Artigo de pesquisadores da UFSC determina nova ação de antibiótico contra tuberculose

27/10/2016 14:50

eji201670082-gra-0007-mPara buscar novos meios de ação de antibióticos contra a tuberculose, os pesquisadores Lívia Harumi Yamashiro e André Luiz Barbosa Báfica, do Laboratório de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), desenvolveram um artigo científico analisando a forma de agir do antibiótico Isoniazida, bem como procurando alternativas para um combate mais potente a essa doença, para a qual não existe vacina.

Publicado na revista European Journal of Immunology, o artigo é fruto de cinco anos de pesquisa. Depois de uma longa análise das ações do antibiótico em células que possuíam o bacilo tuberculoso, o Isoniazida foi testado em células in vitro, chegando-se a uma conclusão de como ele agia e descobrindo-se informações novas.

Atualmente, cerca de um terço da população mundial possui a bactéria Mycobacterium tuberculosis, bacilo causador da tuberculose, sendo que a doença se desenvolve em 10% deste grupo.

O processo

Dentro de um organismo infectado pela bactéria tuberculosa, coexistem inúmeras células, infectadas ou não. Na intenção de proteger o corpo da disseminação do bacilo, o sistema imunológico libera citocinas – grupo de pequenas proteínas que serve de conexão entre as células. Uma das citocinas mais importantes é o Fator de Necrose Tumoral (TNF), que, se gerada perfeitamente, impede a proliferação das bactérias, levando-as à morte.

A tese de doutorado de Livia buscou analisar como é o processo de passagem da Isoniazida pela célula até que chegue ao granuloma, visto que, em pesquisas anteriores e já desatualizadas, era tido que o antibiótico agia no impedimento da divisão da parede celular. Foi reproduzido, então, um modelo in vitro adaptado para representar todo o processo, e foi apontado que cerca de 20% das bactérias viviam fora da célula, ou seja, elas também adquiriam nutrientes e poderiam proliferar no lado de fora. Além disso, foi constatado que, não importando qual o tipo de célula, o antibiótico não agia diretamente nela, sem regular as células inflamatórias.

Com isso, os pesquisadores se dedicaram a descobrir onde a Isoniazida agiria. Depois de analisarem o processo de reprodução in vitro, notaram que, quando a bactéria atinge o granuloma, este começa a produzir citocinas. A partir daí, o antibiótico Isoniazida se aproveita das reações provocadas pelas citocinas para, combinado com os receptores presentes nas células, agir e acabar com a bactéria. No entanto, para o antibiótico ser ativado, ele precisa passar por uma enzima dentro da célula, chamada katG.

Mas ainda existe outra questão: as bactérias sensíveis morriam no primeiro contato com o antibiótico, porém, existem algumas que possuem inibidores das reações adquiridos através de uma mutação na enzima katG, que são chamadas de resistentes. Quanto aos bacilos resistentes, que não ativam a katG, a Isoniazida não consegue matá-los, mesmo que coexistam com as bactérias sensíveis na mesma célula. Com isso, foi identificado que a sensibilidade à Isoniazida nas células humanas depende inteiramente da ação das citocinas, e não o contrário.

Tais descobertas feitas por Livia e André em seu artigo são informações novas – com base em outros teóricos – que servirão de passo inicial para pesquisas posteriores, que podem se tornar modificações práticas na composição dos fármacos para a tuberculose no futuro. “Nenhuma mudança acontecerá neste momento. Nós precisamos entender melhor isso, e fazer experimentos com esses novos conceitos”, ressaltou André.

Matheus Pereira/Estagiário de Jornalismo/Agecom/UFSC

 

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