Debate sobre mobilidade urbana: “A participação popular é fundamental para fazer acontecer”
Mobilidade urbana foi o tema escolhido para o primeiro debate da série “Construindo Pontes”, promovido pela Rede Minha Floripa, na quinta-feira, 21 de junho. No encontro, o palestrante convidado, professor Werner Kraus — do departamento de Automação e Sistemas (DAS/UFSC) e coordenador do Observatório da Mobilidade Urbana —, ressaltou a importância da participação popular para a consolidação de políticas públicas: “Até que nossas demandas se concretizem, será preciso muita mobilização. O desafio político que está posto é conseguir que a população faça acontecer.” Nesse contexto, ele justificou o papel da atuação em conjunto, em referência à proposta do movimento Minha Floripa (ver abaixo): “Nesse momento histórico que estamos vivendo é crucial a constituição e consolidação dessa rede.”
O professor optou por abordar, prioritariamente, questões relativas ao transporte público: “Escolhi falar especificamente de transporte coletivo, em vez de mobilidade. Mobilidade é algo mais amplo, que envolve uso e ocupação do solo, plano diretor urbano etc. Também gostaria de falar de bicicleta, ciclovias e do pedestre. Mas o tema ‘transporte coletivo’ é urgente e precisa ser pautado.” Werner apresentou gráficos com os atuais sistemas municipais e intermunicipal de transporte da região metropolitana de Florianópolis, indicando linhas de ônibus que “existem mas tem baixa frequência”: “Os sistemas municipais das cidades conurbadas não conversam entre si. Alguns itinerários estão previstos, mas funcionam precariamente.” A malha intermunicipal, por sua vez, “não adentra na ilha, ficando restrita à região do aterro da Baía Sul. Há um desestímulo muito grande para quem mora no continente vir à ilha por transporte coletivo”.
Após apresentar o diagnóstico da situação atual, Werner expôs as propostas que vêm sendo desenvolvidas no Observatório da Mobilidade, por meio do NeoTrans — projeto criado para elaborar uma nova estrutura de transporte coletivo para a região metropolitana. O Observatório é um dos colaboradores do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis (Plamus): “O Plamus concluiu que, em termos de benefício socioeconomômico, ou seja, considerando todos os ganhos para a sociedade, o maior benefício seria obtido com a combinação de monotrilho com BRT, seguido de perto com um sistema BRT puro e, por último, um sistema com VLT”, explica Werner. Mas devido ao altíssimo custo de implantação do monotrilho, em torno de R$ 2,5 bilhões, projetar apenas o BRT é a única opção viável para a região. BRT é uma sigla em inglês – Bus Rapid Transit – para designar um sistema de transporte coletivo com corredores exclusivos para ônibus. Segundo o professor, como o veículo não para em congestionamentos e circula rápido, o tempo de trajeto é muito menor. Logo, deixar o carro em casa passa a ser mais atrativo e vantajoso para o passageiro.
O uso da ponte Hercílio Luz foi outra questão relevante abordada na palestra. “A cidade privilegia muito o automóvel particular. Temos que voltar a privilegiar o pedestre. Por isso defendo que a ponte Hercílio Luz seja reservada para o transporte coletivo, pedestre e ciclista. O automóvel deve ficar de fora. A visão de uma ponte só para ônibus, com ciclovia e espaço para pedestres, é muito agradável. Se isso acontecer, certamente a Hercílio Luz vai ser uma grande atração turística, com gente passeando, pedalando, convivendo”, argumenta Werner, ressaltando também que “a disputa política não vai ser pequena para garantir os usos da ponte sem o automóvel”.
Minha Floripa
A iniciativa Minha Floripa é um projeto que está em processo de vinculação à rede nacional de ativismo e moblização Nossas Cidades. Um dos envolvidos, Fernando Bastos Neto, explicou a proposta: “Esse é um movimento que está acontecendo no país inteiro. Estamos tentando encontrar outras maneiras de atuar politicamente. Queremos fazer política sem precisar depender da estrutura burocrática e às vezes engessante dos partidos políticos, que estão passando por uma crise muito grande. A crise dos partidos não significa a crise da política”. A ideia, segundo ele, é construir uma alternativa de atuação através do que temos de mais imediato: a vida na cidade. “Todos sabem o que é viver em uma cidade como Florianópolis, com grandes dificuldades de mobilidade urbana e tantos problemas de saneamento, meio ambiente e planejamento urbano. Por isso estamos tentando trazer para cá a Rede Nossas Cidades. É um movimento que utiliza instrumentos e aplicativos da internet, tecnologia e redes sociais, para mobilizar e pressionar os tomadores de decisão. Espera-se, assim, conseguir soluções concretas, intervir na vida das pessoas de forma efetiva”, afirma Fernando.
Mais informações no grupo Minha Floripa no Facebook e no site da Rede Nossas Cidades.
Daniela Caniçali /Jornalista da Agecom/UFSC
daniela.canicali@ufsc.br