Professores não têm consenso sobre declínio hegemônico dos Estados Unidos
Está longe de haver um consenso sobre o declínio hegemônico dos Estados Unidos na geopolítica mundial. Esta é a conclusão a que se pode chegar a partir do que foi discutido na mesa da manhã desta terça-feira, dia 18, no auditório do Centro Socioeconômico da Universidade Federal de Santa Catarina, dentro da programação da VIII Semana Acadêmica de Economia. Com pontos de vistas distintos, os professores José Luís da Costa Fiori, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e José Antônio Martins, da UFSC, prenderam a atenção dos alunos que lotaram o auditório nas suas exposições e no debate que se seguiu no CSE.
Para José Luís Fiori, embora relevante, o debate sobre o declínio norte-americano e a emergência de uma nova potência hegemônica se tornou inócuo porque vem ocorrendo há cinco décadas e não apresentou uma resposta convincente. Além disso, nos ciclos que assistiram a derrocada – ou a perda de poder – de antigas potências como a Espanha, a Holanda e a Inglaterra, a humanidade não estava tão atrelada à prevalência do capital como fator de correlação de forças internacionais. “Pode-se formular uma teoria, mas não se sabe que novo sistema poderá vir”, afirmou o professor.
“Se pensarmos nas fusões anteriores – como a da Holanda com a Inglaterra, que foi sem guerra – veremos que uma aproximação entre americanos e chineses enfrentaria problemas por envolver civilizações muitos diferentes entre si”, disse Fiori. Em relação à América Latina, ele alertou que o foco dos Estados Unidos não é a Amazônia, a Venezuela ou a questão da biodiversidade do continente, mas o alto valor da macro-região do rio da Prata, estratégica porque, além da navegação, apresenta a possibilidade de elevada produção de grãos e alimentos. Já o Brasil nunca esteve no fulcro da política externa americana. “Não somos prioridade para eles”, sentencia.
Crises periódicas – O professor José Antônio Martins, do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSC, chamou a atenção para a governabilidade como questão fundamental na movimentação das peças da política externa das grandes potências. Segundo ele, o capital externo é que determina os rumos dos processos de produção e das economias nacionais. Para ele, os Estados Unidos sofreriam mais caso houvesse uma crise catastrófica capaz de baquear sua condição hegemônica, já que ainda lideram com folga o ranking da produção industrial.
Para Martins, não existe uma crise permanente, mas crises periódicas em permanência, o que indica que “o regime capitalista não está pifando”. Uma prova disso é que as bolsas de valores nunca se valorizaram tanto. Segundo o professor, uma crise internacional de proporções monumentais seria “a chance real de a espécie humana tomar em suas mãos o controle da produção”. Instado a falar sobre a América Latina, no debate, Martins declarou que até na definição dos papéis dos militares e das universidades o imperialismo se faz sentir. “Os exércitos foram transformados em forças de repressão interna e a crítica presente nos anos da ditadura não é mais vista nas academias”, disse.
Outras mesas – A programação da VIII Semana Acadêmica de Economia prossegue hoje, às 18h30, com o debate sobre “A ascendência chinesa sob o olhar mundial”, com os professores Carlos Alonso Barbosa de Oliveira, da Unicamp, e Vladimir Pomar. Amanhã, quarta-feira, às 8h30, Mariano Francisco Laplane, presidente da CGEE, e Sílvio Antônio Ferraz Cario, professor da UFSC, falarão sobre os “Impactos da crise econômica no Brasil”. E, às 18h30, o tema “O Brasil de amanhã” será debatido por Guilherme Vale Moura e Mauro Francisco Mattei, da UFSC.
Paulo Clóvis Schmitz/Jornalista da Agecom/ UFSC
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Foto: Wagner Behr/ Agecom/ UFSC