Evento da UFSC irá propor plano de ação para controle de javali em SC; animais podem causar prejuízos

29/06/2021 09:18

Presentes em pelo menos 143 municípios de Santa Catarina, especialmente na Serra e no Meio-Oeste, os javalis, espécie introduzida que causa impactos ambientais no país e no mundo, têm recebido um olhar atento da ciência e dos órgãos de regulamentação ambiental. A situação se torna ainda mais problemática quando se tem em conta que, mesmo com a proibição dos criadouros, os animais continuam sendo criados, livres, e de forma clandestina. As invasões biológicas são atualmente reconhecidas como uma das cinco maiores causas de perda de diversidade biológica e da contribuição da natureza para o bem-estar das pessoas.

O assunto será discutido e aprofundado no evento Invasão por javali – Desafios, soluções e perspectivas para manejo e controle de javali no estado de Santa Catarina, que vai reunir cientistas e gestores públicos em dois momentos: um com palestras e debates abertos ao público, e um segundo para convidados, que irão construir juntos um plano de ação integrado para o controle de populações invasoras de javali. A programação pública será realizada no dia 12 de julho e está com inscrições abertas.

De acordo com a professora Michele Dechoum, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, os javalis provocam impactos ambientais, sociais e econômicos no mundo inteiro. “No Brasil e em Santa Catarina não é diferente. Javalis provocam diversos tipos de impactos ambientais, tanto sobre a flora quanto a sobre fauna nativa. Os impactos vão desde a perda da diversidade de plantas até a predação e a transmissão de doenças a animais nativos”, destaca.

Além disso, eles são considerados pragas agrícolas, já que podem consumir plantas e destruir cultivos inteiros. Outro aspecto que torna essa invasão perigosa são os riscos de epidemia, pois os animais também podem ser reservatórios de doenças capazes de afetar a suinocultura.

A professora explica que desde 2013 há regulamentação que legaliza o controle do animal por parte do Ibama, mas a norma tem recebido críticas. “Os controladores consideram as normas burocráticas, em especial agricultores familiares que encontram dificuldades para utilizar métodos mais adequados às suas condições”, pondera. Outro aspecto relevante é a necessidade de garantir eficiência ao controle em unidades territoriais de grande tamanho, como Unidades de Conservação e ambientes geridos por grandes empreendimentos. “Ainda, o controle da espécie também pode afetar populações de animais nativos, como a queixada e o cateto, que são confundidos com javalis pelos caçadores”, contextualiza.

Risco à biodiversidade

Por não serem animais nativos da biodiversidade brasileira, a ciência tem lançado um olhar atento aos javalis. No Programa de Pós-Graduação em Ecologia, por exemplo, está em curso um estudo no Parque Nacional de São Joaquim que busca diretrizes para a restauração de áreas de campos nativos degradadas pela espécie.

Outro dado científico recente trazido pela professora diz respeito a um estudo de 2012, que constatou que, na região de Floresta de Araucária, em Santa Catarina, parece haver uma relação direta entre as regiões com um maior número de animais por área e o número de criadores clandestinos. “Ou seja, essa problemática também está relacionada à soltura ou à criação desses animais em vida livre”, argumenta.

Ainda conforme Michele, na compilação de dados de quatro bases de dados diferentes , há quase 1.500 registros de javalis em vida livre no Estado. “Comparado com outras regiões do país, como a região da Serra da Mantiqueira, a densidade em Santa Catarina não é tão alta, mas o problema vem se agravando nos últimos anos”.

A pesquisadora explica que a preparação do evento para ajudar na gestão do problema começou no ano passado, com uma proposta estruturada e com a articulação de uma série de instituições para que a governança do plano de ação já estivesse definida. “A discussão não será restrita à academia e contará com a presença dos diversos setores direta e indiretamente envolvidos, como gestores de unidades de conservação, controladores, representantes de órgãos de meio ambientes de estado limítrofes à SC, sociedade civil organizada, dentre outros”.

A organização do evento tem coordenação da UFSC e financiamento da Fapesc. Participam como parceiros organismos com o Ima-SC, a Cidasc, a Embrapa Suínos e Aves, o ICMBIO, o Ibama, a Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina e a organização não governamental Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental.