Diplomata fala sobre novos paradigmas nas relações internacionais

24/05/2012 15:57

Para Marcos Prado Troyjo, em pouco mais de duas décadas muitas crenças tidas como inabaláveis perderam o sentido, dando lugar a outros conceitos relacionados à governança global

As transformações da geopolítica mundial e as diferentes formas de realizar a “reinvenção criativa” por países como a China e o Brasil se destacaram entre os temas abordados na programação da manhã desta quinta-feira, dia 24, no XVII Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais (Eneri), que acontece no Centro de Cultura e Eventos e em outros locais da Universidade Federal de Santa Catarina. O diplomata licenciado Marcos Prado Troyjo, diretor do Centro de Estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China (BRICLab) da Columbia University, em Nova York, disse que em pouco mais de duas décadas muitas crenças tidas como inabaláveis perderam o sentido, dando lugar a outros conceitos relacionados à governança global.

As noções de supremacia da democracia representativa e da economia de mercado, que ficaram sem antíteses após o fim da guerra fria e a queda do muro de Berlim, perderam a condição de verdades absolutas e de marcos civilizacionais, válidos para todos os países e baseados na ascendência dos Estados Unidos e do Ocidente sobre o resto do mundo. Da mesma forma, a ideia de que as grandes inovações viriam unicamente de corporações gigantescas e de tecnoestruturas são desmentidas por fenômenos como o Google e o Facebook, exemplos acabados de iniciativas individuais bem sucedidas.

Para o palestrante, que abriu a mesa-redonda “O caso dos regimes de controle de armas e o desafio da construção de uma nova governança global”, no Centro de Cultura e Eventos, também a certeza de que o mundo caminhava para a consolidação de enormes áreas de integração e livre comércio caiu por terra, sobretudo após os abalos econômicos dos últimos quatro anos e a crise na Europa. “Estamos assistindo o descarrilhamento do processo, como mostra o caso terrível da União Europeia”, afirmou.

Troyjo citou como exemplos das transformações globais a queda da participação americana no PIB mundial, as manifestações populares contra as reuniões do G8 e da Organização Mundial do Comércio, a inércia recente do Japão e a explosão econômica da China, país que “demonstrou uma extraordinária capacidade de se reinventar”. Os Estados nacionais, e não os blocos, ganham condição de agentes na cena global, e os países passaram a considerar mais os interesses internos na hora de definir suas políticas de governança.

Fazendo uma comparação de como dois países de grande território investiram de forma distinta em sua “reinvenção criativa”, o palestrante destacou que no final dos anos 70 o Brasil tinha 100 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto anual de US$ 200 bilhões, enquanto na China vivia um bilhão de pessoas e o PIB era de US$ 56 bilhões. Pouco mais de três décadas depois, o Brasil duplicou sua população e atingiu uma riqueza equivalente a US$ 2,5 trilhões (incremento de 12 vezes e meia), ao passo que a grande potência oriental experimentou um aumento de 25% (250 milhões de pessoas) em seu contingente humano, mas expandiu seu PIB para US$ 7,6 trilhões – hoje três vezes maior que o brasileiro.

Ele prevê que antes de 2025 a China ultrapassará os Estados Unidos no ranking da economia mundial, graças a políticas como a baixa carga tributária, as parcerias público-privadas e uma agressiva diplomacia empresarial.

Segundo Mônica Herz, a corrida armamentista, pode-se perder a capacidade racional de controlar a ideia de violência

Guerras e armas – doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics and Political Science e professora assistente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Mônica Herz falou na mesma mesa-redonda sobre um tema pouco discutido no Brasil – a questão do armamentismo e as correlações de forças bélicas internacionais. As guerras, diz ela, obedecem a regras e são organizadas dentro de um conjunto de normas aceitas tacitamente pela maioria das nações. Com o tempo, elas ganharam novos contornos, admitindo aspectos como a neutralidade, o humanitarismo e o conceito de direitos humanos. Limites no uso da violência definiram métodos que estabeleciam procedimentos no atendimento a feridos e na exclusão de áreas civis como campos de batalha, por exemplo.

O que preocupa, no momento, é o risco de fugir do controle a produção de armas químicas e biológicas, que são objetos de discussões de natureza moral e normativa. “Na corrida armamentista, pode-se perder a capacidade racional de controlar a ideia de violência”, disse Mônica Herz. Também há um cuidado em debater as armas de fragmentação e outras que atingem populações civis e causam dor extrema. “As tensões que verificamos neste campo reproduzem as relações de poder no mundo”, afirma, alertando que existem muitas formas de armamentos sendo pesquisadas e projetadas que precisam ser mantidas sob controle, nem que seja preciso alterar as regras em vigor.
Por Paulo Clóvis Schmitz/Jornalista na Agecom – Fotos: Wagner Behr/Agecom
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