Arte, flores e música na UFSC em homenagem ao estudante Diogo Cuiabano

13/09/2016 08:00
Artista Marcelo Ment durante elaboração do mural em homenagem a Diogo. Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC)

Artista Marcelo Ment durante elaboração do mural em homenagem a Diogo. Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC)

Familiares, amigos e membros da comunidade universitária se reuniram na manhã desta segunda-feira, 12 de setembro, com o propósito de prestar uma homenagem ao estudante do curso de Engenharia Eletrônica da UFSC, Diogo Cuiabano de Medeiros, morto em 28 de março de 2015. Música, arte e distribuição de flores marcaram o ato, realizado nas proximidades do Restaurante Universitário (RU) e que prossegue até esta terça-feira, 13.

O artista Marcelo Ment, natural do Rio de Janeiro, cidade natal de Diogo, iniciou a produção de um mural em grafitti na parede próxima ao ponto de venda de passes do RU. O rosto de um rapaz moreno de sorriso largo, muito amado pela família e amigos, começou a ser esboçado por volta das 10h, emoldurado pelas palavras “respeito”, “vida”, “luz”, “amor”. “O Diogo gostava muito de desenhar, não tinha perfil de engenheiro. Reparei os trabalhos do Marcelo nas ruas do Rio e entrei em contato para pedir um orçamento. Ele prontamente se dispôs e disse que não cobraria, pois não encara essa ação como trabalho”, disse a mãe, Flávia Cuiabano, sorrindo.

“Acima de tudo, sinto-me honrado em fazer parte dessa história, apesar de ser um momento tão triste, uma pessoa tão jovem, um filho querido”, afirma Ment, que trabalha com graffiti há quase 20 anos. O artista esteve impossibilitado de trabalhar por quase um ano devido a uma doença nos olhos. “Costumo dizer que quase perdi a visão para poder enxergar melhor algumas coisas”, pontuou, reflexivo.

A avó Ana Maria Cuiabano; os primos Luiz Otávio Braga e Pedro Paulo Braga; e a madrinha, Patrícia Cuiabano, também participaram das atividades, acompanhados do chefe de gabinete da UFSC, Aureo Moraes; do pró-reitor de Assuntos Estudantis, Pedro Luiz Manique Barreto; e da imprensa local. Cartões com ações positivas que estimulam a solidariedade e a gentileza foram entregues junto com um texto de autoria do escritor e amigo da família, Marcio Vassallo. Diogo Cuiabano de Medeiros tinha 26 anos e foi aprovado no Vestibular da UFSC em 2013. “A ideia é passar a paz dele. Sempre foi um cara calmo, nunca vi ele se exaltar. Este momento pretende passar essa serenidade”, comentou o primo e estudante de Engenharia Mecânica da UFSC, Pedro Paulo.

Banda Tempestade Futura homenageia Diogo Cuiabano de Medeiros nesta segunda-feira, dia 12. Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC)

Banda Tempestade Futura homenageia Diogo Cuiabano de Medeiros nesta segunda-feira, dia 12. Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC)

A banda Tempestade Futura, de Florianópolis, participou da atividade. O músico Victor Guilherme compôs uma música que lembra o episódio com Diogo e leva seu nome. A canção foi tocada por volta do meio-dia e emocionou os presentes.

Uma “corrente do bem” pode ser lida no verso do cartão distribuído durante a homenagem. A primeira namorada de Diogo, Natália, escreveu a corrente após o acontecimento. A avó conta que Diogo era doador de órgãos, mas, devido às circunstâncias de sua morte, não foi possível fazer a boa ação. O cartão foi elaborado com as cores do quarto de Diogo – laranja, preto e branco –, com o símbolo do infinito desenhado com as digitais do rapaz. A mãe conta que, no quarto, há dois quadros: um com a digital em positivo, e outro, em negativo. A frase “+ gentileza, atitude que transforma” complementa o desenho, que também estampou camisetas.

Ana mostrou, entre lágrimas e sorrisos, as diversas fotos do neto que guarda no celular. Tomada pela emoção, compartilhou lembranças da infância do rapaz. “Sempre muito criativo”, lembrou. A avó tem o nome do neto gravado em um coração de ouro que carrega consigo, em um cordão de couro. O nome do marido Léo, já falecido, está na outra face do pingente.

Para a mãe de Diogo, a homenagem propaga valores de amor, solidariedade e paz. “Representa um trabalho de formiguinha para a gente tentar mudar alguma coisa. Em vez de pensar na parte ruim, tentar mudar algo, apesar de ser muito difícil”, afirmou Flávia. “Ele era tímido, educado, extremamente gentil e muito tranquilo. Ele era aquele rapaz que abre a porta do carro. Não era de ir em boate, teve três namoros longos”, recordou, saudosa.

Cartão distribuído na UFSC propaga uma "corrente do bem" em homenagem a Diogo Cuiabano. (Foto: Divulgação)

Cartão distribuído na UFSC propaga uma “corrente do bem” em homenagem a Diogo Cuiabano. (Foto: Divulgação)

Cerca de 600 flores laranja foram distribuídas no campus. O estudante Henrique Montagna, amigo de Diogo, lembra das conversas e da serenidade que marcavam a sua personalidade. “Ele era uma pessoa muito calma, muito gente boa. A gente conversava bastante. Ele não era explosivo, sempre topava sair para conversar, tomar uma cerveja. Vendo hoje esse grafitti, com as palavras ‘gentileza’, ‘amor’, ‘vida’, lembra muito ele. O desenho também está muito parecido com ele. Emociona muito. A música que a banda fez foi muito bonita, triste, mas estamos aqui celebrando a vida e tentando espalhar a generosidade,” comentou, emocionado.

Oriana Bachmann e Sávio, estudantes de Ciências Sociais, saíam do RU e foram abordados por familiares de Diogo que distribuíam flores. “Eu não tinha ouvido falar do Diogo, mas achei uma homenagem linda. Todos nós já perdemos uma pessoa, e isso toca todo o mundo”, ressalta Oriana. “Eu achei bonita a iniciativa da família, triste também. Muitas pessoas vão poder refletir depois disso”, acrescentou Sávio.

 

Vídeo com a música Diogo, banda Tempestade Futura

“Voa pra longe e volta pro sol
Esquece a dor
Que fez calar a tua voz
Leve teus sonhos e dorme em paz
Longe daqui
Você se foi cedo demais
E mesmo sem te conhecer
Penso em você
E agora minha voz falha
E agora fico em silêncio
E agora dói quando eu lembro
Fosse um segundo a menos ou a mais
Será que você iria esbarrar na morte ou viver?
Até entendo que existem razões
Mas nenhuma lei da evolução me faz aceitar
A brutal ação que te fez sangrar
E agora minha voz falha
E agora fico em silêncio
E agora dói quando eu lembro
E agora dói quando eu lembro”.
(Diogo – Tempestade Futura)

 

Bruna Bertoldi Gonçalves e Mayra Cajueiro-Warren / Jornalistas / Agecom / UFSC

Revisão: Claudio Borrelli / Revisor de Textos da Agecom / UFSC

Fotos: Ítalo Padilha / Fotógrafo / Agecom / UFSC

Tags: Diogo Cuiabano de MedeiroshomenagemUFSC