Projeto da UFSC altera técnicas de cultivo e aumenta produção de vinhos em Nova Trento

24/02/2025 12:46

Iniciativa identificou variedades de uvas que apresentaram boa adaptação ao clima. Foto: Divugalção/Fapeu

Um projeto desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está revolucionando a vitivinicultura de Nova Trento, município do Vale do Rio Tijucas. Apesar das origens italianas e de ser uma tradicional região produtora de vinhos, a quase totalidade da produção vinícola local é feita de uvas recomendadas para vinhos de mesa, com grande parte da matéria-prima oriunda do Rio Grande do Sul. Além da carência de conhecimento técnico atualizado entre os produtores e a falta de de infraestrutura adequada para sustentar a expansão e modernização, outro grande adversário é o clima da região.

“No início do projeto, em 2020, havia uma série de dúvidas, como: ‘seria possível produzir uvas viníferas sob cultivo protegido na região de clima subtropical?’; ‘essas uvas teriam qualidade adequada para vinificação?’; e, por fim, ‘os vinhos produzidos teriam um padrão de qualidade?’”, lembra o professor Alberto Brighenti, coordenador da iniciativa e docente do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFSC. O trabalho é executado em uma propriedade localizada na comunidade de Vígolo, conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu), e é acompanhado por técnicos e pesquisadores do Núcleo de Estudos da Uva e do Vinho (Neuvin). O projeto ainda tem apoio da prefeitura de Nova Trento e a parceria do viticultor Ricardo Cipriani, empresário do ramo da fruticultura e egresso do curso de Agronomia da UFSC.

Florada do Chardonnay, variedade usada na produção comercial de um espumante fabricado na região. Foto: O Herege/Divulgação

Após quatro anos do projeto, a produção tornou-se comercial, com lançamento de marca própria (O Herege), que conta com um espumante elaborado com a variedade Chardonnay e um vinho rosé, a partir de uvas Marselan. O primeiro passo, além das questões técnicas, foi enfrentar o clima subtropical úmido, propício para a disseminação de doenças fúngicas que afetam variedades viníferas menos adaptadas à região. “Em quatro anos de avaliações e três ciclos produtivos foram testadas uma dezena de variedades, diferentes estilos de vinificação e diferentes produtos. É possível pontuar que a variedade vinífera Marselan apresenta uma boa adaptação ao cultivo protegido em região subtropical. Os espumantes da variedade vinífera Chardonnay também apresentam boa qualidade. Dentre as variedades destinadas ao consumo in natura, a Niágara Rosada aparece como uma boa opção, porque sua colheita é realizada precocemente, o que permite um bom retorno financeiro”, relata o professor Brighenti.

Cultivo protegido

Para blindar a produção, foi adotada a técnica do cultivo protegido, que permite uma melhor manutenção da umidade ao vinhedo e resguarda as plantas dos danos e doenças provocadas por adversidades climáticas e fitossanitárias. “A cada ciclo produtivo, os parâmetros de avaliação e seus resultados têm se tornado mais sólidos. As consecutivas obtenções de dados possibilitam uma comparação de resultados fundamentada e segura para sustentar a adequação de técnicas e, consequentemente, contribuir para o desempenho do setor vitivinícola da região”, pontua o coordenador do projeto. Agora, o grupo de pesquisa está testando o cultivo de variedades PIWI (Pilzwiderstandsfähige Rebsorten), híbridos que possuem genes de resistência a doenças fúngicas, como a Calardis Blanc.

Outro resultado inédito já alcançado foi a implementação de duas colheitas por ciclo produtivo, resultado do ajuste do calendário de colheita e das podas produtivas e que resulta em maior produtividade das variedades. A expectativa é que os resultados alcançados no local se espalhem por todo o município e região. “O estabelecimento de técnicas e tecnologias para viabilizar a produção de uvas viníferas nesse local pode estimular outros produtores a ingressarem nessa atividade, pode contribuir para a expansão da fronteira vitícola do Estado e, por fim, contribuir para a criação de novos empregos e de novas empresas neste ramo”, observa Brighenti.
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