Memórias do século 20: da Polônia à Argentina, o holocausto por testemunha
Em 1930, no gueto de Lodz, cidade conhecida como a “Manchester polonesa”, os judeus representavam 34 por cento da população de 650 mil pessoas. Dos centros judaicos da primeira metade do século 20, Lodz e Varsóvia, capital da Polônia, estavam ao lado de Vilna, Moscou, Kiev, Odessa, Berlim, Paris e Nova Iorque.
Nesse caldeirão em que fervilhavam ideias sociais, culturais e políticas judaicas e polonesas de reformismo e revolução, de nacionalismo e autonomia étnica, vivia Ludwig Winograd, o personagem central do livro De Lodz a Buenos Aires: memórias do século 20, com tradução de José Tabacow e publicado pela Editora da UFSC.
A obra é uma narrativa autobiográfica de Winograd, o testemunho de alguém que participou de alguns dos maiores eventos do século 20: a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa de 1917, os grandes debates de movimentos, partidos e militâncias de esquerda, os conflitos nacionais e étnicos na Europa Oriental, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto.
“Sofri na própria carne os padecimentos do gueto de Lodz e de um campo de concentração alemão nos arredores de Berlim, do qual fui libertado pelo exército russo em abril de 1945”, escreve Winograd, que começou a sentir a mão pesada do nazismo em 1939. No dia 8 de setembro de 1939, as tropas alemãs invadiram a cidade e confinaram 200 mil pessoas numa área de pouco mais de três quilômetros quadrados.
Na história do Holocausto, o gueto de Lodz teve uma particularidade: ali, 90 fábricas funcionaram e utilizaram, em 1942, cerca de 78 mil judeus como mão de obra forçada. Em outubro daquele ano, a população baixou para 100 mil pessoas com os mortos por fome e doenças, os assassinados e os deportados para o extermínio.
Ludwig Winograd foi libertado pelos russos em abril de 1945. Sua filha e um irmão, que também estavam no campo alemão, também se salvaram, mas perdeu sua mulher e um filho de 25, e quase toda a família.
Veio para a Argentina em 1947, onde uma comunidade de 250 mil judeus, a maioria em Buenos Aires, que se tornou a capital da cultura ídiche no pós-guerra e permitia uma vida com conforto econômico, espiritual e intelectual.
Artêmio Reinaldo de Souza/jornalista/Agecom/UFSC
Ludwig Winograd – De Lodz a Buenos Aires: memórias do século 20
Tradução: José Tabacow
255 páginas
1ª. Edição – 2016