Sumiço dos patinhos do Lago da UFSC gera comoção; predadores podem ser os responsáveis

17/10/2023 10:55

Patinhos foram muito fotografados pela comunidade universitária (Fotos: Instagram @aves.daufsc)

O sumiço dos patinhos do Lago da UFSC, da espécie Cairina moschata, gerou comoção e muita repercussão nas redes sociais nos últimos dias. Isso porque a comunidade universitária, que já havia se acostumado a observar e a fazer registros fotográficos dos filhotes que passeavam pelo campus, percebeu que eles não estavam mais entre os adultos – algo incomum. A hipótese mais provável é que eles tenham sido alvo de predadores.

O professor Guilherme Brito, do Laboratório de Ornitologia e Bioacústica Catarinense (Laboac), não chegou a ser pego de surpresa pela mudança na paisagem do lago, que agora só conta com os três patos adultos, além das outras espécies que circulam no local. “Eu imaginava que iriam ter predações mas tinha esperanças de um ou outro ficar. Mas faz parte, também, fazer o exercício de observar e entender a natureza como ela é, sem tentar incutir nossos anseios nela”, fala, a respeito da repercussão que o assunto gerou.

De acordo com o professor, que tem um trabalho de levantamento das aves no campus da Trindade, há potenciais predadores que eventualmente podem capturar filhotes e ovos dos patos do lago. “Lagartos teiú (Salvator merriami) podem predar ovos. Jacarés-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), algumas espécies de gaviões e falcões (carcará, chimango, gavião-tesoura, gavião-carijó, gavião-de-cauda-curta), grandes garças (socó-dorminhoco, garça-branca-grande e garça-moura) podem predar filhotes já eclodidos”, conta. Nas redes sociais, estudantes chegaram a comentar que viram uma garça com um dos filhotes.

Ninhada tinha sete filhotes

Brito também explica que filhotes são alvos frequentes de predadores por serem menores, inexperientes e mais indefesos que adultos, portanto bastante visados. Eles não se locomovem, nem se defendem como os maiores, por isso dão menos trabalho para um predador. “Os pais podem sim protegê-los mas também depende da experiência dos animais com as proles. Pelo histórico dos patos do lago essa é a primeira ninhada”, explica. O melhor mecanismo de proteção dos filhotes seria a proximidade dos pais, além de uma plumagem mais discreta e que se confunde com o ambiente, possibilitando que se escondam quando percebem ameaça. Além disso, gatos e cães domésticos e de rua são potenciais predadores, por isso, segundo o professor, não é recomendável deixá-los soltos onde há filhotes.

O trio de patos adultos do lago – entre eles o pai e mãe dos filhotes – pode nem ter percebido o sumiço da prole, que foi desaparecendo pouco a pouco. “Tem pais que defendem e às vezes não chegam a perceber a falta de algum”, afirma o professor. De acordo com ele, existem estudos que verificaram a capacidade de contagem de galinhas com relação aos seus filhotes, mas aparentemente os adultos só percebem alguma falta de indivíduos quando uma quantidade considerável desaparece de uma vez.

Sobre a possibilidade de novos filhotes virem a compor o cenário do campus futuramente, Brito avalia que seria necessário saber o o histórico individual dos adultos do lago. Entretanto, há uma segunda fêmea mais nova no local, que chegou depois e provavelmente teve a prole viável. “Há registro de tentativa e ovos colocados em anos passados, então é bem possível que se reproduzam novamente”, diz. Porém, mesmo se novos filhotes de Cairina moschata habitarem o lago, é preciso compreender que a natureza tem um curso. “Ali no lago não vejo uma solução fácil a não ser deixar a natureza seguir seu curso e alguns filhotes conseguirem atingir a fase adulta. Não sou favorável ao afugentamento de predadores, por exemplo”.

Tags: Cairina moschataGuia de Campo das Aves do CampusLaboratório de Ornitologia e Bioacústica Catarinensepatospatos do lago da UFSC

Filhotes de patos do lago da UFSC atraem olhares curiosos; conheça a espécie Cairina moschata

03/10/2023 12:03

Patinhos começam a nadar assim que saem dos ovos

Um grupo de sete patinhos tem chamado atenção de quem circula no entorno do lago da UFSC, situado ao lado do Centro de Cultura e Eventos, no campus da Trindade. Anteriormente habitado por três espécies adultas de Pato do Mato – Cairina moschata -, agora o local também é a casa dos filhotes, que levam cerca de 70 dias para começar a voar.

