Estudos têm resultados promissores para tratamento do AVC e de queimaduras com células-tronco

28/06/2012 16:30

Uma metodologia que pode melhorar o diagnóstico da neoplasia mieloproliferativa e resultados promissores em modelos animais sobre o uso de células-tronco para recuperação do AVC e de queimaduras foram apresentados nesta quinta-feira, 28 de junho, em seminário de avaliação do Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS).

O encontro foi realizado no auditório do Inova@SC, no ParqTec Alfa. Pela manhã, cinco projetos, todos da UFSC, foram relatados à coordenação geral do PPSUS, ligada ao Ministério da Saúde, representantes da Fapesc, para avaliadores da Secretaria Estadual da Saúde e CNPq. O seminário prossegue nesta sexta-feira, totalizando a avaliação de 28 projetos da UFSC, FURB, Udesc, Unesc e Univali.

Um dos trabalhos da UFSC foi apresentado pela professora Maria Cláudia Santos da Silva, que atua junto ao Laboratório de Oncologia Experimental e Hematologia, ligado ao Centro de Ciências da Saúde e ao Hospital Universitário. A pesquisadora mostrou estudos que comprovam benefícios de investigar a mutação JAK2V617F no diagnóstico das neoplasias mieloproliferativas, anomalias celulares do organismo relacionadas a uma série de doenças e de difícil avaliação.

Em sua opinião, a investigação da mutação poderia ser adotada pelo SUS, pois em laboratórios privados o exame é de alto custo (cerca de R$ 700,00) e muitos pacientes não têm condições de realizá-lo. “Teríamos diagnóstico mais eficiente e rápido, e melhora da qualidade de vida, com início mais rápido do tratamento e redução da evolução para outras complicações”, avaliou a professora.  Segundo ela, atualmente o laboratório ligado à UFSC é o único em Santa Catarina que realiza o exame. Um dos desafios para adoção do teste é criar um código de cobrança para realização gratuitamente via Sistema Único de Saúde.

Tratamento do AVC
Células-tronco foram o foco de outros dois trabalhos apresentados nesta quinta-feira. As pesquisas desenvolvidas junto ao Laboratório de Células-Tronco e Regeneração Tecidual, ligado ao Centro de Ciências Biológicas da UFSC, indicam resultados animadores, em modelos animais, para o tratamento do Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de queimaduras.

O professor Márcio Alvarez da Silva relatou pesquisa sobre a obtenção de células-tronco a partir de placentas e seu uso em enxertos na região cerebral de camundongos. Segundo ele, os experimentos mostraram que as células-tronco humanas obtidas em placentas apresentam características muito semelhantes às obtidas na medula óssea. Usadas em enxertos, permitiram a recuperação e a proliferação celular na área afetada pela isquemia, colaborando com a redução da lesão cerebral dos camundongos.

De acordo com o professor, o trabalho mostra a recuperação significativa na área da lesão, não apenas com a proliferação das células enxertadas, mas com regeneração de outras do próprio animal – fenômeno observado por meio de marcadores moleculares e que será investigado pela equipe. O trabalho terá também continuidade com a avaliação motora de animais que recebem as células-tronco provenientes de placenta na região lesada pelo AVC.

Queimaduras
Resultados otimistas para o tratamento de queimaduras a partir da terapia com células-tronco foram demonstrados por outra pesquisadora do mesmo laboratório. A professora Andréa Gonçalves Trentin apresentou estudos que envolvem equipe multidisciplinar na busca da melhoria do atendimento a pacientes com queimaduras. Com o objetivo de usar células-tronco do próprio paciente, a equipe que em outros estudos já trabalhou com células da placenta, crista neural, cordão umbilical e obtidas a partir de dentes agora investiga o potencial de diferenciação de células-tronco da pele do couro cabeludo humano, a partir de fragmentos obtidos em cirurgias plásticas. Segundo ela, os testes demonstraram a diferenciação desse material em diversos tipos celulares. Entre eles, células-tronco mesenquimais, que podem gerar células nervosas, ósseas e de gordura, e não apenas queratinócitos, mais presentes na epiderme, principal foco da pesquisa.

O trabalho possibilitou também a avaliação de duas matrizes de regeneração dérmica já disponibilizadas pelo mercado para tratamento de queimados em hospitais, e sua performance em associação com células-tronco. Avaliada em modelos animais, essa combinação acentuou a vascularização e acelerou o processo de regeneração da pele dos animais. “Estamos em análises finais, mas os resultados são muito bons e fornecem bases para outros estudos ”, destacou a professora.

Pesquisas sobre a AIDS
O professor Aguinaldo Roberto Pinto, do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFSC, detalhou estudo sobre a diversidade genética do vírus HIV e resistência primária a antirretrovirais em pacientes soropositivos. Segundo ele, além de uma distribuição desigual de infectados pela Aids, com maior número em países africanos, há também uma diferenciação em relação aos subtipos de vírus prevalentes em diferentes regiões.

A pesquisa financiada pelo PPSUS confirmou que o tipo de vírus prevalente na região da Grande Florianópolis é o subtipo C – enquanto no país 70 a 90% é do subtipo B, o mesmo que prevalece na maioria dos países da América Latina, América do Norte e Europa Ocidental.

O trabalho envolveu também a avaliação da resistência primária – já presente no vírus no momento que o paciente se infecta. A partir de 82 amostras de sangue de soropositivos nunca tratados, foi identificado um índice de 8,3% pacientes com vírus que possuem mutações capazes de gerar resistência a diferentes fármacos. Segundo Aguinaldo, os dados poderão ser ampliados para outras cidades em novos projetos e oferecer subsídios para a escolha de tratamentos mais adequados.

O último trabalho da manhã abordou o desenvolvimento de estratégias para melhoria das características do saquinavir, um antiviral usado na terapia anti-HIV. As pesquisas permitiram novas formulações do fármaco a partir de processos simplificados, sem exigência de equipamentos sofisticados, matéria-prima nacional e de baixo custo. Uma das metas do trabalho é reduzir os cursos de produção e melhorar a biodisponibilidade, relacionada à quantidade do fármaco que é absorvida e utilizada pelo organismo.

“As pesquisas comprovam a melhoria da absorção intestinal e reforçam o papel do Brasil no desenvolvimento de antirretrovirais”, salientou o doutorando em Farmácia Thiago Caon, responsável pela apresentação do trabalho.

O PPSUS é coordenado nacionalmente pelo Ministério da Saúde, via Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit). Nos estados, os recursos são repassados aos projetos selecionados regionalmente por meio do CNPq e das Fundações de Apoio à Pesquisa – em Santa Catarina, via Fapesc.

Por Arley Reis / Jornalista da Agecom

Informações sobre o Seminário de Avaliação do Programa de Pesquisa para o SUS: Fernanda Beduschi Antoniolli / (48) 3215-1218 / fernanda@fapesc.sc.gov.br

Mais informações na UFSC:

– Diagnóstico da neoplasia mieloproliferativa: Maria Cláudia Santos Silva / maclau@ccs.ufsc.br / (48) 3721-9712
– Células0-tronco: www.lacert.ufsc.br  / lacert@gmail.com / (48) 3721-6905
– Diversidade genética do vírus HIV: Aguinaldo Roberto Pinto / pintoar@ccb.ufsc.br  / (48) 3721-5206
– Melhoria das características do saquinavir: Thiago Caon / (48) 3721-5207

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Trabalhos que serão apresentados nesta sexta-feira:

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