Compras familiares de alimentos são influenciadas pela vontade dos filhos
A escolha dos alimentos, ainda no local da compra, determina os alimentos que estão sendo realmente consumidos pelas famílias. Assim, diante da reconhecida importância que os pais têm dado à participação dos filhos nas aquisições de diversos tipos de produtos, a nutricionista e mestranda Camila Dallazen, do Programa de Pós-Graduação em Nutrição (PPGN) e membro do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) da Universidade Federal de Santa Catarina, sob a orientação da professora Giovanna M. R. Fiates realizou um estudo para investigar a opinião dos pais sobre a influência que seus filhos exercem especificamente nas compras de alimentos. A pesquisa foi realizada entre os meses de outubro e novembro de 2011. Ao todo, foram entrevistados 31 pais de estudantes de 6 a 10 anos de idade de uma escola pública e uma escola particular, localizadas na área urbana de Florianópolis (SC). O trabalho fez parte do projeto de pesquisa “Estudo intergerações familiares: hábitos alimentares na interface entre o estado nutricional e o comportamento consumidor”.
De acordo com os resultados do estudo, a maioria dos pais entrevistados afirmou perceber influência dos filhos na compra de alimentos pouco nutritivos como, por exemplo, bolachas recheadas, chocolates, salgadinhos de pacote, balas e chicletes. Um dos fatores que poderia estar contribuindo com esse achado é a preferência das crianças por alimentos mais saborosos, que geralmente contêm elevadas quantidades de açúcar e gorduras.
Os resultados indicaram que a interação com colegas e amigos no ambiente escolar também estava motivando as solicitações de compra das crianças, fato observado apenas nos comentários dos pais de estudantes da escola particular. Esses pais mencionaram que o fato de cada estudante levar seu próprio lanche para escola influenciava negativamente os pedidos de compra do filho, já que geralmente os produtos levados pelos colegas dos filhos eram industrializados, prontos para o consumo e pouco nutritivos. Além disso, referiram que as crianças costumavam experimentar os lanches umas das outras, o que acabava estimulando ainda mais o desejo dos filhos por aqueles tipos de alimentos.
Já os pais de estudantes da escola pública referiram não perceber influência de colegas e amigos da escola nas solicitações de compra dos filhos, pois neste ambiente os estudantes consumiam apenas a alimentação disponibilizada por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Esse programa, presente em todas as escolas públicas brasileiras de ensino básico, tem por objetivo garantir a alimentação escolar, atender as necessidades nutricionais dos estudantes durante a permanência na escola e ainda promover hábitos alimentares saudáveis. Além disso, nesta escola, assim como nas demais escolas da rede pública municipal de Florianópolis, uma portaria municipal vigente desde o ano de 2010 estabelece que seja proibido o consumo de qualquer tipo de alimento trazido de casa no ambiente escolar.
Ainda segundo os resultados da pesquisa, as crianças, além de influenciar as compras de alimentos, também poderiam estar influenciando negativamente as práticas alimentares da família, uma vez que os pais mencionaram que, quando aderiam aos pedidos dos filhos, os alimentos adquiridos também eram consumidos pelos demais membros familiares.
Por se tratar de uma pesquisa de abordagem qualitativa, os resultados não devem ser generalizados a outras populações. Pesquisas com a mesma temática têm sido desenvolvidas por pesquisadores do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) desde o ano de 2006. No entanto, os estudos anteriores abordaram o comportamento infantil. Ressalta-se que o presente estudo é o primeiro a abordar o tema sob a perspectiva dos pais de estudantes.
Por fim, a pesquisadora enfatiza que embora caiba aos pais gerenciar os pedidos de compra de alimentos dos filhos, não se pode atribuir somente a eles a responsabilidade por uma situação à qual também eles também estão vulneráveis, isto é, a exposição frequente a estímulos para o consumo de alimentos pouco nutritivos. Limitar o acesso a tais estímulos e, consequentemente, administrar os pedidos de compra infantil por alimentos industrializados ultraprocessados nem sempre é tarefa fácil para os pais. A regulamentação da publicidade de alimentos direcionada ao público infantil poderia influenciar positivamente tal situação. Além disso, iniciativas presentes no ambiente escolar podem efetivamente diminuir o acesso dos estudantes a determinados tipos de alimento e favorecer escolhas alimentares mais saudáveis, reforçando a função da escola como espaço promotor de saúde tanto para os estudantes quanto para o restante da comunidade escolar, da qual a própria família faz parte. O fortalecimento do papel da escola na educação para a saúde de forma integral é especialmente importante nas escolas particulares, onde não há atuação direta de programas governamentais de estímulo à alimentação saudável.
Fonte: Camila Dallazen (camiladallazen@gmail.com)