O professor Guilherme Brito, do Laboratório de Ornitologia e Bioacústica Catarinense (Laboac), explica que essa é uma espécie comumente domesticada, que ocorre em muitos lugares do mundo mas tem distribuição mais ampla na América do Sul e na América Central. “São bichos geralmente mesclados, enquanto o não domesticado, o animal nativo, é todo preto”, explica. A espécie foi domesticada por comunidades indígenas das Américas.

Os Patos do Mato são animais essencialmente da floresta associada aos rios e costumam ser tímidos em regiões onde são muito caçados. No campus, onde são alimentados por pessoas que circulam na região, eles convivem harmoniosamente com seres humanos. “São o típico domesticado”, registra Brito.

Os filhotes, que têm alegrado os humanos andando e nadando em bando atrás da mãe, nasceram após cerca de 35 dias de incubação. “Geralmente se reproduzem em época chuvosa, quando há mais recursos. Eles nidificam em buracos, como oco de árvore ou buraco de barranco. Muitos utilizam caixas ninhos, com o ninho sempre numa área coberta”, explica o professor.

Essa espécie costuma registrar cerca de dez ovos por ninhada, o que é considerado um volume alto para o seu tamanho. Isso indica, segundo o professor, que há um dispêndio grande de energia dos animais em sua época reprodutiva. Entre os Patos do Mato, o macho é muito maior do que a fêmea.

Filhotes precoces

Espécie já foi catalogada como ave do campus (Reprodução do LABOAC)

Os simpáticos patinhos do lago da UFSC são chamados de filhotes precoces – ou, tecnicamente, nidífugos. “Eles nascem quase prontos, bem plumadinhos, saem do ovo e já saem nadando”. No caso dos Cairina moschata eles ficam mais dependentes da mãe nos primeiros dois meses e com cerca de 70 dias já são capazes de voar, o que pode fazer com que abandonem o campus em breve.

Mas a natureza – e a ecologia – também têm seus próprios enredos. E o professor Guilherme destaca que é imprevisível o que vai acontecer com os novos habitantes do lago quando conquistarem sua independência e alçarem seus primeiros voos. “O que eles tendem a fazer é se dispersar quando adultos, pois quanto mais bichos adultos no mesmo ambiente, menos recursos”, projeta.

Mesmo assim, o fato de serem animais domesticados pode fazer com que eles permaneçam no ambiente onde são alimentados de forma abundante. Se isso ocorrer, a população pode aumentar ainda mais, já que são animais que costumam se reproduzir bastante. “Eles tendem a ser promíscuos em cativeiros”, explica.

A fofura dos patinhos tem atraído muitos flashs, o que é facilitado pelos próprios animais, que não se assustam com a presença humana. “Os filhotes confiam muito nos pais e não têm medo da aproximação”, conta Guilherme. Mas, mesmo assim, é necessário cautela e respeito aos bichos. “Não dá para pegá-los na mão para tirar foto”, recomenda o professor.

Guia das aves do campus? Temos!

O Laboac está elaborando um material completo sobre as aves do campus da UFSC. A ideia é fazer um guia primeiro na versão de ebook. “ É um guia de campo para estimular a observação de aves do campus e arredores, já que temos bastante curiosos”, conta. O título da publicação em fase de produção é Guia de Campo das Aves do Campus.

Além do Pato do Mato, já catalogado, a equipe reuniu outras das quase 130 espécies registradas no campus, mas a ideia é envolver a comunidade, que pode enviar imagens das espécies fotografadas para o e-mail ornitoufsc@gmail.com ou instagram @laboac_UFSC. A ideia é também reunir os grupos para saídas de campo, as passarinhadas.

Tags: Cairina moschataGuia de Campo das Aves do CampusLaboratório de Ornitologia e Bioacústica CatarinensePato do Mato