Mães da UFSC: Noemi Teles de Melo
Noemi Teles de Melo
Doutoranda em Estudos da Tradução
Mãe da Laura, 1 ano e 2 meses
A mulher não amamenta sozinha. O sucesso da amamentação, no nosso caso, foi devido à rede de apoio que eu tive. Tanto a ajuda profissional como o apoio do meu marido. Desde a gestação, a escolha do parto – que no nosso caso foi domiciliar e planejado –, eu procurei ler bastante sobre amamentação. A gente pensa que é automático, só botar o bebê no peito e está tudo resolvido, mas não é bem assim. A equipe que me atendeu no parto me ajudou muito nos primeiros dez dias, quando o peito enche, e o bebê, se não fizer a pega correta, machuca. Meus seios ficaram bem machucados. Tinha um lado em que ela mamava bem e outro não, então esse meu mamilo ficou muito mal. Com o apoio dessa equipe eu consegui entender o que estava acontecendo com o meu corpo.
Amamentar dá muita fome, e o meu marido acordava de madrugada para fazer lanchinho para mim. Não teve uma noite sequer em que ele não acordasse junto. Ele também participou de todo o processo, do nascimento dela, de tudo. Ele sabia que o que a gente estava fazendo não era nada anormal.
Com os profissionais de saúde, que deveriam ser os primeiros a ajudar e a apoiar a amamentação, eu vi que falta apoio. Em seis meses de amamentação exclusiva, a Laura passou por cinco pediatras! Ela crescendo e se desenvolvendo, mas os pediatras olhavam os gráficos de crescimento e, como ela não é um bebê gordinho, falavam que ela não estava ganhando peso o suficiente. E na hora já perguntavam: “Ah, ela mama no peito?”, e, com isso, já falavam para entrar com complemento, leite artificial, sem me encorajar a continuar amamentando. Nenhum me perguntou se eu sou uma mãe disponível, que posso amamentar a qualquer hora. Os pediatras, que deveriam ser os maiores incentivadores, acabam por desencorajar as mães! Muitas colegas minhas que têm filhos da idade da Laura já foram para o complemento e deixaram o peito muito cedo. Você tem que se cercar de uma rede de apoio, pessoas que realmente são a favor da amamentação para dar certo. O companheiro também é fundamental, porque, se o meu marido não estivesse em sintonia comigo, ele podia sair do consultório médico convencido de que a menina não está ganhando peso e comprar logo uma mamadeira para dar o complemento.
Eu também precisei ser atendida na rede pública, e a ajuda foi excelente. No HU (Central de Apoio ao Aleitamento Materno) foi quando a Laura começou a ir para a creche, que ela deixou de mamar um período do dia e que meu peito começou a ficar muito cheio. A pessoa que me atendeu me perguntou de toda a rotina, como era, entendeu que minha filha ia para a creche, me ensinou a massagear o seio. Isso sim é apoio! Diferente de alguém falar para você parar de amamentar porque a criança já come arroz e feijão, sabe? Até hoje as pessoas ficam surpresas ao saber que ela mama, e ela só tem um ano e dois meses. Eu não fazia ideia de que era assim tão complexo, que as mulheres sofriam tanta falta de apoio para amamentar.
Teve uma noite em que eu tive febre e calafrios, fiquei muito mal, e foi quando eu procurei a Maternidade Carmela Dutra. Elas me ajudaram, ordenharam e explicaram que o leite não pode ficar parado. Então, foram muitas as dificuldades, e, se eu tivesse dado ouvidos aos que querem desanimar, se tivesse dado crédito aos pediatras que diziam que minha filha não estava ganhando peso, eu teria parado de amamentar há muito tempo. Mas eu sabia que não tinha nada errado, e persisti.
Não sei se esses pediatras a que eu fui não estão atualizados, ou se tem empresas por trás patrocinando os congressos deles e os convencendo a desencorajar as mulheres a oferecer para seus filhos algo que é natural e gratuito. Eu fico pensando, acordar de madrugada para dar mamá é complicado, mas e acordar para fazer uma mamadeira? Acho que dá mais trabalho!
O leite materno é da natureza, é do nosso corpo e é o melhor alimento que a gente pode oferecer para os nossos filhos. A gente pode parir e a gente pode alimentar. A palavra “empoderamento” nunca fez tanto sentido para mim. A partir do momento em que eu comecei a ler sobre parto, gestação, amamentação, e acreditar que eu podia fazer, eu consegui.
Eu ouvi de tudo, todos os mitos. Até a minha mãe, que teve cinco filhos e não conseguiu amamentar, tinha um certo descrédito. Mas eu acreditei que comigo a história seria diferente.
O vínculo com o bebê é incrível, aproxima mãe e filho. E a saúde também. Ela vai para a creche, e ficou doente só de uns resfriadinhos leves; está supersaudável. Se eu pudesse dar um conselho para uma mulher que está grávida e quer amamentar é: se cerque de uma rede de apoio de verdade. Também procure um pediatra desde a gestação, escolha alguém que realmente te apoie. Eu até hoje estou na luta, procurando um bom profissional. Se informe, a informação é tudo. Você tem que lutar contra todo um sistema! Tem que lutar para ter um parto respeitoso, tem que lutar para amamentar, coisas que são direitos básicos. Eu fiquei muito chocada com o desestímulo à amamentação. Por isso é muito comum as mães darem complemento, sabe? Eu não culpo a mulher porque, sem apoio, ela não amamenta.