TV UFSC: Canal Memória destaca a história catarinense

04/10/2013 14:14

Criado e desenvolvido pelo Núcleo de Produção da TV UFSC, o Canal Memória é um programa destinado a nossa história. Uma história que, a cada ano que passa, perde suas raras fontes, seus documentos e suas lembranças.  Longe de falsos proselitismos e sem querer exibir pérolas raras da cultura catarinense, o programa Canal Memória é, sobretudo, um alerta aos interessados nesses patrimônios culturais.

O audiovisual, assunto da maioria dos 19 programas dessa primeira etapa, é um exemplo desse aviso. Do final dos anos 20 e da década de 30 restaram cerca de duas horas de imagens realizadas pelos pioneiros José Julianelli e Alfredo Baumgarten. Os filmes originais de Julianelli estão com Marcondes Marchetti, a quem devemos, juntamente com o pesquisador Valencio Xavier (falecido em 2008), a salvaguarda dessas imagens.

http://noticias.paginas.ufsc.br/wp-includes/js/tinymce/plugins/wordpress/img/trans.gifA Cinemateca Brasileira, referência na preservação de filmes, possui contratipos dessas imagens, mas o acesso do pesquisador aos filmes ainda é precário. Os filmes de Baumgarten estão também salvaguardados pela Cinemateca Brasileira. Grande parte desse acervo precisa ser recuperado e telecinado, para ser colocado à disposição dos pesquisadores. Do final dos anos 30 e início da década de 40, existem cerca de uma hora e 30 minutos de registros, a maioria filmada na Ilha de Santa Catarina por Edla von Wangenheim, considerada a primeira cineasta catarinense.

Este acervo – guardado em condições inadequadas, na casa do neto de Edla, Aldo von Wangenheim – está necessitando de higienização, telecinagem e do depósito na Cinemateca Brasileira. Trata-se de um rico material, que poderia também estar à disposição de estudiosos. Nos anos 50, os registros cinematográficos aumentaram no estado catarinense. Do ano de 1953 até o início da década de 1980, o comerciante Willy Sievert filmou os principais acontecimentos de Blumenau.

Sievert deixou um legado de cerca de 70 horas, guardado pelo neto  Sávio Luiz Abi-Zaid, no seu escritório de arquitetura. O material encontra-se em razoável estado de conservação, mas como não está digitalizado, a cada projeção deteriora-se um pouco mais. O fotógrafo Waldemar Anacleto filmou em 1956 o incêndio da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, para os cine-jornais da Herbert Richers, onde pode estar todo o copião do episódio que destruiu uma das mais belas edificações da Ilha. O enterro do governador Jorge Lacerda, filmado em junho de 1956 por Anacleto, com a praça XV lotada de pessoas, é uma bela homenagem ao ilustre ex-chefe do executivo catarinense. O município de Nova Trento, com José Poli, ganhou vários registros da cidade e uma ficção, também nos anos 50. Os originais estão com Poli. Em 1957, com o Grupo Sul, foi realizado o primeiro longa-metragem de Santa Catarina. Totalmente rodado em Florianópolis, restam apenas sete minutos do filme precariamente telecinado e com duração original de uma hora e 20 minutos.

O cinegrafista José Hamilton Martinelli revelou, numa entrevista em 2002, que filmou aproximadamente 200 cine-jornais para as Produções Carreirão. Desse acervo,  cerca de 30% estão no MIS-SC, necessitando de telecinagem para serem colocados  à disposição dos pesquisadores. Os filmes do GUCA, fotografados por Gilberto Gerlach, devem estar guardados também em lugar inadequado e necessitando de uma telecinagem, pois as cópias em DVD que circulam por aí não têm uma imagem de boa qualidade em relação ao filme original.

Os filmes mais recentes do início da TV em Santa Catarina (filmados em 16 mm) perderam-se junto com a demolição do prédio da TV Cultura, na rua Bocaiúva, em Florianópolis. Da época do analógico aos atuais filmes da era digital, os formatos se sobrepuseram a cada inovação tecnológica – passando pelas bitolas profissionais ou semiprofissionais com uma polegada; U-Matic; VHS; SVHS Beta; Mini-dv; DVD e outras. A maioria dos acervos de imagens não foi atualizada consoante o avanço tecnológico de processamento de sinais eletrônicos, analógicos ou digitais, para capturar, armazenar e transmitir ou apresentar imagens, gerando uma sucessão de inúmeros formatos e um acervo de imagens ricas e diversificadas em seus conteúdos e origens, mas que, de certa forma, confundem a preservação dos acervos.

Este é um retrato da memória audiovisual, e algo que o Canal Memória tenta alertar:  a necessidade de que sejam preservadas as imagens que sobreviveram ao tempo.  Mas esse estado não é apenas “privilégio” do audiovisual. A ponte Hercílio Luz, nosso maior monumento, está há 31 anos fechada.  A maioria de nossos acervos está sem recursos para acompanhar as vantagens e possibilidades cognitivas e de socialização geradas pelos avanços da tecnologia. A boa iniciativa da Casa da Memória, em Florianópolis e da Biblioteca do Estado de Santa Catarina, criada em 1854, esbarra na falta de infraestrutura e recursos, sobrevivendo muito mais pela obstinação dos seus funcionários. As novas tecnologias que permitem ao pesquisador não se deslocar do Oeste de SC ou de outro estado para ter acesso ao maravilhoso acervo de obras raras da biblioteca pública estadual, que se deteriora a cada dia, estão longe de ser implantadas.  No entanto, há sempre uma luz no fim do túnel. Um exemplo é o Museu da Imagem e do Som, que está sendo construído em Balneário Camboriú, pelo empresário Fernando Delatorre, que abrigará, em seus seis andares quase prontos, a maior coleção de equipamentos de imagem  e som do país.

A produção do Canal Memória tem a direção e pesquisa de Zeca Nunes Pires, e a gravação e edição de imagens a cargo dos estudantes do curso de Cinema da UFSC, Andersson Brito e Jefferson Moreira. A música de abertura é de Silvia Beraldo. O programa intitulado “O documentário político de Silvio Tendler” contou com a participação das estudantes do curso de Jornalismo da UFSC, Giuliane Gava e Dayane Ros, na gravação e na edição da entrevista.

Sites relacionados:

Canal Memória – http://tv.ufsc.br/programa.php?progr_ID=33

www.cinemateca.gov.br/‎

http://globotv.globo.com/globonews/globonews-miriam-leitao/v/cpdoc-da-fgv-reune-maior-acervo-de-arquivos-privados-do-brasil/2851284/

https://www.acontecendoaqui.com.br/canal-memoria-alerta/

Zeca Pires / Cineasta / TV UFSC
zknunespires@gmail.com 

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