Na Mídia: Tecnologia de SC na Floresta Amazônica
Cravado na obra da gigantesca hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, está um pedacinho de Santa Catarina. Do laboratório de madeira nativa, com tubos de ensaio, pipetas e cercado de vidraças, pode vir uma alternativa de renda para uma região com baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
A parceria é entre o empresário Eduardo Peixoto, da catarinense Orbi Engenharia, e Miguel Guerra, agrônomo, pós-doutor em Biotecnologia e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Há cerca de um ano, os dois se embrenharam na selva amazônica para tocar a iniciativa, pioneira na região.
Em Rondônia, o projeto é, principalmente, de desenvolvimento sustentável. Foram escolhidas três mudas de plantas absolutamente nativas: abacaxi, pupunha e açaí. A banana, que não é nativa, mas tem altíssimo valor nutricional, também entrou na lista.
O professor Guerra percorreu a área entre o Acre e o Amazonas, em busca das melhores plantas. As que, segundo os agricultores, são mais fortes e saborosas.
– É o que a gente chama de metodologia participativa. Pesquisador e agricultor juntos – diz o professor.
Uma ação que, em breve, voltará para os próprios agricultores daquela região. As mudas de abacaxis, criadas em laboratório, serão entregues, de graça, a moradores. Hoje coletores (plantam praticamente só para se alimentar), eles poderão aumentar sua produção em 30 vezes, sem precisar de mais espaço para isso.
– A média hoje é de 3 mil abacaxis por hectare. Com esse modelo, chegamos facilmente a 30, 40 mil por hectare. O índice de sobrevivência é alto, acima dos 90% – explica Guerra.
Benefício que será sentido por microagricultores como o rondoniense Geraldo Arruda. O açaí deve seguir o mesmo caminho. Segundo o pesquisador, é uma planta “de grande elasticidade no mercado mundial”.
A biofábrica despertou interesse até mesmo do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Ele conheceu a estrutura na semana que passou. Levou para casa, em um tubo de ensaio, uma muda de abacaxi.
A floresta vale mais de pé do que se for destruída
O conceito aplicado por Guerra e Peixoto é, na essência, semelhante ao que chineses estão fazendo: donos de algumas terras naquele país recebem dinheiro do governo para não desmatarem florestas. É que, com mais plantas, chove mais, e os reservatórios de usinas hidrelétricas ficam mais cheios, gerando mais energia.
– É a valoração da floresta. Ela vale mais de pé do que destruída, em qualquer lugar. Aqui, o nativo pode aprender que vale mais fazer este tipo de agricultura do que devastar a mata para a pecuária.
Vale lembrar: a criação de gado é a principal razão para as queimadas nas florestas brasileiras. Esses incêndios ajudam a colocar o país entre os países que mais poluem.
*O jornalista viajou a convite da Orbi Engenharia e da Camargo Corrêa
RODRIGO STÜPP * | Porto Velho