Aplicativo para combate ao assédio no trabalho é desenvolvido com participação da UFSC

25/09/2025 17:43

Depois de muito tempo desempregada, Ana iniciava em um novo emprego como vendedora em uma loja de calçados. Era um primeiro passo para sua independência financeira, já que, até então, contava com a ajuda dos pais e do marido para se sustentar. Porém, o comércio não ia bem. “Podia ser o ponto da loja ou a falta de promoções, não sei dizer. Mesmo me dedicando muito para vender, os calçados não saíam”, conta Ana.

“Incompetente” e “preguiçosa” foram algumas das acusações do chefe, Jorge, que falava cada vez mais alto com a vendedora. Até mesmo tentou coagi-la a assinar sua própria demissão, e a situação de estresse gerava cada vez mais ansiedade a Ana.

Essa é uma das 11 histórias inspiradas em situações reais presentes no aplicativo SOS Dignidade – Trabalho sem assédio!, desenvolvido em parceria pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pela Universidade de Campinas (Unicamp), pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) e pelo Ministério Público do Trabalho do Estado de São Paulo (MPT/SP), com chancela da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Ao fim da história, o usuário do aplicativo  pode sugerir ações à personagem, como a denúncia no Ministério Público do Trabalho ou a busca por apoio social e psicológico.

O app foi divulgado nas redes sociais em 7 de setembro e já está disponível para download na Google Play Store. O lançamento institucional será em breve, com representantes das instituições parceiras. Com mais de uma funcionalidade, a iniciativa é voltada a trabalhadores, gestores, docentes, universitários, profissionais liberais, técnicos, organizações e sociedade civil.

São quatro seções principais: histórias, como a de Ana, que exemplificam casos de assédio moral, sexual, racismo e outras violências; questionários que auxiliam na identificação de violência no trabalho; onde e como denunciar, para busca de canais adequados e os respectivos links para realizar a denúncia; e mais informações, com legislações e convenções que tratam sobre o trabalho.

Trabalho em conjunto

“Certamente é uma inovação por se tratar de uma ferramenta acessível para ser baixada gratuitamente e em celulares mais básicos para dar condição de acesso a todos e todas que buscam prevenir e enfrentar os problemas citados”, explica a professora Suzana da Rosa Tolfo, do Departamento de Psicologia da UFSC. Com ela, também atuou Renato Tocchetto de Oliveira, representante do MTE, com o qual a professora atuou em conjunto para firmar diversos convênios institucionais há mais de 15 anos, e depois houve também a participação da professora Renata Carvalho da Silva Chinelato, do Departamento de Psicologia. 

Em 2020, a equipe formada pelas professoras da UFSC, pelo representante do MTE, e pelo professor José Roberto Montes Heloani, do Departamento de Educação da Unicamp, publicou uma cartilha sobre Violências, Assédios e Discriminações no Trabalho. A cartilha foi financiada pelo MPT/SP, graças à parceria com a procuradora Valdirene de Assis. 

Suzana conta que, dado o reconhecimento do trabalho, a procuradora de SP, que havia participado das discussões da Convenção nº 190 da OIT em Genebra, colocou ao grupo de pesquisadores o desafio de planejar e  elaborar conteúdos técnico-científicos sobre assédios e violências para um aplicativo, com aporte da OIT.

A equipe se reuniu durante 16 meses para definição de conteúdos, formatos e seções do app. A professora Suzana, que também integra o Núcleo de Estudos de Processos Psicossociais e de Saúde nas Organizações e no Trabalho (Neppot) da UFSC, coordenou os trabalhos técnicos e contou, ainda, com a participação da procuradora Adriane dos Reis do MPT/SP.

Tags: aplicativoassédio no trabalhoMinistério do Trabalho e do Emprego (MTE)Organização Internacional do Trabalho (OIT)UFSCUniversidade de Campinas (Unicamp)Universidade Federal de Santa Catarina