Maior evento gratuito de Direito é da UFSC e organizado integralmente por estudantes

21/05/2019 14:30

Um ano de preparo e dedicação tornaram o XIV Congresso Direito, realizado de 14 a 17 de maio na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), um verdadeiro sucesso, segundo depoimento dos participantes. Os 60 estudantes do curso de Direito (turnos noturno e diurno) e membros do Centro Acadêmico XIV de Fevereiro (Caxif), se encontravam após as 22 horas para tratar da programação, convidados, logística, contratações, patrocínios e tantos outros detalhes fundamentais para receber com maestria os 6.116 inscritos.

“É experiência de todo lado. Termino sexta-feira exausta, mas muito feliz de ver o alcance do evento. Tudo isso vale a pena quando chegamos aqui e vemos tudo funcionando”, comenta Mariana Lopes Jones, membro da organização e estudante da 3ª fase de Direito da UFSC.

Participar da organização do evento trouxe uma experiência profissional única aos estudantes, mas, além disso, o Congresso proporcionou a estudantes dos mais variados locais a oportunidade de assistir a 36 palestrantes de renome nacional e internacional de modo totalmente gratuito. “O evento cumpriu o seu principal objetivo: aproximar estudantes de todas as regiões do país e abarcar os principais temas do meio jurídico, de maneira totalmente gratuita. Avaliamos que foi um sucesso, tanto pela lotação do local em todos os dias do evento, quanto pelos trabalhos submetidos à Mostra de Pesquisa”, avalia o coordenador-geral do Congresso, João Pedro Debastiani.

Dos total de participantes, 2.201 eram de Florianópolis e 3.915 de outras cidades do estado catarinense e do país. Luiz Felipe Paranhos, estudante de Direito da UERJ, veio do Rio de Janeiro para participar pela primeira vez do Congresso. “É maravilhoso ver um evento deste porte, gratuito, e voltado para estudantes. Muitos que estão nas fases iniciais não têm condições de arcar com os custos de eventos e viagens, assim é motivador termos atividades gratuitas em uma universidade federal”.

Ivanice Tressoldi, advogada em Dionísio Cerqueira (extremo oeste catarinense, fronteira com o Paraná e a Argentina), chegou para a abertura, mas esta é a terceira vez em que participa do Congresso. “Vinha como estudante agora venho como profissional. Eventos como este são uma oportunidade para nos aprimorarmos, pois foi possível ver uma relação muito forte entre o mundo acadêmico e o profissional, ambos perfis conseguem aproveitar e voltar para casa com mais gás e vontade de trabalhar”, avalia ela.

Além das palestras, o Congresso trouxe a Mostra Científica com a apresentação de 268 trabalhos acadêmicos, que contou com 65 avaliadores. As estudantes de Direito da UFPR, Letícia Maria Gonçalves Santos e Rayssa Mendes da Rocha, trouxeram o trabalho Intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018. “Foi sensacional unir ao Congresso a apresentação de artigos, principalmente pelo retorno que os avaliadores nos proporcionaram. A nossa apresentação foi sexta a tarde, mas escolhemos vir no início, para aproveitar a programação que trouxe assuntos relevantes”.

Tressoldi também apresentou uma pesquisa científica e ficou maravilhada com a contribuição dos avaliadores. “Sou de uma cidade pequena e a oportunidade de apresentar a pesquisa e de ouvir feedbacks dos avaliadores, além do carinho com que eles tratam a sua pesquisa e te orientam, foi muito gratificante e que me instiga cada vez mais a pesquisar e a entrar na vida acadêmica”.  

Para Mariana é fundamental que a população compreenda a importância das universidade públicas no Brasil. “As universidade produzem pesquisa e a Mostra apresentou isso. Também, produzimos ensino e extensão, e o Congresso como um todo refletiu isso. É interessante que as pessoas venham e conheçam a universidade como forma de atribuir a ela o que ela merece: se é ela quem está nos dando a formação e nos permitindo isso, nada mais justo que o evento seja realizado aqui e ao alcance de todos”.

Segundo Luíza Becker, estudante de Direito e membro da Diretoria Executiva do evento, o Congresso envolveu muitas pessoas e o resultado foi gratificante. “É maravilhoso ver o trabalho de tanta gente concretizado. Também proporcionar que muitos ouçam pautas sobre a política nacional e os manuais que usamos na universidade. Trazer essas discussões para dentro da UFSC é primordial para que conheçamos assuntos que as vezes não são abordados em sala de aula, é uma complementação e foi justamente isso que deu origem ao Congresso anos atrás”, frisa ela.

Foi a oportunidade de ver assuntos diferentes dos tratados no curso de Relações Internacionais que o estudante Henrique Heiss Zapp optou em participar do evento. “Vim às palestras porque comecei a estudar Direito Internacional Público e um dos livros que estou estudando é do Ministro Francisco Rezek, o que me motivou mais ainda. Estar aqui contribui com os meus estudos, ainda mais por se trata de uma pessoa que fez parte da Corte de Haia (Corte Internacional de Justiça) é muito importante para a área de Direitos Humanos”, conta ele.

Letícia Klechowicz e Marcus Passos Rosa, estudantes de Direito da UFPR, reforçam a importância da diversidade de assuntos durante o Congresso. “Os painéis abordaram vários temas no Direito, como o civil, o penal e o empresarial, áreas de interesse dos alunos abordados por nomes que são expoentes em cada uma dessas áreas”.

A preparação do Congresso Direito UFSC leva cerca de um ano e inicia assim que o evento se encerra.

MAIS

A palestra de encerramento do evento foi realizada pelo Ministro Francisco Rezek, às 20 horas, de sexta-feira, 20 de maio.  Rezek destacou as distorções e a carga ideológica dos discursos atuais sobre Direitos Humanos no Brasil e no mundo. Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e de Relações Exteriores, Rezek narrou casos como a contradição que marcou o discurso de um representante da associação de advogados dos Estados Unidos, em um congresso na Bahia. Ao falar de crimes em países africanos e de violações em outras partes do mundo, lembrou o ex-juiz da Corte Internacional de Justiça, o advogado esquecia das atrocidades cometidas pelos norte-americanos contra os prisioneiros de Guantánamo, em Cuba, e as torturas e humilhações na prisão iraquiana de Abu Ghraib.

No caso brasileiro, Rezek destacou que entre as classes média e baixa no país foi criado um sentimento contrário aos Direitos Humanos, pois há uma proteção nos discursos de esquerda dos infratores e criminosos ao invés de conceder a mesma atenção para as vítimas. “Não dá para valorizar os Direitos Humanos da direita com prejuízo dos da esquerda. Os Direitos Humanos são de todos ou são uma fraude”, disse.

Nicole Trevisol / Jornalista da Agecom, com informações de Lúcio Lambranho

*Fotos: Henrique Almeida / Agecom / UFSC e José Somensi / Divulgação

Tags: CaxifCongresso Direito UFSCUFSC