Simulações com hologramas são utilizadas em pesquisa para o ensino de geometria
Parece ficção científica, mas o uso de hologramas no ensino de matemática é apenas uma boa dose de criatividade aliada a uma metodologia inovadora. A ideia de Rafael Lisboa, professor do Colégio de Aplicação da UFSC e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, é utilizar o método no Laboratório de Matemática e disseminá-lo para outros educadores.
O uso de um simulador de hologramas tridimensional surgiu quando Lisboa estava envolvido num projeto de formação de professores. “A gente buscava recursos na internet, alguma coisa que pudesse trazer um diferencial para a sala de aula, motivador, mas que também tivesse um impacto significativo no engajamento do aluno com o conteúdo. Então observei que existia um recurso que imitava um holograma”, conta o professor.
Lisboa levou a ideia aos estagiários que orientava no Colégio de Aplicação e propôs um primeiro ensaio do uso de hologramas para o ensino de geometria. Para formar o “holograma”, o professor aponta que são necessários um computador conectado a uma televisão de tela plana e um anteparo de projeção, que pode ser de acrílico ou plástico. São quatro imagens iguais que, quando projetadas, simulam um holograma tridimensional.
Para o uso educacional, explica Lisboa, é necessário montar uma sequência didática, para facilitar que os alunos compreendam o conteúdo. Ele cita como exemplo a apresentação da planificação de um dodecaedro. “E qual é ideia, por exemplo, dessa projeção holográfica? Com uma planificação do dodecaedro, posso montar e desmontar a fim de que os alunos consigam entender, por exemplo, como é que são as faces dele. O interessante é que, em determinado momento eu posso pausar. A imagem fica estática e posso apresentar para o aluno, ‘mexer’, digamos, mostrar para eles os elementos importantes, tais como faces, arestas e faces”.
A construção dos objetos é realizada com o uso do Geogebra, software de geometria dinâmica gratuito. “Qualquer um pode baixar o aplicativo e se aventurar a construir situações como essa. É claro que existe uma maneira de posicionar a criação, editar o vídeo para gerar o holograma. Isso também é feito com a ajuda de qualquer software de edição de vídeo. Até no PowerPoint você consegue montar”, explica Lisboa. Em cursos de formação de professores, Lisboa mostra como um professor pode criar sua própria imagem holográfica.
Outras disciplinas podem utilizar o recurso como ferramenta educacional, especialmente quando há dificuldade de visualizar determinado comportamento. “O funcionamento do coração humano ou como que as moléculas de células funcionam são exemplos. Na internet você consegue alguma coisa já pronta nesse sentido, como holografias do corpo humano. Isso pode ter aplicação em outras áreas. As possibilidades são inúmeras e depende da criatividade do professor”, conta Lisboa.
A ideia de Lisboa é ampliar a repercussão do trabalho com as simulações holográficas. Além de escrever um artigo sobre o tema, ele e outros colegas professores de matemática querem promover mais cursos de formação. “Os colegas que trabalham aqui também têm essa perspectiva de abrir o colégio, um espaço de troca também com outros professores, aprender com outras realidades, de incorporar mais atividades no nosso laboratório, trazer novos resultados de pesquisa, novas dinâmicas que possam ser implementadas em salas de aula, Mostrar que o serviço público também pode ser de qualidade como o que a gente desempenha aqui”.
Laboratório de Matemática
O Laboratório de Matemática do Colégio de Aplicação serve como suporte a sala de aula e para atender possibilidades de estágio da universidade. “Ultimamente, alguns professores do Colégio de Aplicação têm utilizado os recursos do laboratório para promover cursos de formação de professores junto a prefeituras de Santa Catarina e até de outros estados”, afirma Lisboa.
A estrutura atende alunos dos anos iniciais até o ensino médio e o uso do laboratório está atrelado à atividade que o professor desenvolve na sala de aula. “Não é toda a aula que obviamente o professor traz dos alunos aqui, mas ele tem oportunidade de promover práticas pedagógicas diferenciadas, por exemplo, com uso de material concreto ou algum recurso tecnológico que, via de regra, a gente não consegue fazer numa sala de aula convencional”, diz o professor.
O laboratório dispõe de equipamentos e recursos para promover essas práticas pedagógicas junto aos estudantes do Colégio de Aplicação. De acordo com Lisboa, “o material concreto vai auxiliar o aluno que ainda não tem o poder da abstração, digamos. Então você vai fazer o link para poder entender como determinadas fórmulas e relações acontecem, a partir da sequência didática do professor”. Para cada faixa etária, há diversos tipos de objetos. “No terceiro ano do ensino médio a gente trabalha a parte de geometria. Aqui você tem alguns objetos que alguns foram construídos pelos alunos, outros a gente utiliza para que eles possam visualizar essas relações” conta o professor. Outra possibilidade é a utilização de materiais reciclados, mais baratos e que podem ser reproduzidos em qualquer escola.
Caetano Machado/Jornalista da Agecom/UFSC
Imagens: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC