Oswaldo Rodrigues Cabral, Sílvio Coelho dos Santos e Walter Piazza, pioneiros do Museu da UFSC

20/05/2019 15:00

Primeira sede do Museu da UFSC

Em tom amarelo, janelas e portas brancas, com um ar bem diferente dos outros prédios ao seu redor, a primeira sede do Museu da UFSC chega aos 51 anos de idade em 29 de maio de 2019. A casa, que guarda muito das características originais de sua fundação, foi a princípio Instituto de Antropologia e alguns anos depois museu. A construção já era anterior a 1968 e um fato bem interessante, servia de estábulo para a Fazenda “Assis Brasil”, terreno que mais tarde seria o endereço da então Universidade de Santa Catarina. São paredes repletas de história, que respiram vida e memória, envoltas em um clima bem característico do local.

No auge de seus 25 anos, o museu universitário recebeu o nome do seu fundador, Oswaldo Rodrigues Cabral. Ele, Sílvio Coelho dos Santos e Walter Piazza foram os pioneiros historiadores que estrearam as atividades do museu, ainda nos primórdios da UFSC. Além deles, a instituição contava também com os professores Anamaria Beck e Edson Araújo. As primeiras pesquisas da equipe eram relacionadas às populações indígenas e pré-coloniais do Sul do Brasil, explorando a diversidade étnica de Santa Catarina.

Esta casa, em que passado e presente se manifestam, deve ser compreendida “como patrimônio histórico da comunidade universitária e como tal, toda intervenção que venha a sofrer deve ser criteriosa, respeitando sua originalidade e integridade física”, argumenta a restauradora do museu Vanilde Rohling Ghizoni.

Hoje, na antiga sede encontram-se a Administração, Laboratório de Arqueologia e um auditório para 60 pessoas.

Desde setembro do ano passado, após incêndio que atingiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, o da UFSC está fechado para visitação, por questões de segurança, porém mantém o atendimento individual a pesquisadores interessados nos acervos para desenvolvimento de teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso. Assim que o alvará de funcionamento for liberado, as exposições voltarão a ser realizadas no prédio ao lado, inaugurado em 2012, em três grandes salas com condições ideais de climatização e sistema de monitoramento.

A servidora Ana Letícia Trivia que, atualmente, está na direção do Museu, explica que o órgão suplementar da UFSC está vinculado ao Gabinete da Reitoria. Por este motivo, não possui um duodécimo e os recursos para viabilizar as exposições advêm do GR, externos e editais de cultura. Tal situação pode vir a se agravar com o recente corte de 30% do orçamento para as instituições federais de ensino.

Em carta aberta à comunidade, a equipe do Museu da UFSC reforça que “as dificuldades orçamentárias historicamente sentidas pelos museus e instituições educativas vêm sendo aprofundadas pelas políticas de austeridade implantadas pelo governo atual, notadamente em decorrência da Emenda Constitucional do Teto de Gastos Públicos que congela por 20 anos o investimento público em esferas estratégicas como a educação e a cultura”.

Assim que as portas estiverem abertas novamente, a comunidade está convidada a conhecer um pouco mais de sua história e refletir sobre a diversidade da identidade cultural. Além do importante acervo de Arqueologia Pré-Colonial e Histórica, e de Etnologia Indígena, o Museu da UFSC é guardião da coleção “Profª Elizabeth Pavan Cascaes”, preservando o significativo acervo do artista catarinense Franklin Cascaes, constituído por desenhos e esculturas que retratam o cotidiano, a religiosidade, lendas, mitos folguedos folclóricos e tradições dos primeiros colonizadores da Ilha de Santa Catarina.

Foto: Jair Quint/Agecom/UFSC

 

Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC

Fotos: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

 

Mais de 50 anos de história

Neste 29 de maio de 2019, a primeira sede do Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da UFSC, comemora 51 anos. Trata-se de edificação reformada e adaptada que integrava o complexo da antiga Fazenda “Assis Brasil”, cujo espaço foi transformado no atual Campus Universitário. Até a inauguração de sua sede, o Instituto de Antropologia  funcionou junto ao Curso de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

Concebido inicialmente como um espaço de formação avançada na pesquisa arqueológica e de culturas indígenas, o Instituto compunha-se de três divisões: Arqueologia, Antropologia Física e Antropologia Cultural. Abrigava laboratórios de Arqueologia e Antropologia Física, que reuniam acervo arqueológico, indígena Etnografia Geral e Etnografia do Brasil, lecionadas nas suas dependências para os a, de culturas tradicionais do estado, sendo então utilizado como recurso didático nas disciplinas de Antropologia Cultural, Antropologia Física, alunos dos cursos de História e Geografia. O Instituto mantinha ainda uma biblioteca especializada em temas contemplados na pesquisa sobre folclore, antropologia e arqueologia.

Ao longo dos anos a edificação e o Instituto de Antropologia foram se adequando às novas demandas. Com a reforma universitária iniciada em 1968, o Instituto de Antropologia teve sua denominação alterada para “Museu de Antropologia”, em 1970. Sob a categorização de museu, a instituição instalada na antiga estrabaria da Fazenda “Assis Brasil”, ainda passaria por diversas mudanças de designação, porém sua função institucional não mais seria alterada. Nesse contexto, no ano de 1978 o Museu de Antropologia passou a ser denominado Museu Universitário. A partir desse momento, o Museu Universitário foi concebido, não sem equívoco, como uma instituição voltada exclusivamente para a guarda e exposição de acervo, sendo desincumbido das atividades de pesquisa e de ensino. Essa situação perdurou até meados da década de 1980, quando o projeto “O povoamento pré-histórico da Ilha de Santa Catarina”, coordenado pela arqueóloga Teresa Domitila Fossari (in memoriam), voltou a impulsionar a pesquisa no órgão. Em maio de 1993, mais uma mudança: o Museu Universitário passou a ser denominado Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, em homenagem ao seu idealizador, fundador e primeiro Diretor.

Com o passar dos anos, visando atender aos preceitos de uma instituição museológica, novos espaços foram construídos para ações de comunicação e guarda de acervo, uma vez que esta importante e significativa edificação histórica não poderia ter seu projeto arquitetônico alterado. O ingresso nessa nova fase suscitou na equipe do Museu a necessidade de consolidar a marca e a identidade da Instituição, bem como o caráter antropológico de suas coleções e de suas pesquisas, obscurecidos pela denominação Museu Universitário. Assim, em 2011, foi preconizada a denominação “Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral (MArquE)” que atualmente designa o perfil museológico e as atividades do órgão.

A estrutura estabelecida, que permanece até o presente momento, permitiu o desenvolvimento de diversas pesquisas nas áreas da Arqueologia e Etnologia, acentuando a formação de acervo extremamente relevante no Estado de Santa Catarina. A edificação que hoje completa 50 anos abrigou e abriga ao longo de sua trajetória pesquisas que conquistaram o reconhecimento de autoridades da área, firmando-se, nesta rede, como referência entre os museus etnográficos do sul do país. No contexto, a edificação mostra-se fundamental à memória e ao patrimônio desta Instituição Federal de Ensino Superior, uma vez que para além do marco da pesquisa acadêmica, representa a identidade da UFSC e bem patrimonial a ser preservado para as futuras gerações.

Fotos: acervo MArquE

Texto original publicado em 30/05/2018.

 

 

 

 

 

 

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