Evento promove encontro de jovens cientistas com 28 ganhadores do Prêmio Nobel

30/06/2017 09:00

Foto: Julia Nimke /Lindau Nobel Laureate Meetings

Mais de 400 jovens cientistas de 78 países têm a oportunidade de discutir os avanços da ciência no mundo com 28 ganhadores do Prêmio Nobel. O evento Lindau Nobel Laureate Meetings promove essa troca de experiências desde 1951, na pequena cidade de Lindau, no sul da Alemanha, por uma semana e termina nesta sexta-feira, 30 de junho.

A disciplina central neste ano é Química – a cada ano se revezam entre Química, Física e Medicina. Entre palestras de laureados pelo Nobel, grandes aulas, mesas-redondas e apresentações de pesquisas. Um dos pontos altos desse evento é a aproximação entre jovens pesquisadores com referências mundiais no mundo científico. Entre a nova geração, cinco brasileiros foram escolhidos para participar esse ano.

“É uma humanização do Prêmio Nobel”, disse Sergio Jannuzzi, pós-doutorando na Unicamp. “Não só nas palestras, mas nos debates e até no café, eles nos contam suas histórias, suas questões pessoais, o trabalho todo que tiveram até chegar lá”. O maior objetivo do encontro é esse mesmo: aproximar gerações de cientistas.

Gabriel Gomes, outro jovem cientista brasileiro participando pela Florida State University, acrescenta: “Não só o encontro com vencedores do Prêmio Nobel, mas a oportunidade de poder conhecer e trocar experiências com gente do mundo todo. Vou sair daqui com ideias e contribuições em futuros projetos”.

O brasileiro Lucas Caire da Silva, pesquisador do Instituto Max Planck de Pesquisa em Polímeros, na Alemanha, aconselha os novos alunos e pesquisadores a irem atrás de informação e não esperar “Eu gostaria que tivessem me dado antes algumas dicas sobre o número de opções que existem não só no Brasil, mas pelo mundo.” Jannuzzi completa o colega: “temos que ter consciência que tem gente estudando e trabalhando com ciência no mundo todo. E ter proatividade de ir atrás”.

Ciência e política

Como não poderia deixar de ser, a política foi bastante abordada nessa 67ª edição. Em tempos de “fatos alternativos”, “pós-verdades” (termos que políticos como o presidente norte-americano Donald Trump usam para dizer que crenças pessoais e apelos emocionais têm mais importância do que fatos objetivos na hora de modelar a opinião pública), a ciência se faz ainda mais necessária para explicar o que acontece no mundo.A necessidade de traduzir os fatos e os avanços científicos para o grande público também foi apontada pelos pesquisadores.

William E. Moerner, ganhador do Nobel de Química de 2014, lembrou que uma das formas de aproximar o público é tornando a ciência mais transparente. “Explique os fatos, as pesquisas, os métodos usados para sua família e amigos. Ciência não é um fato alternativo e temos que usá-la para levar nosso futuro para frente”, disse o cientista em encontro com os jornalistas, lembrando o papel da mídia na divulgação das pesquisas científicas.

Mudanças climáticas

Outro aspecto que foi abordado em diversos momentos desse encontro em Lindau são as mudanças no clima e o aquecimento global. 97% dos cientistas no mundo concordam sobre a influência humana para esse aumento nos danos ambientais nos últimos cem anos.Dia 1º de junho desse ano, Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, argumentando que o atual documento traz desvantagens aos americanos para beneficiar outros países. Trump disse que podem negociar um futuro retorno com novos termos para os EUA. Nesse acordo, assinado em 2015, 195 países da ONU se comprometem a reduzir emissões de gases que provocam o efeito estufa (sendo os EUA o segundo maior emissor mundial).

Fato que os cientistas chamaram atenção ao longo dos cinco dias de evento, o aquecimento global não pode ser ignorado ou ainda negado. “Acreditem, no México não há quem negue as mudanças no clima, já que sofremos suas consequências todos os dias”, disse o secretário de Educação Pública do México, Aurelio Nuño.

No discurso de abertura do evento, Steven Chu, físico americano que ganhou o Nobel de Física de 1997, lembrou que mudanças climáticas não são algo novo na história do mundo. “Porém, o que os estudos recentes mostram é que os níveis de dióxido de carbono e outros gases têm aumentado drasticamente no último século”, sendo que três quartos das emissões de gás que provocam o efeito estufa aconteceram desde 1950. “Mesmo que nós parássemos todas as emissões hoje, os estragos continuariam sendo vistos por mais um século “, continua Chu. “As mudanças não respeitam fronteiras, há um perigo real que o aumento dos níveis do mar e o colapso na agricultura provoquem migrações em massa no planeta”.

Hoje cerca de 800 milhões de pessoas moram a até dez metros do nível do mar.Discutir não só a ciência, mas como os cientistas devem se engajar mundialmente para resolver os problemas atuais, entre eles o aquecimento global e suas consequências, foi o principal ponto do Lindau Nobel Laureate Meetings. Aliás esse é o próprio objetivo visado por Alfred Nobel ao criar o maior prêmio na ciência: trabalhos que promovam o bem-estar e o desenvolvimento da Humanidade.

Confira as fotos do evento neste link.

Mais informações no site oficial do evento: www.lindau-nobel.org

Texto: jornalista Lívia Costa Andrade

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