Quando arte e ciência se encontram: mural de Fritz Müller é inaugurado no CCB

Moldura do mural contém frases em alfabeto criado por Luiz Felipe (Foto: Camila Collato/Agecom UFSC)
Entre as paredes dos novos blocos do Centro de Ciências Biológicas (CCB), no bairro Córrego Grande, em Florianópolis, um mural se destaca do fundo branco e chama a atenção de quem passa. Traços brancos de pincel em um fundo negro, que remetem à xilogravura ao mesmo tempo que agregam elementos da arte urbana com aplicações em spray, ganham toques cá e lá de vermelho sangue. A obra, uma homenagem a Fritz Müller, será inaugurada oficialmente nesta sexta-feira, 18 de novembro, às 16h10, no auditório do Centro de Ciências Biológicas (CCB), como parte da Semana de Integração das Pós-Graduações do centro e também das comemorações do bicentenário do naturalista alemão.
Localizado num conjunto de edifícios que também leva o nome do cientista, que se fixou em Santa Catarina no século XIX, o mural concebido por Luiz Felipe Cordeiro Serigueli, artista que cursa o mestrado do Programa de Pós-graduação em Ecologia da UFSC, retrata não só a vida de Müller como a sua. “Eu uso o preto e branco para expressar a antagonia, a ambiguidade da vida. Talvez porque a minha seja sempre muito permeada por essa questão”, pondera entre risos, Luiz, de 25 anos, que se identifica como uma pessoa não binária. Nesse jogo de extremos, o vermelho surge como elemento de união. “Acho que o vermelho, como cor do sangue, da vida, passa essa sensação da de união e transgressão”, afirma. Para Luiz, a própria vida do naturalista foi marcada por dicotomias e contrastes, uma pessoa que não se integrava aos padrões da época.

Com seu cajado e de pés descalços: assim foi como Fritz Müller (1886) elaborou contribuições científicas que lhe renderam o título de “príncipe dos observadores”.
Este segundo mural foi inspirado nas referências estéticas do primeiro elaborado por Luiz Felipe, localizado na lateral do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC, fruto de um concurso cultural sobre a obra literária Ulisses, do romancista irlandês James Joyce. A relação de artista com a vida e a obra de Fritz Müller começou com experiências com voluntariado nos eventos do bicentenário do cientista, em especial, na exposição que foi realizada na Beira-mar, em Florianópolis, em maio deste ano. Aos poucos, Luiz foi se familiarizando com os elementos da trajetória científica e pessoal de Müller, que se notabilizou para o grande público por suas contribuições à Teoria da Evolução de Charles Darwin.
O mural condensa um pouco dessa história, trazendo referências ao mimetismo mülleriano – muito lembrado pelos estudos com as borboletas – aos estudos de espécies marinhas da fauna local catarinense e também uma alusão às ilustrações botânicas de sua filha Rosa Müller, com quem possuía mais afinidade e compartilhava a paixão pela observação e pela pesquisa.
O professor e pesquisador da vida marinha, Alberto Lindner, foi o responsável pela articulação com a direção do CCB para viabilizar a obra e cuidou dos detalhes técnicos. “Muita gente acaba lembrando dos insetos e das plantas quando falamos no Fritz Müller, mas acabam deixando de lado essas contribuições que ele nos deu no litoral de Santa Catarina”, pondera. Depois da aprovação para pintar o local, a comunidade do CCB se mobilizou por meio de uma vaquinha coletiva para custear a obra.
A boa recepção da iniciativa por parte da comunidade do CCB já faz com que tanto o professor, quanto Luiz visualizem novos projetos semelhantes no local. Nada mais adequado ao lema da própria universidade: ars et scientia.
Camila Collato/Agecom UFSC