Palestrantes falam de cultura no encerramento das Jornadas Bolivarianas
Na mesa-redonda que encerrou a programação de debates da sétima edição das Jornadas Bolivarianas, na manhã desta quinta-feira, dia 7 de abril, no auditório da Reitoria, os conferencistas que falaram ao longo do evento fizeram considerações a título de conclusão dos trabalhos, sob a coordenação do professor Waldir Rampinelli, do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA). Apenas a palestrante boliviana Silvia Rivera Cusicanqui, que precisou viajar de volta ao seu país, não participou da mesa, assistida também por dezenas de alunos do Colégio de Aplicação da UFSC.
O cineasta brasileiro Sérgio Santeiro reforçou as convicções externadas em sua fala de quarta-feira, afirmando que prefere atribuir ao capitalismo, e não ao imperialismo, as mazelas culturais, econômicas e sociais da América Latina. Ele também brincou com os estudantes pedindo que não levem a sério a luta armada, que “só provoca massacres”. Em vez disso, prega a “luta desarmada” para a busca de avanços no continente.
Fernando Rojas, vice-ministro de cultura de Cuba, defendeu uma série de premissas que poderiam reduzir o impacto do colonialismo cultural exercido pelos Estados Unidos sobre os países latino-americanos. “Devemos buscar ações pró-ativas e propositivas que envolvam os movimentos sociais e os governos”, ressaltou. Também o intercâmbio entre esses movimentos, o respeito ao direito autoral e o combate ao sectarismo, “apoiando cada ação transformadora”, ajudariam a reduzir a dependência extrema dos povos do continente em relação à produção cultural dominante.
Para Aram Aharonian, venezuelano que é mentor da Telesur, rede de tevê criada para a internet, o problema do continente é que “estamos cegos de nós mesmos”. Ele disse que a diversidade étnica latino-americano é ignorada pelos próprios habitantes e que o momento é propício para “deixar a resistência e iniciar a construção”. Aharonian estimulou os jovens a produzirem novos conteúdos, “de acordo com a nossa cultura, que reflita a nós mesmos”.
O costarriquenho Rafael Cuevas Molina reforçou sua crença de que a América Latina vive uma mentalidade colonizada que deveria ser substituída por novos modelos, mais criativos, sem vínculo com os padrões americanos e europeus. No entanto, ele vê dificuldades em propor alternativas viáveis, e pergunta: como fazer para ver a nós mesmos, saber quem somos e como podemos retomar as origens?
No encerramento, o professor Nildo Ouriques, também do IELA, mostrou-se mais otimista que os demais em relação a uma ruptura com o quadro de dependência dos modelos importados. “Vivemos um tempo de rebeldia sem precedentes na América Latina”, afirmou. Ele detecta revoluções em curso no Equador, na Bolívia e na Venezuela, mas, no Brasil, sobressaem a falta de renovação cultural e uma estética excessivamente baseada na televisão. Ouriques também criticou uma situação que considera equivocada no país: “Quem faz cultura ignora a política, e quem faz política não se interessa por cultura”.
Por Paulo Clóvis Schmitz