes de forma robusta em todos os currículos”, reforçou.

A extensão universitária também foi um tema amplamente discutido e criticado, especialmente quanto à maneira como é abordada nas diretrizes nacionais. A comissão defendeu que as atividades de extensão sejam realizadas tanto em espaços escolares quanto em não escolares, promovendo projetos educativos e formativos que incentivem a participação ativa dos estudantes. A professora Carolina destacou a possibilidade de integrar programas como o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) às atividades de extensão, como estratégia para valorizar e ampliar a formação prática.

Relatos sobre os desafios enfrentados pelas licenciaturas noturnas e fora da sede da UFSC também foram trazidos à audiência. Entre as dificuldades mencionadas estavam a falta de infraestrutura adequada, secretarias fechadas e problemas na articulação com as redes de ensino básico. Os participantes reforçaram a necessidade de maior apoio institucional para garantir condições adequadas de permanência e formação, especialmente para estudantes que, em sua maioria, conciliam trabalho e estudo.

Ivandro encerrou sua participação evidenciando que a política institucional de formação docente vai além de um conjunto de normas, sendo uma verdadeira declaração de intenções da UFSC para fortalecer a formação de professores. “Esta política é uma expressão do nosso compromisso com a educação pública, com a autonomia universitária e com a construção democrática. Certamente, cada um de nós faria um texto diferente, mas o espírito coletivo e democrático permeou todas as etapas deste processo”, salientou.

A audiência pública foi concluída com a abertura para sugestões e contribuições dos participantes, que ainda podem ser enviadas por meio do site do Fórum das Licenciaturas. A versão final do documento será submetida à Câmara de Graduação e ao Conselho Universitário (CUn), que decidirão sua aprovação.

 

Assista aos debates do segundo dia na íntegra:

Mais informações pelo e-mail forum.licenciaturas@contato.ufsc.br

 

Rosiani Bion de Almeida | SECOM
imprensa.gr@contato.ufsc.br

Fotos: Gustavo Diehl | Agecom

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