Pesquisadora da UFSC ganha prêmio nacional por estudo sobre transparência no jornalismo
Com uma pesquisa sobre a transparência e o seu papel no jornalismo, a dissertação da doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, Denise Becker, foi apontada como a melhor do Brasil na área pelo prêmio Adelmo Genro Filho, concedido pela Associação Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo. O estudo foi defendido em setembro de 2021, com o título Transparência como valor e prática: contribuições do Projeto Credibilidade para o jornalismo brasileiro, com orientação do professor Rogério Christofoletti, do Observatório da Ética Jornalística (Objethos).
Na pesquisa, Denise desenvolve a ideia de que a transparência jornalística é um valor fundamental para explicar o processo e a procedência da informação. “Isso requer uma disposição para abertura das organizações de notícias e de jornalistas”, pontua ela, que analisou três veículos de referência no Brasil – a Folha de São Paulo, o Poder 360 e O Povo. “São três redações de referência no Brasil, com estilos diferentes, mas que adotam os protocolos de transparência The Trust Project, Projeto Credibilidade. Esse foi o critério principal de seleção, essencialmente porque o Projeto Credibilidade, aqui no Brasil, é quem fornece a metodologia de trabalho e orientações sobre a adoção da transparência e indicadores de credibilidade”, explica.
De acordo com a pesquisadora, existe, atualmente, uma insatisfação generalizada com a mídia noticiosa, além de um cenário político polarizado e de um desapontamento com as instituições. Isso faz com que exista uma necessidade “real e urgente” para o jornalismo em construir confiança junto ao seu público. “Isso requer, entre outras questões que o estudo aborda, um protagonismo profissional maior para promover o conteúdo produzido por este profissional”, pontua Denise.
Ela ainda lembra que os jornalistas podem reduzir a desconfiança, a dúvida e a incerteza sobre as práticas jornalísticas e os acontecimentos, restabelecendo e fortalecendo sua credibilidade. Isso é possível, por exemplo, quando o profissional adota a postura de mostrar as suas práticas, métodos de trabalho, motivações e processos. Para isso, ela acredita que técnicas baseadas em indicadores de transparência possam atender a algumas necessidades para o exercício da atividade. “A transparência tem um tom desafiador da representação consensual do jornalismo, de suas competências, práticas e rotinas, além de confrontar valores e a ideologia profissional. Provoca uma ruptura a padrões já estabelecidos de que o jornalista deve se distanciar das notícias. Pelo contrário, desloca jornalistas de uma postura objetiva e imparcial para uma outra, mais aberta, participativa e de relacionamento com o público”, destaca.
A pesquisadora segue investigando a temática na tese que desenvolve no mesmo programa de pós-graduação. “A proposta para a tese é a mesma, foco na transparência como uma técnica jornalística, mas quero perguntar às audiências se adicionar elementos de transparência às notícias muda a percepção e o sentimento de confiança sobre o conteúdo”, pontua ela, que ainda está definindo a temática junto ao orientador, Rogério Christofoletti. Denise considera que, no caso da dissertação premiada, o impacto do trabalho para a prática profissional é um processo gradual. “Efetivamente, acredito que, num futuro próximo, a técnica da transparência e o emprego de seus elementos para dar visibilidade ao conteúdo noticioso será ensinada nas escolas de jornalismo e nas redações profissionais de forma ampla. No fim das contas, trata-se de uma postura de aprendizado e abertura para nós, jornalistas, tanto na academia quanto na lida diária das redações”.