Veleiro ECO da UFSC participará de novas expedições do Projeto AtlantECO

15/02/2022 08:52

Equipe de pesquisadores e voluntários do AtlantECO teve forte presença feminina (Foto: Andrea Freire)

Como parte do Projeto AtlantECO, o Veleiro ECO da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) vai navegar muito em breve por boa parte da costa brasileira com paradas em diferentes cidades para os Port Calls e pesquisas científicas ao longo do percurso. Os Port Calls do Projeto AtlantECO são eventos de extensão acadêmica que ocorrem em terra e visam promover a Cultura Oceânica e a conscientização ambiental. Estão previstos para ocorrerem em diferentes cidades da costa brasileira, africana e europeia, com a participação de três veleiros de pesquisa oceanográfica: o ECO da UFSC, o Veleiro Tara da Fundação Francesa Tara Ocean e o Eugen Seibold do Max Planck Institute for Chemistry, da Alemanha. Além das ações de extensão, os veleiros e outras três embarcações envolvidas no projeto irão também coletar amostras para pesquisa científica, com ênfase no Microbioma do Atlântico, poluição plástica e conectividade oceânica.

A expectativa é grande para este ano, mas a participação do Veleiro ECO neste projeto internacional (Programa H2020, Chamada Blue Growth), teve início no final do ano passado. Sob a coordenação da professora Andrea Santarosa Freire (CCB/ECZ) e em parceria com o coordenador do Projeto Veleiro ECO, professor Orestes Alarcon (CTC/EMC), o ECO esteve no Rio de Janeiro e em Itajaí, onde foi uma das atrações principais dos Port Calls.

No dia 31 de outubro o Veleiro ECO partiu rumo ao Rio de Janeiro com uma equipe de nove pessoas entre tripulantes, professores e alunos de pós-graduação da UFSC e equipe de comunicação. O Veleiro ECO permaneceu no Rio de Janeiro, de 7 a 11 de novembro, onde encontrou pela primeira vez o Veleiro Tara, embarcação que inspirou a criação e consolidação do ECO. “Foi um grande desafio a primeira expedição de longo percurso do Veleiro ECO, considerando que se trata da realização de testes importantes de navegabilidade, desempenho e segurança, além de comportamento e vivência a bordo, somando-se ao treinamento de práticas de protocolos de amostragem. Com tais experiências, o Veleiro ECO vai se aperfeiçoando com o objetivo de realizar uma experiência inédita na UFSC”, ressalta Orestes Alarcon.

Atracado na Marina da Glória, o Veleiro ECO ficou aberto para visitação pública e para recepção de grupos escolares. Aproximadamente 400 crianças de escolas da região, além de cerca de 200 pessoas do público em geral puderam conhecer o Veleiro ECO e as exposições de microbioma e microplásticos do projeto AtlantECO e da Fundação Tara Ocean. A programação contou ainda com duas conferências voltadas para a sustentabilidade dos oceanos, uma no Museu do Amanhã e outra na BiblioMaison, no Consulado Geral da França no Rio. Nesta, a Professora Andrea Freire falou sobre a relevância do Projeto AtlantECO e da importante contribuição do Veleiro ECO e das instituições brasileiras na Década do Oceano.

Ainda no Rio de Janeiro a doutoranda Érica Becker, da PPG Ecologia da UFSC e o doutorando Pedro Junger, da PPGERN da UFSCar, duas das cinco instituições brasileiras que participam do projeto, desembarcaram após uma expedição científica de 20 dias a bordo do Tara na Cadeia de Montanhas Submarinas Vitória-Trindade (CMSVT). A capacitação de pesquisadores brasileiros faz parte também dos objetivos do AtlantECO.

Port Call em Itajaí

Voluntária do Port Call e mestranda pós-graduação em Ecologia da UFSC Daniela Castro fala sobre lixo marinho, microplásticos e plastisfera a estudantes no Centreventos de Itajaí (Foto: Equipe do AtlantECO/Divulgação)

No dia 11 de novembro, ECO e Tara partiram juntos do RJ e, após uma parada breve do Tara em Santos, se reencontraram em Itajaí, onde ficaram atracados de 16 a 19 de novembro. No retorno para Santa Catarina o ECO contou com a presença do professor Marcio Tamanaha, da  Univali, que aproveitou a navegação para fazer uma Amostragem Contínua de Plâncton por cerca de 100 milhas no trajeto entre RJ e Itajaí, usando um Veículo Oceanográfico de Reboque (VPR). O professor Tamanaha utiliza o material coletado para avaliar a diversidade e produtividade do ecossistema na região.

Um trabalho em parceria com o curso de Pós-graduação em Engenharia de Materiais da UFSC vai permitir a análise de microplásticos nas mesmas amostras. O doutorando Henrique Back usa técnicas de caracterização tradicionais no desenvolvimento de materiais e no controle de qualidade na indústria para identificar as pequenas partículas de plástico e estimar a concentração do microlixo na água. Segundo Henrique, “nosso trabalho durante as expedições do ECO gera resultados importantes que nos ajudam a entender o que acontece com o lixo plástico nos oceanos e como ele afeta o equilíbrio dos ecossistemas. Acredito que difundir o conhecimento que está sendo gerado aqui é uma maneira de dar um retorno à sociedade e de motivar as pessoas a se envolverem também, cada um à sua maneira. Os Port Calls são uma ótima oportunidade para isso porque reúnem um público bastante diverso e têm visibilidade. Ajuda a mensagem a chegar mais longe”.

