Aranhas podem ser recurso para estudo da evolução; pesquisa tem guia gratuito
O meio ao nosso redor é, muitas vezes, o melhor laboratório para aprender ciência. A constatação da pesquisadora Lígia Vanessa da Silva, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Biologia da Universidade Federal de Santa Catarina, levou-a a trabalhar com um instrumento que atrai a curiosidade dos estudantes de Ensino Médio e, de quebra, rende muito aprendizado. Na pesquisa Aranhas urbanas como recurso para estudos de evolução no ensino médio ela disponibiliza gratuitamente um guia prático, com material de apoio e roteiros didáticos para os professores adotarem o tema em sala de aula.
“A escolha pelas aranhas urbanas se deve ao fato de a maioria das escolas se encontrarem em áreas urbanas. As aranhas são um grupo muito abundante nestes espaços”, contextualiza Lígia, que lembra que o fator periculosidade atrai a curiosidade dos alunos e, assim, deixa as aulas mais interessantes. Mesmo no ensino remoto, com turmas afastadas da sala de aula, é possível promover atividades que levem os estudantes a fazerem a observação em suas casas.
De acordo com a pesquisadora, a observação e visualização de aranhas levam os alunos a perceberem o quanto esses animais estão presentes no dia-a-dia, o que possibilita que aprendam sobre a interação desses animais com o meio urbano e com as pessoas. “Ao visualizar as aranhas e tentar distingui-las umas das outras surgem diversas curiosidades, seja pelo formato da aranha, pelas características semelhantes umas com as outras, pelas diferentes teias e as que não tem teias. São fatores que podem ser entrelaçados com os conceitos de evolução, genética, filogenética, ecologia, etc”, destaca.
No material, a pesquisadora estimula a utilização do recurso como forma de captar o interesse dos estudantes. “Uma simples caminhada de observação de aranhas na escola e no seu entorno pode trazer um aprendizado enorme para o aluno e também uma mudança de paradigmas para o professor”, indica, no texto. Ela também apresenta detalhes sobre morfologia, sobre a teia e a classificação, tudo com imagens em detalhe. Já nas práticas pedagógicas, sugere atividades de observação dos animais na escola e no entorno; a utilização do personagem Homem Aranha, além de um roteiro sobre as teias.
“Quando os estudantes interagem e observam as aranhas é possível perder um pouco do medo que a maioria deles têm em relação a esses animais, o que é de extrema importância, porque só quando conhecemos uma espécie podemos falar em preservação, e muitas vezes isso rompe paradigmas”, diz. O conteúdo do guia prático sintetiza o assunto a partir de esquemas e fotos e pode ser utilizado sem o acesso à Internet. “Charles Darwin elaborou o fato da origem das espécies simplesmente observando o ambiente ao seu redor, para que exemplo melhor, não é? Se utilizar do meio que temos ao nosso redor é o melhor laboratório”, pondera a pesquisadora.
No último ano, antes mesmo de terminar de compor o guia, ela executou uma das atividades da prática pedagógica com os alunos, em suas casas. “Eles observaram e registraram as aranhas que encontraram. A partir da troca de registros realizados, como fotos das aranhas e tentativas de identificação entre os colegas, eles observaram a diversidade de aranhas encontradas no espaço onde vivem”. A pesquisadora reforça que essas observações geraram questionamentos e debates sobre o hábitat, a disponibilidade de alimento e nicho ocupado, a reprodução e etc. “É possível dar um novo significado aos digamos ‘pré-conceitos’ dos alunos sobre esses animais, o que torna a aprendizagem deles mais significativa”.