Professora da UFSC publica texto sobre varíola dos macacos: ‘O que estamos esperando para agir?’
Um grupo de pesquisadores de instituições de pesquisas brasileiras e da Comissão de Epidemiologia da Associação Brasileira de Saúde Coletiva publicou, em preprint, um artigo sugerindo ações para o enfrentamento à Monkeypox, a varíola dos macacos. Uma das autoras, a professora do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Alexandra Boing, falou à Folha de S. Paulo sobre o assunto: “A partir do momento que você não tem dados, não consegue gerar informação de qualidade para comunicar a população e os profissionais de saúde e guiar as ações e políticas de saúde”, disse, na entrevista. O texto foi submetido à Revista Brasileira de Epidemiologia.
Os cientistas chamam a atenção para o desafio sanitário que se coloca ao Brasil, já que a escalada de casos ocorre em meio a um cenário em que o país convive com a pandemia da Covid-19. O primeiro caso importado no Brasil foi confirmado em 9 de junho, mas, em pouco mais de um mês, havia 813 casos registrados e transmissão comunitária no país.
Os pesquisadores apontam para a falta de estrutura laboratorial para diagnóstico rápido e desestruturação dos serviços de vigilância. “Ações rápidas e coordenadas são urgentes e imprescindíveis”, pontuam, recomendando medidas como a definição de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas na rede de atenção à saúde, a implementação de um sistema de informação unificado para registro dos casos confirmados e o treinamento e formação de profissionais de saúde. O grupo também sugere “campanhas e ações de comunicação de risco em saúde junto à população sobre a doença, sinais, sintomas, medidas preventivas e combate ao estigma, pensadas e organizadas com participação ativa das comunidades”.
Segundo o texto, a Monkeypox é uma zoonose endêmica na África Central e Ocidental, causada por um orthopoxvírus, até então, em grande parte, ignorada globalmente. O artigo informa que, desde maio, vários casos foram reportados por países onde a doença não é endêmica, registrando rápida disseminação. Até 24 de julho foram mais 16 mil casos em 75 países. Os pesquisadores alertam, ainda, que apesar do nome com que se popularizou a doença, o macaco não é o principal reservatório do vírus, o que exige ações para evitar o extermínio do animal.
Apontada como inicialmente branda em pacientes saudáveis, a doença oferece mais risco de complicações em crianças, grávidas e pacientes imunodeprimidos. Dados indicam que a transmissão do vírus ocorre a partir do contato direto com lesões cutâneas, fluidos corporais, gotículas respiratórias, durante contato físico próximo, relações sexuais e aglomerações. “Garantir o acesso igualitário aos recursos disponíveis para o enfrentamento da doença é indispensável diante de mais uma emergência de saúde pública de doença transmissível”, sinalizam os cientistas.