Estudo da UFSC apresenta modelo conceitual de fenômeno atmosférico chamado ‘toró’

10/12/2024 13:09

Fenômeno tem força suficiente para causar erosão. Na imagem, a Serra Geral, em 23 de dezembro de 1995. Foto: Reprodução/Acervo do pesquisador.

Um estudo produzido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apresentou um novo modelo conceitual de evento climático e propôs o nome “toró” para designá-lo. O fenômeno meteorológico se caracteriza por uma grande quantidade de água e granizo, cerca de 10 metros cúbicos, caindo em um intervalo curto, de 20 segundos a 1 minuto, podendo atingir até 10.000 milímetros por minuto. Ele ocorre em regiões próximas a montanhas, produzindo ventos fortes, destruição de árvores e casas, e deixando marcas e cicatrizes lineares na vegetação.

O termo “toró” tem origem na língua guarani, explica Reinaldo Haas, autor do estudo e professor de climatologia do Departamento de Física da UFSC. Ele argumenta que o povo guarani já conhecia este evento climático, chamando-o de tororó ou tororomba. A língua guarani, assim como o tupi antigo, é onomatopeica, ou seja, as palavras imitam os sons que representam. Reinaldo acredita que o nome “toró” representa o som produzido pelo fenômeno: “tó”, para quando a água corta o ar; e “ró”, para quando chega ao chão. 

O novo termo foi sugerido para diferenciá-lo do fenômeno conhecido como tromba d’água, tradicionalmente usado para descrever chuvas fortes na meteorologia oficial brasileira até a década de 1990. “O nome ‘tromba d’água’ é dado quando um tornado se forma sobre a água, o que não tem nada a ver com o toró”, informa Reinaldo. O docente e sua equipe analisaram registros antigos, dicionários e a toponímia de algumas localidades para compreender melhor o fenômeno e sua terminologia. Ele destaca a importância dos observadores locais e a necessidade de incluir indígenas, moradores e cientistas na pesquisa.

Um modelo conceitual foi desenvolvido no estudo para detalhar a formação de um toró, considerado um perigo atmosférico, conforme explica o professor. Este evento ocorre quando uma nuvem supercélula, caracterizada por uma corrente de ar ascendente muito forte, se aproxima de um desfiladeiro. Parte desse ar sobe ainda mais rápido devido ao formato do terreno, o que provoca a formação de mais gelo dentro da nuvem e aumenta o peso do granizo. Com o tempo, a pressão dentro da nuvem se torna tão alta que o ar ascendente não consegue mais sustentar o granizo, resultando em sua queda. O granizo e a água caem rapidamente, seguindo o vento ao redor do desfiladeiro e sendo empurrados para o centro, onde a pressão é mais baixa. Quando o granizo derrete, forma-se uma forte corrente de água que desce pelo desfiladeiro com força suficiente para causar erosão, principalmente no lado protegido do vento, deixando marcas no terreno. 
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