Na Marina Itajaí, grande parceira de eventos do projeto, uma extensa programação que incluiu palestras, mesas redondas, sessão de cinema, exposições, entre outros, foi realizada com a finalidade de promover a conscientização ambiental, especialmente, com relação à saúde e à proteção dos oceanos. Por meio de uma parceria com a Aliança Francesa, o artista Edson Macalini apresentou seu modo de trabalho com uma exposição visual “As algas verdes filamentosas”, mostrando como a arte e a natureza se relacionam com sua obra artística.

Durante os quatro dias, cerca de 500 pessoas passaram pelo evento, incluindo 240 alunos de escolas públicas de Itajaí. A Conferência “Ecoando a Ciência no Atlântico”, realizada no Centreventos, em parceria com a Secretaria de Turismo de Itajaí, reuniu aproximadamente 100 pessoas que conferiram palestras sobre redes colaborativas para a pesquisa e sustentabilidade do Oceano Atlântico. A conferência contou com a participação de professores de outros projetos do Programa All-Atlantic, como Sérgio Floeter e Marinez Scherer da UFSC (https://missionatlantic.eu) e José Angel Perez, da Univali (https://www.iatlantic.eu).

De forma mais descontraída, a Conferência do dia 18 “Velejando, entendendo e protegendo o Oceano”, reuniu diferentes pessoas e entidades apaixonadas pelo mar, como a equipe dos Veleiros Tara e ECO, David Schurmann, a Associação Náutica de Itajaí (ANI) e o casal de youtubers OddLife crafting. Na ocasião, os pós-graduandos da UFSC Henrique Back e Isis Batistela e o marinheiro e oceanógrafo Guilherme da Silva contaram suas experiências a bordo e perspectivas futuras como parte da equipe dos Projetos AtlantECO e Veleiro ECO.

Voluntários

O evento do Rio e, principalmente de Itajaí, tiveram a relevante participação de estudantes de graduação e pós-graduação da UFSC e da Univali, que colaboraram de forma voluntária durante toda a programação. Para a professora Andrea Green Koettker, pós-doc do Projeto AtlantECO (PPG Ecologia/UFSC) e coordenadora dos eventos de extensão, “a atuação dos voluntários locais e da UFSC nos Port Calls é imprescindível para o bem-estar da equipe e sucesso do evento. São muitas atividades em um curto espaço de tempo com a participação de um grande número de visitantes. Para atender a demanda, a equipe tem que conciliar o trabalho na pesquisa e o cuidado com a embarcação com as visitações aos Veleiros ECO e Tara, exposições, conferências e demais atividades programadas”.

O ECO testa as velas durante navegação do Rio de Janeiro para Itajaí (Foto Andrea Freire)

Os Port Calls promovidos pelo Projeto AtlantECO tiveram ainda um significado especial, uma vez que, para muitos, foi o primeiro evento presencial após um longo período de isolamento social e incontáveis reuniões e encontros online. Isis Batistela completa ainda que “o evento foi um marco, pois depois de tanto tempo participando interagindo com pessoas apenas de forma online, pudemos nos encontrar de verdade, seguindo as medidas de segurança, num evento tão inspirador. Era nítida a alegria da equipe e dos visitantes”.

Itajaí foi a última parada do Veleiro Tara na expedição da costa brasileira, que incluiu Port Calls nas cidades de Belém, Salvador, Rio de Janeiro e Itajaí, como também pesquisas científicas ao longo de todo o percurso navegado, com ênfase na Pluma do Rio Amazonas e na Cadeia de Montanhas Submarinas Vitória-Trindade. Escoltado pelo Veleiro ECO e uma pequena frota de embarcações locais, o Tara partiu no dia 19 de novembro rumo a Buenos Aires, na Argentina, com paradas para pesquisa durante o percurso.

A professora Andrea Green atuou como Chefe de Pesquisa desta expedição, que teve também a participação de mais 3 cientistas, do artista Edson Macalini, um repórter e 7 tripulantes. Durante 8 dias de embarque a equipe coletou aproximadamente 400 amostras químicas e biológicas que serão analisadas no Projeto. “Os resultados das pesquisas ajudarão a entender o papel do microbioma no funcionamento dos ecossistemas marinhos e prever a capacidade do oceano de capturar e armazenar dióxido de carbono (CO2) atmosférico, transporte e riscos de poluentes, como plásticos e nutrientes, e o equilíbrio entre a saúde do ecossistema e as atividades humanas”, destaca a coordenadora do Projeto AtlantECO na UFSC, professora Andrea Santarosa Freire.

Texto de Andréa Green Koettker, integrante do Projeto AtlantECO

 

Veleiros ECO e Tara atracados na Marina da Glória, no Rio de Janeiro (Foto: equipe do AtlantECO/Divulgação)

Voluntário do Port Call e estudante de Biologia da UFSC Gabriel Bortoluzzi Victorino recebendo grupos escolares a bordo do ECO, na Marina de Itajaí (Foto: Equipe do AtlantECO/Divulgação)

Pesquisadores do AtlantECO Isis Batistela e Pedro Junger e voluntárias do Port Call recebendo grupos escolares na exposição microbioma na Marina de Itajaí (Foto: Equipe do AtlantECO/Divulgação)

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