Mudanças climáticas ameaçam plantas de importância socioeconômica para agricultores e comunidades indígenas, aponta estudo
Um estudo liderado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com o Museu de História Natural (Naturalis Biodiversity Center), da Holanda, e a Universidade de São Paulo (USP), apontou que as mudanças climáticas ameaçam plantas de importância socioeconômica para agricultores e comunidades indígenas no Brasil. Os pesquisadores avaliaram 135 espécies priorizadas pela iniciativa do Ministério do Meio Ambiente Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual e potencial: Plantas para o Futuro – Região Sul, de 2011.
Mesmo uma década após a publicação, essas espécies continuam demonstrando um grande potencial para proporcionar a segurança alimentar para comunidades e têm valor comercial no mercado nacional e externo. Agricultores e populações indígenas cotidianamente utilizam esses recursos vegetais para construção, alimentação, medicina, ornamento, entre outros usos. Assim, a eventual perda dessas espécies impacta diretamente sua subsistência.
“A principal motivação para a realização desse estudo foi a urgente necessidade de incorporar o impacto das alterações climáticas nos planos de conservação da biodiversidade, bem como discutir abordagens alternativas que melhorem os sistemas ecológicos e, concomitantemente, a qualidade de vida de populações locais que diariamente fazem o uso de diversos recursos vegetais”, justifica Valdeir Pereira Lima, o primeiro autor do trabalho, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais (RGV/UFSC) que atualmente desenvolve pesquisas na Universidade de New Brunswick, no Canadá.
O artigo foi publicado em fevereiro deste ano na Scientific Reports (clique AQUI para acessar a íntegra). No estudo, os pesquisadores utilizaram a modelagem de nicho ecológico, uma ferramenta globalmente empregada para estimar habitats climaticamente adequados e as diretrizes da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) para acessar preliminarmente o status de conservação das espécies estudadas.
- Uma das espécies analisadas é a Araucaria angustifolia, que possui diversos usos: madeira, pinhão (utilizado de diversas formas na culinária), proteção de solo e de outras culturas, entre outros. Foto: Ministério do Meio Ambiente, 2011
- A pitangueira (Eugenia uniflora) tem fruto utilizado na culinária e a madeira empregada na confecção de ferramentas e instrumentos agrícolas. É ainda usada na medicina e na produção de corantes e cosméticos. Foto: Ministério do Meio Ambiente, 2011
- A aroeira (Schinus terebinthifolius) é utilizada na medicina, na recuperação de solos pouco férteis, na produção de óleos essenciais, e tem seu fruto (a pimenta rosa) empregado na gastronomia. Foto: Ministério do Meio Ambiente, 2011
A pesquisa estima um declínio médio entre 22% a 56% das 135 espécies analisadas nas áreas climaticamente adequadas. Embora apenas 4,3% dessas espécies estejam potencialmente ameaçadas pela Lista Vermelha IUCN, este número aumenta para 41% a 84% quando consideradas as mudanças climáticas, uma vez que essas espécies poderão se tornar ameaçadas pela perda de condições necessárias para sobrevivência.
Esses resultados evidenciam um futuro de perdas potenciais para a biodiversidade brasileira e, ao mesmo tempo, reforçam a necessidade de avaliações preliminares para que políticas de conservação sejam efetivamente colocadas em práticas antes da erosão irreversível da biodiversidade que ainda sustenta as diversas populações no Brasil.
(mais…)