Doutoranda da UFSC recebe prêmio de Direitos Humanos por estudo sobre violência obstétrica

06/09/2022 10:12

Divulgação do Facebook Mães na luta contra a Violência obstétrica

A estudante de doutorado da Universidade Federal de Santa Catarina, Bruna Fani Duarte Rocha, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, recebeu menção honrosa no Prêmio de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Antropologia por conta de um artigo sobre o reconhecimento da dor e da violência obstétrica no cotidiano de mães enlutadas e de mães especiais. Os dados foram coletados a partir de uma pesquisa de mestrado sobre o movimento Mães na Luta contra Violência Obstétrica, realizada na Universidade Federal de Santa Maria.

O grupo estudado surgiu, inicialmente, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, no contexto online e off-line, em agosto de 2016. Depois, se desenvolveu em municípios como Pelotas e Rio Grande. No artigo premiado, a pesquisadora, que atualmente é orientada pela professora Alinne Bonetti, trata do desdobramento da violência obstétrica no cotidiano de mães enlutadas e de mães especiais, da formação de “comunidades emocionais” e do lugar das emoções nesse processo.

Ela realizou uma observação participante e também estudou os relatos de parto das interlocutoras nas mídias digitais. “Embasada pela antropologia das emoções, compreendo que o discurso emocional contribui para o reconhecimento dessa violência como uma possível violação de Direitos Humanos básicos, bem como fortalece o vínculo entre as mulheres a partir do momento em que se identificam vítimas dessa violação”, indica, no estudo.

Bruna conclui, no artigo premiado, que diante do reconhecimento e identificação de seus corpos, as mulheres que protagonizaram a pesquisa passaram a formar alianças, primeiro pelas mídias digitais, em seguida pelas ruas, criando uma narrativa que estabelece uma continuidade entre o online e o off-line. “Ao organizar intervenções, inclusive, artísticas, elas mobilizam o corpo e as emoções”, pontua. Ainda, segundo ela, a partir do momento que mães, vítimas de violência obstétrica, propõem-se a ir às redes sociais e às ruas denunciar suas narrativas de parto, elas buscam justiça e reparação dos danos dessa violência. “Elas passam, inclusive, a ser reconhecidas pelo Estado, o qual passa a agir, em alguma medida, em prol de seus interesses”.

No doutorado, realizado no Núcleo de Identidade de Gênero e Subjetividades, ela pretende realizar uma pesquisa sobre a formação de outros movimentos sociais contra violência obstétrica, pela perspectiva feminista, já como um desdobramento da investigação premiada. “O universo empírico será um movimento social de fora do Brasil. A intenção é investigar, de forma mais ampla, o que favorece esse contexto de politização da maternidade, que facilita a criação desses movimentos a partir de demandas da maternidade, pensando no nascimento e suas traduções interculturais em contextos europeus e latinoamericanos”, explica.

Bruna irá observar a formação do movimento social El parto es nuestro, de Madrid, na Espanha, e pensar a formação desses movimentos na América Latina. “Tenho buscado desenvolver uma pesquisa antropológica no campo dos estudos feministas e de gênero, discutindo maternidade, ativismo de mulheres mães, parto e violência obstétrica”, resume.

O tema do Prêmio de Direitos Humanos deste ano era “Cuidar, resistir e lembrar”. Concorriam categorias de graduação, mestrado e doutorado 30 pesquisadores, sendo 14 na categoria mestrado. Ao todo, foram 35 pareceristas. Devido a qualidade dos trabalhos, além do primeiro lugar, foram concedidas duas menções honrosas. Em breve, o artigo na íntegra será publicado na coleção de Direitos Humanos da ABA, em uma edição especial.

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