Grupo de Pesquisa em Psicologia Polar e Segurança realiza trabalho pioneiro na Antártida
O Grupo de Pesquisa em Psicologia Polar e Segurança (GPPPS), do Laboratório Fator Humano da UFSC, participou dos voos de apoio à missão na Antártida pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar) nos dias de 21 a 26 de agosto. Três integrantes do projeto, após treinamento e orientação das forças armadas, acompanharam o lançamento de cargas aéreas à Estação Antártica Comandante Ferraz, na qual 15 militares estão isolados durante o inverno. Esta é a primeira vez na América Latina que uma operação militar nestas condições é acompanhada por pesquisadores.
A presença dos integrantes do GPPPS na operação permitiu o avanço das pesquisas brasileiras na área de Psicologia Polar, segmento da Psicologia que estuda o comportamento humano em circunstâncias extremas. O resultado das atividades realizadas pelo grupo produzirá um avanço na literatura acadêmica sobre o tema, até então pouco explorado no Brasil.Durante a operação, a equipe do GPPPS realizou um trabalho de observação participativa das atividades da missão, para posteriormente propôr intervenções e contribuições àquele ambiente de trabalho. Realizada pela Força Aérea e Marinha, o principal objetivo era o lançamento de mantimentos e uma peça do gerador para os militares na Estação Antártica. A logística foi realizada à partir de um cargueiro militar Hércules C-130, uma vez que as condições climáticas naquela época do ano impossibilitavam a aterrissagem na Antártida.
Ao todo, foram sete lançamentos de carga em quatro dias. Os voos partiam da base naval de Punta Arenas, no Chile, e duravam cerca de três horas até chegar à Estação. O primeiro voo de lançamento teve de ser cancelado devido às condições climáticas, que levaram ao congelamento do motor do avião. O grupo acompanhou os treinamentos de pouso e aterrissagem da aeronave no gelo.
Pesquisador e participante da operação, o mestrando em Psicologia, Gustavo Pereira, explica que uma área denominada “polar” apresenta pelo menos uma das características de um ambiente ICE – sigla para Isolamento, Confinamento e Extremo. Além das operações militares, também se encaixam nesta categoria “profissões isoladas, como aqueles que trabalham em submarino, plataformas petrolíferas, operadores de andaimes e demais ambientes de altitude elevada”, conta.
Considerado um laboratório natural devido as condições climáticas e ambientais, os registros sobre a operação potencializam o conhecimento aplicado em outras profissões de risco, possibilitando maior segurança e bem-estar nestes ambientes de trabalho. Também pesquisadora e participante da operação, a mestranda em psicologia Paola Delben afirma que o produto de conhecimento engloba inúmeras áreas. “Há muitas contribuições de segmentos da biologia e medicina, além de aspectos da ergonomia a serem considerados na hora de avaliar estes locais”, explica. “Também são observadas questões da psicopatologia, como transtornos e doenças em potencial de serem adquiridas naquele ambiente”, conclui.
Gabriel Daros Lourenço/Estagiário em Jornalismo/Agecom/UFSC