Café Philo apresenta manuscritos desaparecidos de Durkheim

28/05/2012 16:48


O tema do Café Philo desta quarta-feira, 30 de maio, às 19h, na sede do Museu Victor Meirelles, tem uma história tão instigante quanto o seu conteúdo. Em 1914, três anos antes de morrer, Émile Durkheim ministrou um célebre curso na Sorbonne Nouvelle denominado “Pragmatismo e Sociologia”, considerado pelo antropólogo Marcel Mauss o coração da sua obra.

Entre os poucos e privilegiados alunos, estava o filho, André Durkheim. Durante a I Guerra Mundial, André morreu e desapareceram com ele as anotações referentes ao último curso do pai da sociologia. Com a II Guerra, a obra prima de Durkheim sofre novo golpe quando os nazistas bombardeiam Paris, destruindo as anotações originais que o mestre havia redigido e selecionado para o curso.

Acreditando que estavam nesses manuscritos “a coroação da filosofia de Durkheim”,  Marcel Mauss, sobrinho do pensador, promoveu uma verdadeira campanha para recuperá-la. Na revista Anais de Sociologia (1925), Mauss lançou um apelo aos possíveis alunos sobreviventes para que tentassem resgatar as 20 lições que compunham a última herança do fundador da Escola Francesa de Sociologia. Graças a essa história inusitada de amor ao conhecimento, essa obra pouco conhecida foi salva do esquecimento definitivo e causou grande impacto no mundo acadêmico.

A primeira publicação francesa, de 1955, e a segunda, também em língua francesa, de 1981, foram rapidamente esgotadas. E assim permaneceram até 2004, quando a UFSC e a Unisul fizeram uma parceria para trazer essas ruínas filosóficas novamente do limbo. Dessa vez, o responsável pelo resgate arqueológico de Durkheim foi o antropólogo Aldo Litaiff, o conferencista convidado para o próximo Café Philo, que traduziu a obra do original em francês. Em 2005, durante o seu Pós-doutorado na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, e em meio às comemorações do ano do Brasil na França, as editoras da UFSC e da Unisul lançaram a primeira publicação de Pragmatismo e Sociologia em língua portuguesa no mundo e a primeira edição não-francesa.

O sociólogo proferiu seu último curso entre 9 de dezembro de 1913 e 12 de maio de 1914, algum tempo depois da publicação de Formas Elementares da Vida Religiosa. “Uma das curiosidades que marca essa fase final do pensamento de Durkheim é a proposta de renovar o Racionalismo que caracteriza o pensamento francês através das críticas do Pragmatismo americano!”, admira-se Litaiff, antropólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFSC e professor do Curso de Doutorado em Ciências da Linguagem da Unisul.

Durkheim defende que é necessário preservar e renovar o racionalismo, pois sua total rejeição constitui um “perigo para o espírito francês”, pois implicaria em “uma mudança radical de toda a nossa cultura”. Segundo o raciocínio do teórico, se as críticas pragmatistas são verdadeiras, está em questão toda a tradição filosófica ocidental, especificamente o Racionalismo. O grande valor das lições de pragmatismo de Durkheim reside na transformação crítica que operaram sobre seu próprio pensamento. Na obra anterior, ele afirmava e demonstrava que o pensamento conceitual tem sua origem nas representações impessoais de uma comunidade. “A partir das críticas pragmatistas, o sociólogo revê suas posições anteriores, passando a considerar que o papel do indivíduo é o de um verdadeiro criador e que o principal fator de renovação do social é a consciência”, escreve Litaiff no prefácio do livro.

Ampliação de público

Gratuito e aberto ao público, o Café Philo é um projeto de extensão do Centro de Comunicação e Expressão em parceria com a Aliança Francesa e com apoio na divulgação da Secretaria de Cultura da UFSC. Os próximos dois debates, do dia 30 de maio e do dia 13 de junho, foram transferidos da sede da Aliança Francesa para o Museu Vitor Meirelles, no Centro de Florianópolis, em razão da necessidade de maior espaço para acomodar o grande crescimento do público nas últimas conferências, conforme explica o professor Pedro de Souza do Departamento de Línguas e Literaturas Vernáculas da UFSC, mentor e organizador do Projeto, ao lado de e Rogério Luiz de Souza, docente do curso de História.

As conferências ocorrem quinzenalmente às quartas-feiras, sempre com a apresentação de um intelectual da atualidade abordando obras de pensadores franceses clássicos ou contemporâneos. Em edições anteriores foram discutidas as ideias de autores como Foucault, Paul Ricoeur, Blanchot, Rousseau, Deleuze, Albert Camus, Derrida, entre outros. Permeadas pela informalidade, as reuniões buscam facilitar o diálogo com um público sem vinculação direta com o meio acadêmico e aproximar a filosofia da vida das pessoas.

Sobre o Palestrante

Aldo Litaiff é PhD em Antropologia pela Universidade de Montreal, Québec (estado do Canadá francês), com mestrado em Ciências Sociais e licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Sua tese de doutorado partiu, principalmente, das contribuições de Claude Lévi-Strauss, um dos sucessores mais ilustres do autor de Pragmatismo e Sociologia, obra que ele traduz pela primeira vez em língua portuguesa. Atualmente desenvolve pesquisas junto ao Museu Arqueológico e Etnológico da UFSC e é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Universidade do Sul do Estado de Santa Catarina (Unisul).

SERVIÇO

Quando: 30 de maio, às 19h

O quê? 41º Café Phillo

Quem: antropólogo Aldo Litaiff sob o tema: O último curso de Emile Durkheim

Onde: Sede do Museu Vitor Meirelles, Centro – Florianópolis/SC (próximo aos Correios)

Quanto: Gratuito, aberto ao público.

Próximo Café Philo: 13 de junho – palestrante Marcos Muller – tema: Merleau-Ponty e a questão da memória

Fonte: Raquel Wandelli/ Coordenadora de Comunicação Social da SeCult/UFSC

raquelwandelli@yahoo.com.br

99110524 e 3721-8729

Tags: Aldo LitaiffCafé PhiloDurkeim