Professor desenvolve instrumento que avalia experiências de discriminação

21/07/2011 08:15

Questionário é resultado de doutorado na linha de pesquisa Desigualdades em Saúde

O professor João Luiz Dornelles Bastos, do Departamento de Saúde Pública da UFSC, desenvolveu um questionário para avaliar as experiências discriminatórias sofridas ao longo da vida e o impacto sobre a saúde. O instrumento é resultado de seu doutorado na linha de pesquisa Desigualdades em Saúde, do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas.

As questões foram organizadas com base em extensa revisão da literatura e na condução de grupos focais, dinâmica em que pessoas foram reunidas para identificar problemas relacionados a preconceitos, tratamentos negativos, desiguais e de violação de direitos.

O questionário contém 18 itens que abordam a exposição a tratamento diferencial, as motivações para esses eventos, o grau de incômodo gerado e a atribuição dos tratamentos diferenciais à discriminação. A avaliação leva em conta agressões verbais e físicas.

“O levantamento contempla tanto o ponto de vista da pessoa que responde ao questionário, quanto o ponto de vista do pesquisador na avaliação das experiências discriminatórias”, explica o professor, autor da tese Desigualdades Raciais em Saúde: Medindo a Experiência de Discriminação Autorrelatada no Brasil.

Além do livro Measuring Racial Discrimination, organizado pela economista americana Rebecca Blank e outros colaboradores, João Luiz recorreu a uma literatura que não se restringiu ao campo da saúde. “Tomei como referência bibliografia das ciências sociais, antropologia, psicologia social e história, entre outras”, explica Bastos.

Segundo ele, o levantamento permite entender melhor o fenômeno da discriminação, fornecendo subsídios para buscar sua redução na sociedade. A novidade em relação a outros questionários que avaliam experiências discriminatórias é que o desenvolvido por Bastos contempla questões além das raciais, muito comuns nos Estados Unidos. “São abordadas experiências discriminatórias com motivação racial, de gênero e de classe, entre outras”, explica o pesquisador.

Segundo ele, a relação entre algumas doenças com as experiências discriminatórias são descritas na literatura, especialmente transtornos mentais, entre eles depressão e ansiedade. São também citados problemas cardiovasculares, tabagismo, alcoolismo e alimentação não-saudável como consequências de exposição a tratamentos discriminatórios.

O trabalho contou com a orientação dos professores Aluísio Barros, da Universidade Federal de Pelotas, e Eduardo Faerstein, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Teve apoio institucional da UERJ, onde foi realizada a etapa de campo. O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Questionário

A primeira aplicação do questionário foi no Rio de Janeiro, com 424 estudantes universitários de uma instituição pública de ensino. “A aplicação mostrou que o instrumento apresenta bom desempenho na avaliação das experiências de discriminação entre os estudantes”, comenta o pesquisador.

O objetivo do professor João Luiz Bastos agora é aplicar o questionário na UFSC. O projeto já foi contemplado com uma bolsa de iniciação científica do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).

Mais informações: João Luiz Dornelles Bastos /(48) 3721-9388 /  joao.luiz.epi@gmail.com

Por Ana Luísa Funchal/ Bolsista de Jornalismo da Agecom

Tags: discriminação